Algo parecido com um crocodilo, anterior aos dinossauros, encontrado no Brasil

Matheus Fernandes

Um grande Prestosuchus chiniquensis a alimentar-se da carcaça de um dicinodonte enquanto alguns Parvosuchus aurelioi competem por restos

Um novo género e uma nova espécie de réptil gracilsuquídeo do período Triássico foram identificados a partir de fósseis encontrados na Formação Santa Maria, no Brasil.

Foi descoberto no Brasil um novo tipo de réptil, que aparenta ser algo entre uma mistura de um crocodilo com um dinossauro.

Batizada de Parvosuchus aurelioi, a nova espécie percorreu a Terra há cerca de 237 milhões de anos, no período Triássico — muito antes dos dinossauros — e partilhava o habitat com outras espécies de aparência de crocodilo, mas que chegavam a ter sete vezes o seu tamanho.

A descoberta foi descrita num artigo publicado esta sexta-feira na revista Scientific Reports.

O espécime tinha dentes em forma de punhal, adaptados para cortar carne, um corpo esguio e ágil, e um dorso revestido por escudos dérmicos, que deveriam formar uma carapaça.

“Antes do domínio dos dinossauros, os pseudosuquídeos eram uma forma comum de réptil quadrúpede antigo durante o período Triásico. Algumas espécies estavam entre os maiores carnívoros da época”, explica Rodrigo Müller, paleontólogo da Universidade Federal de Santa Maria e autor do estudo, citado pelo Sci News.

“Pseudosuquídeos menores, conhecidos como gracilisuquídeos, viviam ao lado destes predadores de topo e foram anteriormente encontrados em áreas como a China e a Argentina”, acrescenta o investigador.

“Estas criaturas eram caracterizadas por uma cabeça relativamente alargada com aberturas largas, dentes semelhantes aos dos carnívoros, membros delgados e uma postura quadrupedal”, detalha.

O esqueleto parcial de Parvosuchus aurelioi foi encontrado na Formação Santa Maria, nos municípios de Paraíso do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.

É composto por um crânio completo, incluindo a mandíbula inferior, 11 vértebras dorsais, uma pélvis e membros parcialmente preservados.

“O crânio do réptil mede 14,4 cm de comprimento e apresenta mandíbulas longas e delgadas com dentes pontiagudos que se curvam para trás e várias aberturas no crânio”, diz Rodrigo Müller. “O esqueleto tem uma constituição leve, e estima-se que tenha menos de 1 m de comprimento total”.

“Estas características classificam o Parvosuchus aurelioi como um gracilisuchídeo, o que o torna a primeira espécie deste grupo a ser confirmada no Brasil”, acrescenta o paleontólogo.

Müller chamou à nova espécie Parvosuchus aurelioi, nome que deriva de “parvus” (pequeno, em latim) e “suchus” (crocodilo). Aurelioi é um tributo ao médico e  paleontólogo amador Pedro Lucas Porcela Aurélio, que há cinco anos descobriu os fósseis.

Atualmente com 66 anos, Pedro Aurélio conta à BBC que é um paleontólogo amador desde os tempos de faculdade. “Quando iniciei o curso de medicina na Universidade Federal de Santa Mar, passei a acompanhar alguns alunos do curso de biologia”, explica o paleontólogo amador.

“Com o tempo, tornou-se habitual sair com paleontólogos em busca de achados, sendo comum neste campo que os cientistas aceitem esse tipo de ajuda de entusiastas voluntários“, acrescenta.

E foi numa dessas saídas de campo que Pedro Aurélio encontrou a rocha onde se encontrava cravado o fóssil — que guardou durante anos. Recentemente, percebeu que o fóssil poderia ter interesse científico, e doou-o à UFSM.

Armando Batista, ZAP //

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