A produção e o consumo de drogas estão cada vez mais descontrolados

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Thomas Marthinsen / Flickr

Há cada vez mais oferta e a procura de droga, o que está a agravar os impactos deste problema mundial – nomeadamente, no aumento dos distúrbios e danos ambientais. Entre 2021 e 2022, a produção de cocaína no mundo aumentou 20%.

Segundo o relatório mundial sobre Drogas 2024 divulgado esta quarta-feira pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o número de consumidores aumentou para 292 milhões em 2022, um crescimento de 20% em 10 anos, continuando a canábis a ser a droga mais consumida em todo o mundo (228 milhões de consumidores), seguida dos opiáceos (60 milhões), das anfetaminas (30 milhões), da cocaína (23 milhões) e do ecstasy (20 milhões).

O relatório aponta que em janeiro de 2024, o Canadá, o Uruguai e 27 jurisdições nos Estados Unidos tinham legalizado a produção e venda desta substância para uso não médico, enquanto uma variedade de abordagens legislativas surgiram noutras partes do mundo.

O documento nota que “nestas jurisdições das Américas, o processo parece ter acelerado o uso nocivo da droga e levado a uma diversificação de produtos de canábis, muitos deles com elevado teor de THC (potência)”.

Tem havido também um “renascimento” do acesso e uso de substâncias psicadélicas, destacando-se que, embora o interesse no uso terapêutico destas drogas tenha continuado a crescer no tratamento de alguns distúrbios de saúde mental, a investigação clínica ainda não resultou em quaisquer diretrizes científicas padrão para uso médico.

No entanto, no âmbito do “renascimento psicadélico” mais amplo, os movimentos populares estão a contribuir para o florescimento do interesse comercial e para a criação de um ambiente propício que incentiva o amplo acesso ao uso não supervisionado, “quase terapêutico” e não médico de substâncias psicadélicas.

Estes movimentos têm o potencial de ultrapassar as evidências terapêuticas científicas e o desenvolvimento de diretrizes para o uso médico de substâncias psicadélicas, comprometendo potencialmente os objetivos de saúde pública e aumentando os riscos para a saúde associados ao uso não supervisionado destas substâncias.

 

Hospitalizações aumentaram

As hospitalizações relacionadas com distúrbios devido ao consumo de canábis e a proporção de pessoas com distúrbios psiquiátricos e tentativas de suicídio associadas ao uso regular aumentaram no Canadá e nos Estados Unidos, especialmente entre adultos jovens.

Violência aumentou

O aumento prolongado da oferta e da procura de cocaína, entre 2021 e 2022, coincidiu com o crescimento da violência em estados ao longo da cadeia de abastecimento, nomeadamente no Equador e nos países das Caraíbas, e um aumento dos danos para a saúde nos países de destino, incluindo na Europa Ocidental e Central.

Criminalidade aumentou

Em 2022, cerca de sete milhões de pessoas em todo o mundo tiveram problemas com a polícia (prisões ou advertências) por crimes relacionados com drogas, sendo cerca de dois terços deste total devido ao consumo ou posse.

Além disso, 2,7 milhões de pessoas foram processadas por crimes relacionados com drogas e mais de 1,6 milhões foram condenadas em todo o mundo em 2022, embora existam diferenças significativas entre regiões no que diz respeito à resposta da justiça criminal aos crimes relacionados com estupefacientes.

O relatório destaca que o tráfico de drogas está potenciar grupos do crime organizado, estando os traficantes no Triângulo Dourado a diversificar-se para outras economias ilegais, nomeadamente o tráfico de vida selvagem, a fraude financeira e a extração ilegal de recursos.

As comunidades deslocadas, pobres e migrantes estão a sofrer as consequências desta instabilidade, sendo por vezes forçadas a recorrer ao cultivo de ópio ou à extração ilegal de recursos para sobreviver, caindo na armadilha de dívidas com grupos criminosos ou consumindo elas próprias drogas.

Desflorestação aumentou

Estas atividades ilícitas também contribuem para a degradação ambiental através da desflorestação, do despejo de resíduos tóxicos e da contaminação química, bem como para a saúde pública.

Ghada Waly sublinha que “a produção, o tráfico e o consumo de drogas continuam a exacerbar a instabilidade e a desigualdade, ao mesmo tempo que causam danos incalculáveis à saúde, à segurança e ao bem-estar das pessoas“.

64 milhões com transtornos

O documento da UNODC destaca que os países têm de consagrar o direito a serviços de saúde e tratamento pelos consumidores de drogas, direito humano reconhecido internacionalmente, independentemente do estado de consumo de drogas ou de a pessoa estar presa ou em liberdade e às suas famílias.

Embora cerca de 64 milhões de pessoas em todo o mundo sofram de transtornos relacionados ao uso de drogas, apenas uma em cada 11 está em tratamento, sublinha o documento.

As mulheres têm menos acesso ao tratamento do que os homens, com apenas uma em cada 18 com perturbações relacionadas com o consumo de drogas em tratamento, contra um em cada sete homens.

A diretora executiva do UNODC, Ghada Waly, salienta a necessidade de “fornecer tratamento e apoio baseados em evidências a todas as pessoas afetadas pelo consumo de drogas, ao mesmo tempo que se visa o mercado de drogas ilícitas e se investe muito mais na prevenção”.

ZAP // Lusa

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