As ovelhas são as verdadeiras donas das Ilhas Faroé, onde ultrapassam a população humana em número. Até o próprio nome da ilha é em honra à importância que estes animais têm na pequena nação.
As Ilhas Faroé, cujo nome significa “Ilhas das Ovelhas“, têm a sua identidade profundamente enraizada na presença dessas criaturas resistentes, que há mais de um milénio moldam a paisagem e a cultura deste arquipélago isolado no Atlântico Norte.
O papel central das ovelhas na vida faroense é documentado desde 1298, no Seyðabrævið (Carta das Ovelhas), um conjunto de leis antigas que regulamentavam a criação e o cuidado desses animais, revela a BBC.
Estudos recentes sugerem que as ovelhas habitam as Ilhas Faroé desde que os primeiros colonizadores irlandeses lá desembarcaram. Quando os vikings apareceram, séculos depois, deram às ilhas o nome em honra das ovelhas de cauda curta do norte da Europa que lá encontraram. Desde então, nesta terra remota e acidentada, a criação de ovelhas semi-selvagens para obtenção de carne e lã (juntamente com a pesca, a caça à baleia e a caça de aves marinhas) tem sido fundamental para a sobrevivência há mais de um milénio.
Os rebanhos eram tradicionalmente transportados para partes específicas das ilhas e, tanto naquela época como agora, são geralmente propriedade comunitária. A maioria das famílias ainda participa num rebanho algures, e muitas pessoas – sejam elas médicos, advogados, comerciantes ou professores – aparecerão durante a ronda de Outono para ajudar no abate e dividir a carne de forma justa. E hoje, quase todas as famílias faroenses ainda mantêm uma perna de cordeiro fermentado na despensa durante todo o ano.
Atualmente, as ovelhas superam a população humana das ilhas, com cerca de 70 000 animais espalhados pelas montanhas e até nos centros urbanos. A carne fermentada de borrego, conhecida como skerpikjøt, é uma iguaria local, secada ao ar nas condições únicas das ilhas, que lhe conferem um sabor distinto e forte.
Além do seu papel alimentar, as ovelhas são também um símbolo nacional. Estão presentes em monumentos e até em campanhas turísticas, como a bem-humorada “Sheep View“, uma paródia ao Google Street View que atraiu atenção internacional.
As ovelhas das Ilhas Faroé, embora menos lanosas e mais pequenas que as variedades atuais, continuam a ser uma parte vital da vida nas ilhas, desde o abate comunitário no outono até à presença constante nos campos e ruas. Mais do que simples animais de criação, elas são testemunhas silenciosas da história e cultura das Faroé, forjando uma identidade nacional que se mantém firme diante dos ventos implacáveis do Atlântico.