Mais vale tarde do que nunca. O Governo criou, finalmente, esta quinta-feira, o comissariado para as comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões. O programa apenas deverá ficar pronto “em cima” do 10 de junho.
Depois da notícia de que Portugal tinha voltado a esquecer Camões, como havia acontecido em vida, o Governo criou o comissariado consultivo encarregado de definir até maio o programa para as comemorações dos 500 anos do nascimento do poeta a cumprir durante um ano, a partir de 10 de junho de 2024.
A criação do comissariado consultivo tinha sido determinada em maio de 2021, por resolução do Conselho de Ministros, tendo por missão a definição desse programa até final de 2022, mas tal não aconteceu.
O despacho que cria agora o comissariado para as “Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões” prevê que a proposta de programa “deverá ser apresentada ao Governo até 20 de maio” próximo, com o início das comemorações a ter início em 10 de junho, 21 dias mais tarde, prolongando-se por um ano até ao 10 de junho seguinte, Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades de 2025.
Ou seja, quase um ano e meio depois do previsto com o programa a ficar pronto “à última hora” – como diz o português correr de Camões.
Celebrações deveriam começar em março
No passado dia 20, em entrevista à agência Lusa, a professora catedrática da Universidade de Coimbra, Rita Marnoto, comissária designada para preparar o programa das comemorações, em coordenação com as estruturas previstas, disse nada existir além da intenção do Governo de assinalar a data.
A resolução do Conselho de Ministros de 2021, que determinou a realização das comemorações, nomeou a comissária e estabeleceu a criação de uma Comissão de Honra pelo Presidente da República, do comissariado agora criado por despacho dos ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Cultura, e ainda a criação de uma estrutura de missão.
O mesmo diploma definia que o programa deveria ser concluído e proposto ao Governo até ao final de 2022, e que as comemorações decorreriam entre 12 de março de 2024 e 10 de junho de 2025.
No entanto, a catedrática Rita Marnoto, especialista em Literatura, disse então à Lusa que nenhuma medida tinha sido tomada para a criação dessas estruturas, até essa altura, condição necessária para o desenvolvimento do projeto e do programa.
“Estou na expectativa de que sejam designadas as duas comissões e a estrutura de missão”, disse Rita Marnoto à Lusa, na semana passada. “A criação das duas comissões e da estrutura de missão são condição para que a comissária possa começar a trabalhar, a fazer os seus projetos, a fazer a programação”.
E as comissões, finalmente, chegaram
Segundo o despacho assinado, esta quinta-feira, o comissariado é composto por representantes do Camões Instituto, nomeadamente pelo investigador Joaquim Coelho Ramos e a diretora de Serviços Culturais, Cristina Caetano; da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), pela diretora, Inês Cordeiro, e pela subdiretora-geral, Margarida Lopes; da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), através do subdiretor-geral Bruno Eiras; e pelo diretor-geral das Artes, Américo Rodrigues.
O Camões – Instituto de Cooperação e da Língua será a “entidade responsável pela coordenação da dimensão externa do programa”, a BNP terá “a coordenação da dimensão interna”, a DGLAB, “a coordenação da dimensão do livro, das bibliotecas e da leitura”, e a Direção-Geral das Artes coordenará “a dimensão artística do programa”, como se lê no comunicado do Ministério da Cultura.
A resolução de 2021 do Conselho de Ministros sublinhava a importância das comemorações do quinto centenário do nascimento de Luís Vaz de Camões (1524-1580), considerando-a “uma oportunidade única” para pensar o legado de “um dos maiores vultos da literatura universal […], reconhecido como fundador de uma ideia de universalidade que hoje nos surge como revolucionária na escrita, na vocação e no pensamento.”
ZAP // Lusa