Há “pais em pânico”. Ainda se morre de asma em Portugal (mas já há ferramenta digital para a controlar)

Médica de óculos e de máscara analisa criança com asma.

Assinala-se, nesta terça-feira, o Dia Mundial da Asma e ainda há gente a morrer com esta doença em Portugal. Para os pais com filhos asmáticos, os tempos são de “pânico” com a ruptura de medicamentos, mas investigadores do Porto criaram uma ferramenta digital “inovadora” para o controlo diário da asma.

mais de 700 mil asmáticos em Portugal e cerca de um quarto têm menos de 18 anos.

Os números são divulgados no Dia Mundial da Asma e o presidente da Associação Portuguesa de Asmáticos (APA), Mário Morais de Almeida, lamenta que o número de pessoas com esta condição tem vindo a aumentar no nosso país, sobretudo entre os mais novos.

“Em cada ano, em cada mês, são sempre mais crianças que vão sendo diagnosticadas com asma“, salienta Mário Morais de Almeida em declarações à Rádio Renascença (RR).

O líder da APA também recorda que “ainda se morre de asma em Portugal”, embora “numa percentagem pequena”. “Em alguns casos, ainda afecta pessoas jovens, há adultos jovens que morrem por asma, algo que não deveria acontecer”, salienta Mário Morais de Almeida.

Este responsável lamenta que há um problema de diagnóstico. “Pelo menos metade dos asmáticos de todos os grupos etários não estão controlados e isto significa que não passam bem durante o dia, não passam bem durante a noite”, nota à RR.

Além disso, “falta também uma abordagem em termos de controlo”, diz, frisando que é preciso tratar “a asma evitando a exposição ao tabaco, evitando a exposição aos alegérnios, promovendo a prática de exercício físico, tendo uma boa dieta e depois também se trata com medicamentos, mas é muito mais do que só medicamentos”, reforça.

“Tenho recebido telefonemas de pais em pânico”

E quanto aos medicamentos, alguns doentes têm tido dificuldades em comprar inaladores de fluticasona que são usados para controlar a asma infantil.

“Nas últimas duas a três semanas, tenho recebido diariamente telefonemas de pais em pânico“, diz à RR a presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), Ana Cristina Morete, referindo-se às “rupturas de stocks nas farmácias”.

Ana Cristina Morete repara que “43% da população portuguesa com asma não tem a doença controlada e, nesse universo, 88% acham que está controlada”. E esse é outro problema associado à doença.

Além disso, há, por vezes, alguma confusão entre os sintomas da asma – falta de ar, aperto no peito, cansaço, tosse e pieira – e outros problemas menos graves.

“Há doentes com sintomas ligeiros, que procuram os médicos e fazem medicação, há outros doentes com sintomatologia muito mais intensa, que nem sequer lhes dá um impulso para procurar ajuda médica”, analisa a presidente da SPAIC.

“Depois, também temos o contrário: doentes que utilizam a medicação de alívio por sintomas que, se calhar, não são justificados, que têm um excesso de procura de serviços de urgência“, acrescenta esta profissional.

Investigadores do Porto criam ferramenta digital para controlar asma

Na luta contra a asma, investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) desenvolveram e validaram uma nova ferramenta digital para o controlo diário da asma, permitindo melhorar a monitorização e gestão da doença pelos pacientes.

“O biomarcador digital e-DASTHMA poderá ser um importante auxílio não só no acompanhamento de pacientes com asma não controlada, como também na tomada de decisão partilhada e, futuramente, na geração de alertas diários para pacientes ou médicos”, nota um comunicado da FMUP.

A investigação, publicada na revista The Lancet Digital Health e também liderada pelo Centro Hospitalar Universitário Charité (Alemanha), recorreu a dados do “mundo real” através de uma aplicação móvel gratuita de doenças respiratórias, intitulada MASK-air.

“Os investigadores analisaram o equivalente a 135 mil dias de mais de 1.500 pacientes com rinite alérgica e asma”, esclarece a Faculdade.

O trabalho, que reuniu investigadores oriundos de mais de 10 nacionalidades, comprovou que o novo método electrónico pode também ajudar na estratificação dos pacientes para a selecção de medicamentos biológicos, aplicação em ensaios clínicos ou estudos observacionais.

Citado no comunicado, o primeiro autor do estudo, Bernardo Sousa Pinto, esclarece que este tipo de ferramentas “possibilita uma prestação de cuidados de saúde mais personalizada, permitindo identificar os casos que requerem cuidados médicos de maior proximidade, bem como orientar o tratamento atendendo ao seu perfil de controle e adesão”.

Actualmente, são utilizados questionários que permitem avaliar a evolução dos sintomas por períodos de uma ou mais semanas no controlo da asma.

“Se a esses questionários acrescentarmos este tipo de dados de informações diárias, estamos a contribuir para melhorar o controlo da asma neste grupo de doentes”, afirma Bernardo Sousa Pinto.

O professor da FMUP e investigador do CINTESIS acrescenta ainda que a ferramenta desenvolvida é “inovadora” porque, ao contrário de outro tipo de questionários, “tem em conta, simultaneamente, os sintomas e o uso de medicação”

No artigo, os investigadores referem que o novo método de medição é ainda “capaz de evitar os vieses de memória associados a avaliações de longo prazo”, o que permitirá uma “melhor identificação” da ocorrência de exacerbações da asma.

Este novo método, baseado em biomarcadores digitais, é também comparado pelos investigadores à abordagem adoptada na prática clínica para a monitorização da diabetes, na qual a hemoglobina glicada é usada para o controlo a longo prazo e a glicemia para a avaliação diária.

ZAP // Lusa

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