“A pior pessoa que conhece” decidiu finalmente falar – e contar a sua versão da foto que se tornou um meme mundial

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Josep Maria García, cujo rosto se tornou viral após ser apresentado num artigo como “a pior pessoa que conhece”

O que começou com um teste de luz para uma entrevista, acabou por ter grandes repercussões na vida de Josep Maria García, que viu a sua imagem partilhada milhões de vezes na internet.

Pouco depois de o confinamento provocado pela pandemia da covid-19 ter sido decretado em Espanha, Josep Maria García recebeu um telefonema do seu cunhado em que era possível identificar alguns sinais de pânico.

“Disse-me para não me preocupar, mas que eu devia procurar no Google a expressão ‘a pior pessoa que conheces'”, explicou García.

“Coloquei-a e lá estava eu, em todo o lado. Fiz scroll e era a minha cara, a minha cara, a minha cara“. Depois pensei: “O que é que se está a passar?”

A paranóia tomou conta do espanhol enquanto ele se esforçava para perceber o que tinha acontecido. Ele tinha posado para a fotografia em 2014, quando acompanhou o seu cunhado, fotógrafo profissional, numa viagem de trabalho a Barcelona.

Quando este se preparava para uma sessão fotográfica com um escritor americano, pediu a García que se colocasse à frente da lente para poder testar a luz. A fotografia de García, então com 34 anos, saiu bem — tão bem que a dupla decidiu adicioná-la ao arquivo da Getty Images.

García recordou vagamente que em 2018 o seu cunhado lhe havia dito que a imagem tinha sido utilizada para ilustrar um artigo para uma revista satírica norte-americana. Na altura, prestou pouca atenção; mais, ao navegar através da Internet, apercebeu-se de que se tinha tornado, involuntariamente, um meme global.

A imagem tinha sido usada para ilustrar uma peça de cariz leve sobre um colega de trabalho detestável que, por vezes, costuma dizer disparates misturados com observações caricatas sobre política.

“Perguntamo-nos, está bem, agora o que acontece?”, descreveu ao The Guardian. “Será que as pessoas vão aparecer aqui em casa, a querer conhecer-me? Ou querendo bater-me?”

Inicialmente, García lutou para equilibrar a sua fama online com a sua vida em Molins de Rei, um município de 26.000 pessoas perto de Barcelona.

Online ele era famoso, — uma pesquisa rápida da frase “pior pessoa que conheces” apresentava quase dois mil milhões de resultados — mas o facto de estar em inglês significava que poucos na sua cidade natal ou no seu emprego sabiam de alguma coisa. “Eu ia trabalhar e tudo era normal, ninguém me tratava de forma diferente“, disse García.

No seu dia-a-dia raramente se cruzava com a sua infâmia online, até que um jornalista espalhou pistas pela internet de como o encontrar.

A partir deste momento, começaram a chegar mensagens de todo o mundo, o que incitou o seu cunhado a retirar a fotografia. No entanto, foi demasiado tarde, já que o tempo de permanência da foto online tinha chegado para o definir, pelo menos naquele contexto.

“Li comentários que dizem ‘ele tem a cara de um supremacista nazi‘ ou que ‘não há empatia no meu olhar‘”, disse ele. Perante estes comentários, a sua resposta foi encolher os ombros. “Tenho muitas fotos com esse olhar — esse é o meu olhar”.

Uma das poucas pessoas a nível mundial que partilha da experiência de García é András Arató, um engenheiro húngaro reformado que em 2019 descobriu que o rosto era um meme global, no seu caso “Hide the Pain Harold”. “No início foi uma experiência chocante”, apontou Arató. “Não sabia o que fazer“.

A primeira reação de Arató foi retirar as fotografias do banco de fotos a que a tinha adicionado um ano antes. Mais calmo, optou por esperar e ver.

“A minha única esperança era que com tantas coisas novas a surgirem na Internet, as pessoas se esquecessem lentamente de mim”, disse. “Devo dizer que estava totalmente enganado”.

O seu momento eureka chegou quando decidiu recuperar a sua imagem, lançando a sua própria página de fãs no Facebook com vídeos e histórias das suas viagens. As ofertas de colaboração apareceram de imediato, transformando-o numa celebridade por direito próprio.

Mais de dois anos após ter tropeçado na ubiquidade do seu meme, García – que se descreveu como reservado – começou a aceitar o seu estatuto. “Não é fácil. Mas é verdade que, com o passar do tempo, começa-se a ver as coisas de forma diferente“.

Durante anos, García rejeitou os pedidos de entrevista, optando, em vez disso, por se manter fora dos holofotes.

Mas, nos últimos meses, à medida que ele se deparava com o lançamento de T-shirts com o seu meme, decidiu conceder entrevistas a uma mão cheia de meios de comunicação.

Ainda assim, recusou-se firmemente a ser fotografado — “para que não volte a ficar viral”, disse ele a um jornal – insinuando as cicatrizes que continuam a persistir.

Uma história que nos faz lembrar o caso do famoso Techoviking.

ZAP //

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1 Comment

  1. A Internet/Redes Sociais são campo fértil para dar voz a quem nada tem para dizer… são como um caldo ao lume… ao ferver sobe a escuma!

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