Água da barragem já não chega para arrefecer reatores da central nuclear de Zaporizhia

O nível do reservatório de água da barragem de Kakhovka, no sul da Ucrânia, já não é suficiente para arrefecer os reatores da central nuclear de Zaporizhia, anunciou hoje a operadora daquela estrutura.

O nível da água, “abaixo do limite crítico de 12,7 metros“, já não é suficiente para abastecer “as bacias da central nuclear de Zaporijia” para as operações de arrefecimento, explicou responsável da operadora ucraniana Ukrhydroenergo Igor Syrota.

A destruição da barragem de Kakhovka, cuja responsabilidade é negada por Moscovo e Kiev, inundou cidades e aldeias em ambas as margens do rio, incluindo partes da capital regional, Kherson, que foi hoje atacada pelo exército russo.

A destruição desta barragem desencadeou uma queda abrupta de torrentes de água no caudal do rio Dniepre, obrigando vários milhares de pessoas a abandonar as zonas inundadas e fazendo temer uma catástrofe ecológica.

Construída em 1956, nos tempos da URSS, situa-se ao longo do rio Dnipro, e a sua destruição é já considerado o maior desastre na Europa em décadas.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, instou hoje os países da Aliança a prestarem “rapidamente” apoio às vítimas das inundações na Ucrânia, durante uma reunião com o chefe da diplomacia ucraniana.

O governante ucraniano, Dmytro Kuleba, falou por videoconferência com os embaixadores dos 31 países da NATO durante uma reunião da Comissão NATO-Ucrânia convocada a seu pedido.

Kuleba informou os aliados sobre a destruição da barragem, no sul do país, e explicou as necessidades de ajuda às vítimas, de acordo com um relatório da reunião presidida por Jens Stoltenberg.

Os aliados manifestaram a sua “forte solidariedade” para com a Ucrânia, com muitos já a fornecer materiais de primeiros socorros, além de filtros de água, bombas, geradores e equipamento para abrigos, anunciou a NATO.

OMS adverte para risco de surto de cólera

A técnica oficial do Programa de Emergências Sanitárias da Organização Mundial de Saúde (OMS), Teresa Zakaria, alertou hoje para o risco de cólera nas zonas afetadas pela destruição da barragem de Kakhovka, na região de Kherson, na Ucrânia.

“Não registámos nenhum caso de cólera em seres humanos desde o início da invasão da Ucrânia. Dito isto, as amostras ambientais mostram que o agente patogénico existe”, alertou Zakaria numa conferência de imprensa em Genebra, na Suíça, acrescentando que “se trata de um risco“.

A técnica acrescentou que “a qualquer momento” podem começar a ser detetados casos e sublinhou a importância de dispor de vacinas para prevenir a doença.

“Temos trabalhado em estreita colaboração com o Ministério da Saúde ucraniano para garantir a existência de mecanismos que permitam a importação de vacinas logo que sejam necessárias”, afirmou.

“As atividades estão em curso, sabendo que o risco de cólera está presente e com as inundações causadas pelos danos na barragem”, insistiu, salientando que a vigilância epidemiológica das doenças transmitidas pela água foi intensificada.

Teresa Zakaria disse que a OMS está “a tentar abordar um vasto leque de riscos para a saúde associados às inundações, desde lesões a afogamentos, doenças transmitidas pela água e as potenciais consequências da interrupção de tratamentos crónicos”.

A OMS diz que está a monitorizar “todos os riscos” associados à rutura da barragem e assegurou que “os fornecimentos estão a ser mobilizados para garantir a prestação dos melhores cuidados possíveis”, disse.

Zakaria advertiu que o “impacto total” da destruição da barragem, não só em termos de inundações, mas também em termos de cessação do abastecimento de água potável, está a ser considerado.

“Creio que estamos perante uma população potencialmente afetada bastante numerosa. A barragem serve uma população de cerca de 700.000 pessoas. A jusante, há mais de 30 localidades que estão em risco de inundação. Penso que a informação exata e a extensão exata do impacto ainda estão por ver”, argumentou.

Segundo recordou, os números de momento indicam que “inicialmente” 16 mil pessoas estão em risco imediato de inundação nas margens do rio e milhares foram retiradas, embora tenha reconhecido que “este número só pode crescer”.

“Penso que é difícil e seria imprudente citar um único número neste momento, especialmente porque ainda não vimos toda a extensão dos danos”, insistiu, reiterando o “caráter multidisciplinar” do que ocorreu.

Segundo a perita da OMS, “há as populações que correm o risco de inundações e as que correm o risco de interrupção da água potável. E depois há uma população ainda maior que corre o risco de ter menos acesso a alimentos nos próximos meses, à medida que as terras agrícolas se tornam completamente inoperacionais”.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que a OMS irá fornecer nos próximos dias fornecimentos adicionais para reforçar o acesso aos serviços de saúde.

A destruição da barragem provocou uma devastação generalizada e sofrimento humano, causando inundações graves, deslocação de comunidades e danos significativos nas infraestruturas e no ambiente”, afirmou o diretor-geral, que apelou “a que não se subestime o impacto no abastecimento de água, nos sistemas de saneamento e nos serviços de saúde pública na região”.

ZAP // Lusa

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