Alunos de colégios privados são os que mais recorrem aos bancos de manuais escolares

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(dr) cm-vnfamalicao.pt

Os alunos dos colégios privados tornaram-se nos principais utilizadores dos últimos bancos de livros, criados durante a crise económica, que têm desaparecido com o alargamento do programa estatal de distribuição gratuita de manuais, segundo os promotores da iniciativa.

O movimento pela reutilização nasceu no verão de 2011 e, em apenas quatro anos, surgiram mais de 300 bancos de livros em todo o país, noticiou esta segunda-feira o Expresso, citando a agência Lusa.

Mas são cada vez menos os que se mantêm ativos. Com o alargamento progressivo do projeto do Governo de gratuitidade dos manuais escolares, que começou em 2016 com os alunos do 1.º ano, os bancos de livros têm vindo a diminuir.

Mas há exceções: no centro de documentação do Edifício Central do Município, em Lisboa, o banco de livros continua a funcionar normalmente.

“Até agora recebemos cerca de 60 pedidos para o próximo ano letivo”, contou à Lusa a responsável pelo serviço, Teresa Pereira, explicando que a procura é feita essencialmente através do e-mail [email protected]. Os alunos dos colégios passaram a ser os principais utilizadores do banco, porque o programa estatal não incluiu o ensino privado.

Em setembro, o programa do Ministério da Educação vai chegar, pela primeira vez, a todos os alunos da rede pública. Serão cerca de 1,2 milhões de estudantes. Em Lisboa, esse alargamento já aconteceu porque a autarquia decidiu oferecer os manuais aos estudantes dos anos de escolaridade que ainda não estavam abrangidos.

No entanto, o trabalho do banco não acabou, garantiu Teresa Pereira. Além dos colégios, também os alunos das escolas públicas apareceram à procura de cadernos de atividades, dicionários e até de livros que fazem parte do Plano Nacional de Leitura. O serviço foi ainda procurado por quem tinha mudado de escola ou precisava de manuais novos, recordou.

Mas existem bancos que parecem ter sido esquecidos pela população: em Odivelas, o Projeto “Dá P´ra Aproveitar” está suspenso, contou à Lusa a responsável Isabel Teixeira. A funcionar na Biblioteca Municipal D. Dinis desde 2013, o programa teve um tempo em que os funcionários não tinham mãos a medir e as filas de pais e alunos eram intermináveis.

spies, emanuele spies / Flickr

No depósito da biblioteca ainda estão guardados muitos manuais prontos para serem usados, mas Isabel Teixeira garantiu que o serviço está parado. “Este ano não tivemos nem pedidos nem doações”, revelou.

Com o alargamento do programa estatal a procura foi reduzindo: primeiro desapareceram os pais dos alunos mais novos e, no ano passado, também os do 5.º e 6.º anos. Agora que o projeto chegou até ao 12.º ano, Isabel Teixeira imagina que não vá aparecer ninguém a bater-lhes à porta.

Além dos manuais serem emprestados pelo Governo, a responsável contOU que as famílias já se começaram a habituar a deixar os manuais nas escolas quando acabam as aulas. Também é nesse sentido o conselho do Ministério da Educação.

Mas estes hábitos não foram enraizados por todos. Na clínica “Veterinários Ericeira” ainda aparecem famílias a entregar manuais. “Este ano já vieram entregar, mas ainda ninguém veio levantar nada”, contou a veterinária Catarina Pereira. A procura por manuais tem vindo a diminuir e a responsável acredita que este ano a tendência se intensifique.

No entanto, a veterinária mantém o serviço a funcionar. No passado ano letivo ainda surgiram alunos que tinham perdido os livros ou que andavam à procura de manuais em melhor estado do que aqueles que tinham recebido. Apesar de suspeitar que o projeto está em vias de extinção, Catarina Pereira sente-se feliz, com a noção de missão cumprida.

O objetivo do “Movimento Reutilizar” era conseguir que os alunos tivessem acesso a manuais gratuitos e que não houvesse desperdício, recordou o fundador do movimento que apareceu no verão de 2011, Henrique Cunha.

Numa ronda por dezenas de bancos que ainda estão inscritos no site do Movimento Reutilizar, a Lusa encontrou muitos espaços já inativos ou em vias de acabar.

Um dos objetivos do projeto, levado a cabo por cidadãos anónimos, sempre foi passar a pasta ao Governo. Henrique Cunha lembrou que estes bancos devem ser os únicos no mundo que “nasceram com o objetivo de falir”.

TP, ZAP //

1 Comment

  1. No Verão de 2011 e com esta media de reutilização de manuais escoares, a qual o a dar frutos passado uns anos e eis que um iluminado político consegue que os manuais escolares passem a ser gratuitos até ao 12º ano. Foi a machadada da intenção em criar o hábito da reutilização. Mas afinal em que ficamos? Há que reutilizar para bem da economia e do ambiente, ou dá-se dinheiro de todos o portugas para que se comprem livros novinhos aos alunos até ao 12º ano? O que faz falta são políticas que sejam implementadas durante longo tempo e não foguetório que atrai votinhos.

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