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Alunos do 4º ano estão a ler pior

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Um estudo internacional sobre a literacia revela uma descida de 13 pontos no desempenho dos alunos portugueses do 4º ano de escolaridade. Portugal está, assim, no 30º lugar, num total de 50 países e regiões participantes.

Os alunos portugueses do 4º ano de escolaridade pioraram o desempenho na leitura. Ainda que sejam os que mais afirmam gostar de ler (72%) e ocupem o segundo lugar entre os que melhor empenho têm nas aulas (83%), o mesmo não aconteceu nos testes que aferiram a sua literacia em leitura.

Segundo o estudo internacional do Progress in International Reading Literacy Study (PIRLS), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que avalia a capacidade de leitura entre 2011 e 2016, Portugal desceu 13 pontos relativamente à avaliação anterior.

Esta avaliação analisa não só o saber ler como também a capacidade de refletir sobre o que se lê e a sua utilização no alcance de objetivos individuais e em sociedade. Entre os 50 países testados, Portugal surge em 30º lugar. Esta é a segunda maior queda registada em 2016. Só o Irão, com uma descida de 29 pontos, ultrapassa Portugal.

Segundo a Renascença, na apresentação das conclusões do estudo, o secretário de Estado da Educação disse que estes dados não agradam o Governo, mas que não surpreendem.

João Costa lembra que os alunos portugueses que em 2015 realizaram o PIRLS fazem parte do primeiro grupo a ser abrangido pelas metas curriculares definidas no mandato de Nuno Crato, e que foram muito criticadas pela Associação de Professores de Português.

Além disso, em 2015/2016, então no 4º ano de escolaridade, estes alunos foram surpreendidos com o fim dos exames nacionais, que estavam já a preparar.

O secretário de Estado da Educação garante, porém, que o ministério está a trabalhar para reverter a situação, através de atividades para promover a leitura e para ajudar as escolas a identificar as suas principais dificuldades.

Embora acredite na necessidade de mudanças, João Costa não defende alterações curriculares. “Isto significa a identificação do que é essencial no currículo. Não implica revogações nem alterações, implica sim concentrarmo-nos naquilo que é essencial para promovermos boas aprendizagens, aprendizagens efetivas”, explica.

Rosário Andorinha, presidente da Associação Nacional de Professores de Português (Anproport), afirma que estes resultados confirmam a necessidade de haver “uma mudança na formação de professores e nas didáticas e metodologias utilizadas.

De acordo com o Público, Rosário Andorinha considera que os alunos são muitas vezes sobrecarregados com conceitos e acabam por deixar de lado o que “é realmente importante: ler, compreender e escrever”.

Este estudo abrangeu mais de 4.500 alunos de 218 escolas e revelou que Portugal foi um dos três países a não registar diferenças entre rapazes e raparigas: as raparigas ficam apenas a dois pontos de diferença dos rapazes, quando em 2011 estavam a 14 de distância.

Em termos regionais, o Ave foi a região que obteve melhores resultados. O Baixo Alentejo e o Algarve estão entre as regiões que apresentaram resultados inferiores à media nacional.

A lista é liderada pela Rússia, seguida da Singapura e de Hong Kong. A fechar a tabela, surge a África do Sul, o país com piores resultados.

Nuno Crato rejeita críticas

Em declarações à Renascença, Nuno Crato admite que os resultados são negativos para Portugal, mas rejeita as críticas dirigidas ao seu Governo.

O antigo ministro defende que não podemos estar à espera que, depois de uma série de resultados muito positivos, obtidos em 2011 e 2015, que os resultados de 2016 tenham o mesmo significado que os anteriores.

“Em 2015, situámo-nos acima da média da OCDE e, em Matemática do quarto ano, à frente da Finlândia. Houve um progresso muito importante e gostava de saber se esse progresso é aplaudido ou não pelo Governo e pelos críticos”, argumenta.

Para além de rejeitar as críticas do Governo, assim como as da Associação de Professores de Português, o antigo ministro da Educação diz que o facilitismo não é o caminho e ressalva a questão da desvalorização da literatura portuguesa. “Insisti muito que os clássicos da literatura portuguesa deveriam ser conhecidos dos nossos jovens”, defende.

“O Governo não tem feito outra coisa senão dizer que quer reverter essas medidas e que a culpa é sempre dos outros, tudo o que corre mal foram os governos anteriores que fizeram”, afirma.

O ex-ministro da Educação afirma ser preciso “um pouco mais de modéstia” e que o caminho a seguir não deve ser o de mudar tudo o que foi feito, mas olhar para os resultados, tanto negativos como positivos, e “pensar no que se pode melhorar em vez de se destruir tudo”.

ZAP //

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