É alérgico a ovos? A estes não

A alergia ao ovo é uma das mais comuns, nomeadamente entre crianças. Recentemente, uma equipa de cientistas desenvolveu, através de modificação genética, o OVM-knockout, um ovo que pode ser seguro para quem sofre de alergias.

A alergia ao ovo é causada por uma reação exagerada do sistema imunitário à proteína ovomucoide (OVM).

Os sintomas variam de pessoa para pessoa, mas costumam incluir inflamação da pele ou urticária, congestão nasal, corrimento nasal e espirros, cólicas, náuseas e vómitos e dificuldade em respirar. O pior cenário é a anafilaxia, uma reação alérgica grave que requer tratamento médico imediato.

Quem sofre com este problema, deve ter bastante cuidado com a sua alimentação. No entanto, a Ciência mostrou que esta alergia pode mesmo ter os dias contados.

Recentemente, uma equipa de investigadores da Universidade de Hiroshima, no Japão, usou a tecnologia de edição do genoma TALENs para desenvolver um ovo de galinha que não contém a proteína ovomucoide (OVM), que representa cerca de 11% de todas as proteínas encontradas na clara do ovo.

O procedimento é muito semelhante ao CRISPR, mas ainda mais preciso e específico. Nesta técnica, as enzimas artificiais têm como missão cortar o ADN numa sequência específica e editar o código genético de acordo com os marcadores definidos.

Para desenvolver os ovos sem OVM, os investigadores tiveram de detetar e eliminar a proteína nas claras dos ovos. Foi exatamente por isso que a equipa concebeu a TALENs, para eliminar uma parte de ARN do ovo, chamado exão 1, que codifica proteínas específicas.

Os ovos produzidos a partir desta técnica foram testados para garantir que não continham a proteína ovomucoide, a proteína ovomucoide mutante ou outros efeitos fora do alvo. Verificou-se que os ovos não apresentavam anomalias e não continham vestígios de OVM ou de variantes mutantes da proteína.

Embora a sequenciação do genoma completo dos ovos alterados tenha revelado mutações, sugerindo efeitos fora do alvo, estas não afetaram as regiões codificadoras de proteínas.

Os resultados são muito animadores, já que provam que estes ovos geneticamente modificados “resolvem o problema da alergia nos alimentos e nas vacinas”, afirmou Ryo Ezaki, principal autor do estudo, citado pelo New Atlas. É de salientar que, além dos inúmeros alimentos que contêm este alimento, também a maioria das vacinas contra a gripe é produzida com tecnologia à base de ovos.

“A próxima fase da investigação consistirá em avaliar as propriedades físicas e a adequação do processamento dos ovos sem OVM e em confirmar a sua eficácia através de ensaios clínicos”, adiantou Ezaki. “Continuaremos a realizar mais pesquisas para a aplicação prática.”

O estudo que detalha o perfil de segurança alimentar deste ovo modificado, chamado de OVM-knockout, foi detalhado num artigo científico publicado na Food and Chemical Toxicology, em abril.

Liliana Malainho, ZAP //

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