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Plantas comunicam entre si com “Internet de fungos” tipo Avatar

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Twentieth Century Fox

No filme Avatar, vários organismos conseguem comunicar e partilhar recursos graças a uma espécie de ligação eletro-química entre as raízes das árvores

No filme Avatar, vários organismos conseguem comunicar e partilhar recursos graças a uma espécie de ligação eletro-química entre as raízes das árvores

Uma super-autoestrada de informação, que coloca em contacto uma grande população de indivíduos diversos e dispersos e que facilita a comunicação e colaboração entre os indivíduos, mas também abre caminho a que crimes sejam cometidos. É a Internet?

Parece uma descrição da Internet, mas estamos a falar de fungos.

Os fungos – sejam eles cogumelos ou não – são formados por um emaranhado de pequenos filamentos conhecidos como micélio. O solo está cheio desta rede de micélios, que “liga” plantas diferentes no mesmo terreno.

Cientistas estão agora a estudar a forma como as plantas usam essa rede de micélios para trocar nutrientes e até mesmo para “comunicar” entre si.

Em alguns casos, as plantas formam até mesmo uma união para “sabotar” outras espécies invasoras de plantas, liberando toxinas na rede.

Cerca de 90% das plantas terrestres têm uma relação simbiótica com fungos, chamada micorriza.

Com esta simbiose, as plantas recebem hidratos de carbono, fósforo e azoto dos fungos, que também as ajudam a extrair água do solo.

Esse processo é importante no desenvolvimento das plantas.

Nigel Cattlin / Alamy

O micélio de um fungo a espalhar-se através do solo

O micélio de um fungo a espalhar-se através do solo

Internet natural da Terra

Para o cientista Paul Stamets, especialista em fungos, essa rede é uma “Internet natural” do planeta Terra.

A sua teoria é de que ela coloca em contacto plantas que estão muito distantes de si – não apenas as que estão próximas.

Stamets traça um paralelo com o filme Avatar, de 2009, em que vários organismos num planeta conseguem comunicar e partilhar recursos graças a uma espécie de ligação eletro-química entre as raízes das árvores.

Suzanne Simard, da Universidade de British Columbia, no Canadá, provou em 1997 que havia uma transferência de carbono por micélio entre o abeto de Douglas (uma árvore conífera) e uma bétula.

Desde então, ficou também provado que algumas plantas trocam fósforo e azoto da mesma forma.

Simard acredita que árvores de grande porte usam o micélio para alimentar outras, mais jovens ou acabadas de nascer. Sem essa ajuda, a cientista acredita que muitas das novas árvores não conseguiriam sobreviver.

Simard explica à BBC que as plantas parecem contrariar a teoria de Darwin, que defende a competição entre espécies por recursos. Em muitos casos, espécies diferentes de plantas usam a rede para trocar nutrientes e ajudarem-se entre si na sobrevivência.

Os cientistas estão convencidos de que as trocas de nutrientes acontecem realmente, através dos fungos no solo, mas ainda não perceberam exactamente como ocorre essa troca.

marcyleigh / Flickr

Os tomates usam a "internet dos fungos" para se defender de doenças

Os tomates usam a “Internet dos fungos” para se defender de doenças

Conluio entre plantas

Uma investigação recente recente foi mais longe.

Em 2010, Ren Sem Zeng, investigador da Faculdade de Agronomia da Universidade de Guangzhou, na China, conseguiu observar que algumas plantas “comunicam entre si” para organizar uma espécie de sabotagem a espécies invasoras.

A experiência foi feita com tomates plantados em vários vasos e ligados entre si por micorriza. Um dos tomates foi borrifado com o fungo Alternaria solani, que provoca doenças na planta.

65 horas depois, os cientistas borrifaram outro vaso e descobriram que a resistência deste tomate era muito superior.

“Acreditamos que os tomates conseguem ‘espiar’ o que está a acontecer noutro local e aumentar a sua resposta à doença contra uma potencial patogenia”, defende Zeng no seu artigo científico.

Ou seja, as plantas não só usam a “Internet natural” para compartilhar nutrientes, mas também para formar um “conluio” contra as doenças.

Esse tipo de comportamento não foi observado apenas em tomates.

Em 2013, o investigador David Johnson, da Universidade de Aberdeen, na Escócia, detectou o mesmo comportamento em favas, que se protegem contra insectos minúsculos, conhecidos como afídios, usando a “Internet dos fungos”.

tabtannery / Flickr

A orquídea Cephalanthera austiniae, que não tem clorofila, rouba o carbono às outras plantas através da "internet natural"

A orquídea Cephalanthera austiniae, que não tem clorofila, rouba o carbono às outras plantas através da “Internet natural”

Lado negro da Internet natural

Mas tal como a Internet humana, a Internet natural também possui um lado negro.

A nossa Internet reduz a privacidade e facilita o crime e a disseminação de vírus. O mesmo acontece com as plantas na micorriza.

Algumas plantas, como a orquídea Cephalanthera austiniae, não possuem clorofila e não conseguem produzir a sua própria energia por fotossíntese.

Essas plantas “roubam” o carbono que necessitam das árvores próximas, usando a rede de micélio. Algumas orquídeas, que são capazes de fotossíntese, roubam de qualquer forma o carbono, mesmo sem necessitar.

Esse tipo de comportamento faz com que algumas árvores soltem toxinas na rede para combater plantas que roubam recursos.

Isso é comum em acácias. No entanto, os cientistas duvidam da eficácia desta técnica, já que muitas toxinas acabam por ser absorvidas pelo solo ou por micróbios antes de atingir o alvo desejado.

Para muitos cientistas, a Internet dos fungos é um exemplo de uma grande lição do mundo natural: organismos aparentemente isolados podem estar, na verdade, ligados de alguma forma, e até depender uns do outros.

ZAP //

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