A Paz é fácil. Basta partilhar a Ucrânia à moda de Berlim

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// JKTKMM / Wikipedia; The Times & Sunday Times

O enviado especial norte-americano para a Ucrânia, Keith Kellogg / mapa do plano de divisão do país em 3 zonas

O enviado especial do Presidente norte-americano para a Ucrânia, Keith Kellogg, admitiu numa entrevista a divisão do país em três zonas separadas num acordo de paz com a Rússia, comparando a solução com a Alemanha pós-II Guerra Mundial.

Em entrevista ao jornal britânico The Times, o enviado especial do Presidente norte-americano para a Ucrânia, Keith Kellogg, propôs a criação de uma “força de segurança” liderada pelo Reino Unido e pela França no oeste da Ucrânia.

O plano passaria também por concentrar as tropas ucranianas a leste do rio Dnipro, servindo este como linha de separação entre as duas zonas.

Os territórios ucranianos atualmente sob ocupação seriam controlados pelas forças russas.

“Quase poderia fazer-se algo parecido com o que aconteceu a Berlim depois da Segunda Guerra Mundial, quando havia uma zona russa, uma zona francesa, uma zona britânica e uma zona americana”, disse.

No final da II Guerra Mundial, Berlim foi dividida entre os países vencedores — EUA, Reino Unido, França e União Soviética — apesar de a cidade estar inteiramente dentro da zona soviética da Alemanha. O setor soviético tornou-se Berlim Oriental, e ficou separado dos três setores ocidentais, até 1989, pelo Muro de Berlim.

Embora o Kremlin tenha rejeitado repetidamente a ideia de as tropas europeias monitorizarem um cessar-fogo na Ucrânia, Kellogg disse que uma força liderada pelo Reino Unido e pela França no oeste da Ucrânia “não seria nada provocatória” para a Rússia.

“Estaria a oeste do Dnipro, o que é um grande obstáculo“, disse o general norte-americano, que apesar de ser enviado para a Ucrânia tem sido secundarizado no papel em relação a Steve Witkoff, o emissário do Presidente Donald Trump para o Médio Oriente.

Kellogg propôs ainda a criação de uma zona desmilitarizada de 29 quilómetros no leste da Ucrânia, ao longo da atual linha da frente, para servir de barreira entre as tropas russas e ocidentais.

“Olha-se para um mapa e cria-se, à falta de melhor termo, uma DMZ — uma zona desmilitarizada. Levem-se ambos os lados 15 quilómetros para trás“, disse Kellogg, “e teríamos uma DMZ que pode ser monitorizada, e esta zona de cessar-fogo pode ser monitorizada com bastante facilidade”, adiantou.

O conceito de uma DMZ a separar dois países beligerantes está a ser aplicado na península da Coreia, onde uma faixa de terra com cerca de 250 km de comprimento e 4 km de largura separa a Coreia do Norte da Coreia do Sul desde o fim da Guerra da Coreia em 1953.

Embora se chame “desmilitarizada”, há uma forte presença militar nas duas margens da zona — tanto da parte norte-coreana como da sul-coreana, neste caso com apoio dos EUA. A faixa está desabitada há décadas, tendo-se tornado um refúgio inesperado para a vida selvagem, com várias espécies raras de flora e fauna.

A Rússia pode não aceitar

O general norte-americano admitiu que a Rússia pode não aceitar a proposta e que as condições do cessar-fogo poderão ser violadas.

“Agora, haverá violações? Provavelmente, porque há sempre. Mas a nossa capacidade de monitorizar isso é fácil”, disse.

Kellogg disse ainda que Washington não enviaria tropas terrestres para a força de segurança na Ucrânia, e alertou a França e o Reino Unido para não contarem com o apoio norte-americano à chamada Coligação dos Interessados, que se comprometeram a dar garantias de segurança à Ucrânia após um cessar-fogo.

Planeiem sempre para o pior cenário“, aconselhou Kellogg.

Depois de mais de três anos de guerra e de progressos limitados no sentido de uma trégua, vários países manifestaram apoio à ideia de uma presença militar europeia de manutenção da paz na Ucrânia, oferecendo-se mesmo para fazer parte desta quando o conflito terminar.

Kellogg acrescentou ainda que a força de segurança da coligação seria capaz de enviar uma mensagem eficaz ao Presidente russo, Vladimir Putin.

Os comentários de Kellogg marcam a primeira vez que uma alta autoridade norte-americana propõe o Dnipro como uma linha de demarcação na Ucrânia no pós-guerra.

A Ucrânia pode não aceitar

A proposta de Kellogg surge no mesmo dia em que o enviado especial de Trump para o Médio Oriente, Steve Witkoff, se encontrou em São Petersburgo com o Presidente russo, Vladimir Putin, para discutir um futuro acordo de paz na Ucrânia.

O plano de Kellogg, no entanto, implicaria deixar sob controlo russo as regiões ocupadas ilegalmente, e o Presidente ucraniano, Kellogg já afirmou que o seu país nunca reconhecerá estes territórios como legalmente russos.

Trump manifestou esta sexta-feira frustração com a falta de progressos entre a Ucrânia e a Rússia, através da porta-voz da Casa Branca.

O Presidente Trump foi muito claro ao expressar a contínua frustração com ambos os lados deste conflito e quer ver o fim da guerra”, declarou a porta-voz à imprensa na Casa Branca.

No entanto, a porta-voz indicou que os Estados Unidos mantêm influência suficiente para negociar um acordo de paz e Trump está determinado a avançar.

O político republicano, que em janeiro defendeu uma aproximação ao Kremlin e teceu duras críticas a Zelenskyy, na catastrófica reunião a três na Casa Branca, manifestou recentemente insatisfação com os contínuos bombardeamentos russos na Ucrânia e falta de compromisso de Moscovo com uma trégua.

Kellogg esclarece entrevista

Já este sábado, Keith Kellogg procurou esclarecer na sua conta da rede social X que em nenhum momento defendeu “uma divisão” da Ucrânia.

“O The Times deturpa o que eu disse“, diz o enviado especial norte-americano na sua publicação no X.

Estava a falar de uma força de resistência pós-cessar-fogo em apoio da soberania da Ucrânia. Estava a referir-me às áreas de responsabilidade de uma força aliada (sem tropas americanas). Não estava a referir-me a uma divisão da Ucrânia“, detalha Kellogg.

ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Fala o hipócrita que nem sabe lidar com as fronteiras com o país vizinhos a dar conselhos. Paz é fácil basta livrar do putin e acabou a guerra no mesmo momento.

  2. SI VIS PACEM – Não há necessidade de ACORDO. Fazer acordo com quem invade , assalta e mata ? O lógico seria punir o invasor , levando-o a tribunal Internacional. Tudo isso, após o invasor retirar as suas tropas do território invadido ; indenizar todos os danos provocados com a sua estupidez e perversidade. A UCRÂNIA merece respeito e não humilhação . BASTA de arrogâncias e bravatas ameaçadoras ! BASTA de ameaça de TERCEIRA GUERRA MUNDIAL que nunca irá acontecer . Aos tiranos a HISTÒRIA reservou o esquecimento com derrotas avassaladoras… É O que pensa, joaoluizgondimaguiargondim – [email protected]

    • Parece-me bem, já agora sentar também no banco dos réus os que representaram os países da NATO, aquando da guerra do Kosovo contra a Sérvia. Afinal e tal como os russos, invadiram a Sérvia para dar independência ao Kosovo.

  3. Mas afinal quem são e com que “Direito” vão agora dividir a Ucrania? Um abuso de confiança?
    “A Terra está cheia de Vermes”, disse o Altissimo. E assim é.

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