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Levar água do norte para o sul. A solução para salvar os citrinos do Algarve

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A maior associação portuguesa de operadores de citrinos, a AlgarOrange, quer um debate nacional sobre a estratégia para enfrentar a falta de água no país, nomeadamente no Algarve, e propõe levar água do norte para o sul.

Esse debate fundamental deve ser liderado pelo Governo para mitigar o problema crescente da falta de água, defende o presidente da AlgarOrange (Associação de Operadores de Citrinos do Algarve).

O responsável da associação que reúne 40% dos operadores do Algarve considera que estão a ser dados passos positivos, como a construção de uma dessalinizadora em Albufeira e “a bombagem do Pomarão para as barragens do Sotavento” algarvio.

Mas “não podemos pôr de lado a possibilidade de termos mais água, e isso passa por, estrategicamente, ser discutido o problema da água no Sul do país“, insiste o dirigente associativo.

“Há empresários que podem colapsar”

José Oliveira nota, em declarações à Lusa, que é necessário saber se um aumento da produção de água “é ou não viável”, “se há dinheiro” e, acima de tudo, “se há vontade política ou não há vontade política para resolver este problema”.

“Aquilo que não se pode deixar são os empresários na incerteza do amanhã”, realça, alertando para a existência de pomares com “30, 40 ou 50 hectares que já estão a ter” problemas.

Há empresários que, “de um momento para o outro, podem colapsar“, e “muitos dos operadores que vivem da comercialização da laranja, se a produção falhar, também vão falhar”, alerta ainda José Oliveira.

Por isso é tão importante discutir esta realidade “como um desígnio nacional“, para “saber qual é o caminho que vamos trilhar”, acrescenta.

48% de Portugal em seca severa a extrema

Portugal tinha, em Agosto findo, 48% do território em situação de seca severa a extrema, contra 100% no ano passado, nesta época do ano.

O anúncio foi feito pelo ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro, que salientou que a situação mais grave verificava-se no Sul do país: na região litoral do Alentejo e no Algarve.

José Oliveira reconhece que tem de haver uma melhor gestão, fazer-se fiscalização e monitorizar a forma como se está a utilizar água.

“Havendo pouco, as restrições têm que ser [aplicadas] em todos os sectores” e, “naturalmente que na agricultura também”, afirma.

O responsável lamenta, no entanto, que a maioria das captações subterrâneas não tenham “controlo nem monitorização”. Assim, defende a implementação de uma monitorização para “efectivamente controlar também a redução” do consumo.

Os operadores de citrinos pensam que no futuro não se devia apenas melhorar a gestão e aumentar a eficiência, mas também aumentar a captação de água, concordando com a realização dos estudos para a eventual construção de uma nova barragem na Foupana, no sotavento (leste) algarvio e novos açudes na região.

Levar água do norte para o sul pode ser solução

O presidente da AlgarOrange também dá o exemplo de Espanha, para avançar com a possibilidade de se fazerem transvazes de água do Norte para o Sul do país.

“Porque, efectivamente, a nível nacional não há problemas” e, neste ano, até “temos uma melhor situação do que em anos anteriores, mas isso é na parte Norte do país”, realça José Oliveira.

Na parte Sul do país não existe [água] e não seríamos os primeiros a pensar em levar […] a captação de água vinda de regiões onde ela existe para regiões onde não existe”, constata.

José Oliveira diz que essa possibilidade “deve ser posta em cima da mesa”, defendendo que se deve assumir que a “água é um problema nacional”.

“Aqui em baixo, das duas uma, ou temos água ou não vamos ter água. Se não vamos ter água, a agricultura será um dos sectores que vai sofrer brutalmente“, conclui.

O dirigente sublinha que a passada campanha de citrinos “foi má” e já “teve problemas”, manifestando-se preocupado com a próxima campanha.

“Estamos seriamente preocupados, muito preocupados, porque os indicadores que temos são de problemas diários a nível das captações”, refere, acrescentando que “a produção vai ser menor e com grande possibilidade de haver árvores a secar“.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Comecem a falar nisso agora. Se a conversa do aeroporto dura há mais de 20 anos, Daqui a uns cinquenta, pode ser que os parasitas da politica, decidam fazer esses transvases.

  2. Os transvazes, só por si, não resolvem o problema (e se calhar criam outros). No Sul devia-se investir menos em citrinos, abacates e outras culturas que exigem muita água e voltar às culturas de sequeiro. Além disso, parece-me claro que é necessário reciclar e reaproveitar as águas tratadas para regas e lavagens.

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