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As amêndoas eram mortais. Mas mudaram (e já se sabe porquê)

Uma equipa de investigadores de Espanha, Suíça, Dinamarca e Itália encontrou a diferença genética entre as amêndoas silvestres amargas e as doces domesticadas.

No seu artigo publicado na revista Science, o grupo descreve como sequenciaram o genoma da amêndoa e compararam secções em variedades amargas e doces até encontrarem a sequência que era diferente.

As amêndoas ocupam um lugar na dieta humana há milhares de anos, antes mesmo de serem cultivadas e adoçadas. Passagens na Bíblia, por exemplo, observam o amargura da amêndoa.

A maioria das amêndoas produzidas hoje é naturalmente saborosa e segura para se comer. Naquela época, porém, muitas eram amargos e venenosos. Mesmo hoje, consumir 50 – ou menos – amêndoas amargas e selvagens pode matar um adulto e apenas um punhado contém cianeto suficiente para ser letal para uma criança.

Eventualmente, porém, a menção foi feita nos primeiros escritos de criadores gregos inserindo pedaços de pinheiro nos troncos de amendoeiras, resultando em frutas mais doces.  Acredita-se agora que isto stressou as árvores, impedindo-as de produzir amigdalina – a toxina responsável pelo sabor amargo. Nesse novo esforço, os cientistas procuraram descobrir as diferenças genéticas entre amêndoas amargas e doces.

O trabalho da equipa envolveu o sequenciamento do genoma da amêndoa e o estudo das diferenças entre as variedades para determinar que parte do genoma era responsável pela produção da amigdalina. Os investigadores acabaram por estudar e comparar as diferentes variedades ao longo de dois anos.

Eventualmente, encontraram o que estavam à procura: uma proteína chamada bHLH2. Descobriram que, em amendoeiras silvestres, o bHLH2 liga-se a dois genes, instigando a produção de amigdalina. Em variedades domésticas doces, existe uma mutação da bHLH2 que não consegue ligar-se aos genes, por isso, a produção de amigdalina não ocorre.

“Amêndoas silvestres são amargas e letais, mesmo em pequenas quantidades, por cause dessa amigdalina “, disse o co-autor do estudo, Stefano Pavan, professor de genética agrícola e melhoramento de plantas na Universidade de Bari, ao NPR.

Hoje, muitas pessoas nunca ouviram falar de amêndoas venenosas, muito menos de encontrar uma em estado selvagem – embora algumas pessoas ainda comam amêndoas amargas em pequenas doses. Na Tunísia, por exemplo, as pessoas ainda fazem xarope de orgeat com amêndoas amargas.

Produzir e vender amêndoas é um grande negócio. Estatísticas recentes mostram que apenas a Califórnia exportou aproximadamente 1.06 mil milhões de quilogramas no ano passado. Os cientistas acreditam que as suas descobertas ajudarão os produtores de amêndoas a tornarem-se mais eficientes.

Atualmente, a natureza às vezes interfere nos esforços de cultivo humano, permitindo que algumas amendoeiras cresçam com a versão selvagem de bHLH2 – mas os agricultores não são capazes de identificá-las até que produzam frutos. Agora, podem testá-las assim que surgirem para identificar aquelas que eventualmente produzirão amêndoas amargas.

ZAP //

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