Astrobiólogos sugerem que a Terra pode ter consciência própria

Se um planeta como a Terra pode estar “vivo”, será que também pode ter uma consciência própria? Um grupo de investigadores responde a essa questão.

As plantas, por exemplo, “inventaram” uma forma de se submeterem à fotossíntese para melhorar a sua própria sobrevivência mas, ao fazê-lo, libertaram oxigénio que mudou toda a função do nosso planeta.

Este é apenas um exemplo de formas de vida individuais que desempenham as suas próprias tarefas, mas que têm, em conjunto, um impacto à escala planetária.

Se a atividade coletiva da vida conhecida como biosfera pode mudar o mundo, poderá a atividade coletiva da cognição, e a ação baseada nessa cognição, também mudar um planeta?

Uma vez que a biosfera evoluiu, a Terra assumiu uma vida própria. Se um planeta com vida tem uma vida própria, poderá também ter uma mente própria?

Uma equipa de investigadores da Universidade de Rochester, nos EUA, liderada pelo professor de Física e Astronomia Adam Frank, realizou recentemente um estudo para explorar essa posssibilidade.

No estudo, cujos resultados foram apresentados num artigo publicado no International Journal of Astrobiology, os autores apresentam a ideia de “inteligência planetária“, que descreve o conhecimento e a cognição coletiva de um planeta inteiro.

Embora o cenário pareça saído de um filme da Marvel, os investigadores acreditam que o conceito pode ajudar-nos a lidar com questões globais como as alterações climáticas, ou mesmo, diz a Phys Org, a descobrir a vida extraterrestre.

Os investigadores partem de ideias como a hipótese Gaia — que propõe que a biosfera interage fortemente com os sistemas geológicos não vivos do ar, água e terra para manter o estado habitável da Terra.

Segundo os autores do estudo, mesmo uma espécie não capaz tecnologicamente pode mostrar inteligência planetária. O fator chave é a “atividade coletiva da vida”, que cria um sistema auto-sustentável.

Os investigadores propõem quatro fases do passado e do futuro possível da Terra, para ilustrar como a inteligência planetária pode desempenhar um papel a longo prazo na humanidade.

Estas fases de evolução, dizem os autores do estudo, são “impulsionadas pela inteligência planetária”, e  podem ser uma característica de qualquer planeta em que haja vida a evoluir — e uma civilização tecnológica sustentável.

A Fase 1 é a biosfera imatura — característica da Terra muito precoce, há milhares de milhões de anos atrás e antes de uma espécie tecnológica, quando os micróbios estavam presentes mas a vegetação ainda não tinha surgido.

Nesta fase, a vida não pode exercer forças na atmosfera terrestre, hidrosfera, e outros sistemas planetários.

A Fase 2 é a biosfera madura — característica da Terra também antes de uma espécie tecnológica, há cerca de 2,5 mil milhões a 540 milhões de anos.

Formam-se continentes estáveis, desenvolve-se vegetação e fotossíntese, constroi-se oxigénio na atmosfera, e surge a camada de ozono. A biosfera exerceu uma forte influência sobre a Terra, talvez ajudando a manter a habitabilidade da Terra.

A Fase 3 é a tecnoesfera imatura — característica da Terra atual, com sistemas interligados de comunicação, transporte, tecnologia, eletricidade, e computadores.

A tecnoesfera ainda é imatura, contudo, porque não está integrada com sistemas terrestres, tais como a atmosfera.

Em vez disso, atrai matéria e energia dos sistemas terrestres de formas que a conduzirão para um novo estado, que provavelmente não inclui a própria tecnoesfera. A nossa tecnoesfera atual está, a longo prazo, a trabalhar contra si própria.

A Fase 4 é a tecnoesfera amadurecida — na qual a Terra deve procurar estar no futuro, com sistemas tecnológicos que beneficiam todo o planeta, incluindo a captação global de energia com fontes renováveis, que não prejudiquem a biosfera.

A tecnoesfera madura é aquela que se envolveu com a biosfera, de forma a permitir tanto à tecnoesfera como à biosfera prosperar.

A equipa de investigação evidencia que as redes subterrâneas de fungos podem comunicar (uma ideia já avançada em 2014 por Paul Stamets — o cientista britânico, não o personagem de “Star Trek — Discovery” que lhe tomou o nome em 2017), sugerindo que redes de vida em grande escala poderiam formar uma vasta inteligência invisível, que altera profundamente a condição de todo o planeta.

Uma das principais espécies que impulsiona essa mudança segundo o estudo, são os seres humanos — e atualmente, do clima à crise do plástico, podemos muito bem estar a alterar irrevogavelmente o equilíbrio ambiental.

“Ainda não temos a capacidade de responder comunitariamente no melhor interesse do planeta”, afirmou Adam Frank, professor de física na Universidade de Rochester e co-autor do estudo, num comunicado de imprensa.

Os investigadores acreditam que tentar compreender esta possibilidade pode ajudar os seres humanos a entender o seu impacto na Terra e servir de guia sobre como o melhorar. Curiosamente, a equipa também acredita que pode ajudar na procura por  extraterrestres.

“Estamos a dizer que as únicas civilizações tecnológicas que podemos ver — as que deveríamos esperar ver — são as que não se mataram, o que significa que devem ter atingido o estado de uma verdadeira inteligência planetária“, sublinhou Frank.

“Este é o poder desta linha de raciocínio”, acrescentou. “Ela une o que precisamos de saber para sobreviver à crise climática com o que pode acontecer em qualquer planeta onde a vida e a inteligência evoluem”.

Alice Carqueja, ZAP //

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