Vários estudos apontam para a relação entre uma dieta equilibrada e uma boa saúde mental. Agora, investigadores consideram que aquilo que se come pode ser fundamental para prevenir o transtorno afetivo sazonal.
O inverno está mesmo à porta e cada vez escurece mais cedo – o que se torna um desafio para a nossa saúde mental. O transtorno afetivo sazonal (TAS) é um tipo de depressão caracterizado pela mudança de estação, o que significa que os sintomas podem durar cerca de quatro a cinco meses por ano.
Embora algumas pessoas o sintam na altura do verão, é um transtorno mais associado ao inverno, já que se pensa ter a ver com a relação entre os neurotransmissores, a luz solar e uma superprodução de melatonina.
Para o tratamento do TAS existem já fortes evidências que apoiam o uso de terapia de luz brilhante, terapia cognitivo-comportamental e a toma de um antidepressivo, chamado Wellbutrin XL. Mas, ultimamente, investigadores têm-se virado para uma potencial medida preventiva: a comida.
Um estudo publicado na BioMed Central, sobre o possível impacto terapêutico das mudanças dietéticas na depressão moderada a grave, indica que existe uma ligação robusta entre nutrição e saúde mental, não existindo, no entanto, um alimento único que consiga resolver o problema.
Michael Berk, coautor do artigo, considera que a dieta é uma estratégia útil para combater essas mudanças de humor, mas que “não há um superalimento nem um super-suplemento”, sendo esse um equívoco.
“A evidência não apoia isso. Trata-se de ter uma dieta saudável e completa, e tem tanto a ver com o que não se come, como com o que se come”, afirmou.
Smile, teste analisado no estudo, baseia-se numa dieta mediterrânea modificada com 12 grupos alimentares importantes, que incluem grãos inteiros, vegetais, peixe e azeite.
Além disso, há alimentos extra que se podem consumir, mas cujas quantidades são limitadas – as carnes processadas e bebidas açucaradas são restringidas a não mais do que três por semana e as bebidas alcoólicas não devem ultrapassar a duas medidas padrão de vinho por dia, por exemplo.
A dieta mediterrânea serviu de inspiração, tendo em conta que vários estudos anteriores sugerem que esta protege contra o desenvolvimento de sintomas depressivos em pessoas mais velhas.
“A chave é uma dieta saudável e integral, que evite alimentos processados e seja baseada em vegetais e frescos”, revela Berk.
No entanto, o investigador considera que uma dieta tradicional norueguesa ou japonesa “seria igualmente útil”, visto que ambas destacam os alimentos frescos, os vegetais e contêm muito pouco açúcar.
Kathleen Holton, professora na American University e neurocientista nutricional, disse ao Inverse que os vegetais têm múltiplos micronutrientes (como ácido fólio e vitamina C), o que faz com que sejam “muito úteis na prevenção da depressão”.
Além disso, “a ingestão de micronutrientes é essencial para a saúde mental” porque as vitaminas e os minerais são importantes na produção de neurotransmissores e a deficiência de micronutrientes, como a vitamina D e o magnésio, pode causar problemas de neurotransmissão e levar a doenças mentais, diz Holton.
Para a neurocientista, os alimentos ricos em magnésio – como sementes, nozes, salmão e trigo sarraceno – são “especialmente importantes para indivíduos que sofrem de transtornos de ansiedade”, sendo, portanto, “úteis no combate à saúde mental debilitada”.
Um artigo publicado na revista Frontiers in Psychology identificou apenas 11 estudos sobre a relação entre a dieta e a saúde mental e considerou não existirem evidências suficientes para recorrer a “suplementos de nutrientes” como única intervenção no tratamento da TAS.
Os investigadores consideram, no entanto, que a hipótese de que uma abordagem combinada – dieta equilibrada e outras formas de terapia – possa ser a solução.
Holton acrescenta, no entanto, que a ideia de que uma dieta vegan possa ajudar a ter uma boa saúde mental é um equívoco – vários dos nutrientes que se acredita contribuírem para a saúde mental, como a vitamina D3 e a B12, são encontrados apenas em alimentos de origem animal.
“Assim, uma dieta vegan pode até aumentar o risco de uma pessoa sofrer de doença mental devido às deficiências nutricionais que pode causar”, conclui.