A língua materna que nos calha influencia a estrutura do cérebro (e a forma como pensamos)

Estudos anteriores já haviam comprovado que diferentes áreas do cérebro têm a sua ativação mais dependente do processamento da linguagem.

A língua materna de cada indivíduo tem a capacidade de influenciar a conetividade de áreas necessárias para lidar com a natureza específica dos idiomas. O funcionamento destas não só explica o porquê de algumas pessoas acharem particularmente difícil aprender uma língua cuja estrutura difere muito da sua língua materna, mas também apoia algumas alegações de que as línguas podem ter grande influência.

De acordo com a teoria Sapir-Whorf, as estruturas linguísticas de uma comunidade têm a capacidade de organizar a sua cultura e a sua visão de mundo, pois uma comunidade vê e compreende a realidade que a rodeia através das categorias gramaticais e semânticas da língua. Há, por isso, uma ligação entre linguagem e cultura.

Uma equipa de investigadores do Instituto Max Plank para as Ciências Cognitivas Humanas e do Cérebro decidiu ir mais longe e provar que aprender uma língua desde nascimento é algo visível na forma como o cérebro é estruturado. Para o provar os autores usaram tomografia de ressonância magnética para estudar a conetividade de 47 falantes de alemão com idades compreendidas entre os 19 e os 34. Seguiram o mesmo procedimento com participantes que tinham o árabe como a sua primeira linguagem.

De acordo com o IFL Science, os voluntários eram muito instruídos, mas só sabiam uma língua. Para reduzir fatores que pudessem dar origem a confusão, todos os participantes também eram destros. “Os nativos árabes demonstraram uma ligação maior entre o hemisfério esquerdo e direito do que os falantes germânicos”, escreveu Alfred Anwander num comunicado. Por outro lado, os falantes de alemão têm redes de linguagem no hemisfério esquerdo mais conectadas.

Para os especialistas, esta diferenças podem ser atribuídas, no caso do árabe, às exigências que a combinação de raízes e padrões de palavras independentes não pronunciáveis, mas também a sintaxe completa do alemão. Os dois fatores convocam o uso das regiões cerebrais relevantes. Há ainda que considerar que o árabe é lido da direita para a esquerda, o que ativa tanto o hemisfério direito do cérebro como o esquerdo.

No caso dos falantes de alemão as ligações mais fortes acontecem na rede intra-hemisférica de língua frontal-parietal/temporal. Para além das maiores ligações entre hemisférios, os falantes de árabe beneficiaram de ligações adicionais na rede léxico-semântica temporo-parietal. “A conectividade cerebral é modulada pela aprendizagem e o ambiente durante a infância, o que influencia o processamento e o raciocínio cognitivo no cérebro adulto”, acrescentou Anwander.

Tal como destaca a mesma fonte, estudos anteriores já haviam comprovado que diferentes áreas do cérebro têm a sua ativação mais dependente do processamento da linguagem. Consequentemente, não é surpreendente que exista um grande legado, semelhante à prática de desporto desde tenra idade quando os músculos se desenvolvem para servir este propósito.

ZAP //

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