Agências humanitárias falham na assistência a idosos, revela relatório

As agências humanitárias têm falhado na ajuda aos idosos, que estão a ser “sistematicamente reprovados”, deixando-os incapazes de ter acesso a comida suficiente ou a medicamentos, revelou uma pesquisa divulgada na quinta-feira.

Entrevistas realizadas a quase 9.000 idosos afetados por desastres naturais, conflitos ou crises socioeconómicas em 11 países, incluindo o Iémen, o Sudão do Sul e a Venezuela, revelaram uma abordagem de ajuda que exclui os idosos, de acordo com um relatório conjunto publicado na quinta-feira pela HelpAge International e pela Age International.

Como noticiou o Guardian, a covid-19 veio piorar a situação já frágil dos idosos, que vivem em condições precárias. As conclusões do relatório “mostram como o sistema humanitário está sistematicamente a prejudicar os idosos no que toca à negligência”, disse o co-autor do relatório, Ken Bluestone, diretor de política da Age International.

“Não há desculpa para a negligência, e deveríamos estar a fazer melhor. Como a covid-19 mostrou, agora mais do que nunca é a hora de consertar”, afirmou.

Os resultados mostraram que 98% dos entrevistados com mais de 50 anos ​​tinham uma condição médica e que desses, 26% não conseguiam ter acesso a serviços de saúde. Além disso, 39% não conseguiram ajuda nos pontos de distribuição, 64% não tinham comida suficiente e 77% não tinham receita.

Ao invés de analisarem a situação dos idosos, as agências baseiam-se no pressuposto de que estes vivem com as famílias, quando na verdade 20% vivem sozinhos. A maioria dos entrevistados (77%) não foi questionada sobre os serviços prestados.

O relatório revelou ainda que as mulheres encontram-se normalmente em pior situação do que os homens, com 58% das pessoas a viverem sozinhas, sem receita ou acesso à alimentação, e 56% sem acesso à saúde.

Embora alguns esforços estejam a ser feitos para apoiar a terceira idade, o relatório referiu: “Os idosos continuam a passar por um sofrimento imenso e os seus direitos e necessidades permanecem esquecidos na resposta humanitária. Tem havido uma falha clara na implementação total dos padrões, estruturas, políticas e diretrizes que existem para proteger e promover os direitos dos idosos”.

Marck Chikanza, da Rede Nacional de Envelhecimento do Zimbábue, disse que cerca de 540 mil idosos no país precisam de ajuda humanitária. “É muito mais fácil conseguir financiamento para crianças e pessoas com deficiência, pois o financiamento para os idosos é agrupado no financiamento para pessoas vulneráveis ​​em geral”, explicou.

“Muitos idosos perderam os seus filhos e netos no ciclone Idai. Isso também aumenta a sua vulnerabilidade a longo prazo, pois esperavam que os filhos e netos cuidassem deles na velhice. No momento, estamos a procurar formas de obter fundos para órfãos, já que 60% dos órfãos são cuidados pelos avós, mas estes não recebem nenhum apoio”, sublinhou.

Na Venezuela, onde uma crise prolongada levou a uma grave escassez de alimentos, água e combustível, 89% dos 2,1 milhões de pessoas com mais de 64 anos vivem abaixo do limiar da pobreza, disse a diretora da HelpAge International, Ingrid Kuhfeldt.

“Muitos agentes humanitários acham que os idosos beneficiam de programas humanitários genéricos mas, na realidade, são deixados de fora”, esclareceu, acrescentando: “Os idosos não são vistos como um grupo relevante na Venezuela, mesmo dentro das próprias comunidades e famílias”.

Estima-se que o número de pessoas com 50 ou mais anos que vivem em países onde é provável que ocorram emergências aumente de 220 milhões para 586 milhões, em 2050.

“As agências de ajuda devem incluir os idosos nas consultas: as suas vidas são importantes e a contribuição que os idosos podem dar nas suas comunidades durante uma emergência, melhorando a vida de todos, não deve ser esquecida”, disse Ken Bluestone.

ZAP //

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