A Europa está a ficar sem medicamentos

Vários países europeus estão a sofrer crises no abastecimento de medicamentos, especialmente antibióticos. A inflação e o aumento da circulação de vírus sazonais, como a gripe, são os principais culpados.

Desde o final de 2022 que a União Europeia (UE) está a enfrentar problemas sérios no abastecimento de medicamentos importantes.

Um inquérito de grupos que representam as farmácias em 29 países europeus, incluindo estados-membros da UE, a Turquia, Noruega, Kosovo e Macedónia do Norte, concluiu que quase um quarto destes tem mais de 600 medicamentos com pouco stock e 20% reportam escassez de entre 200 e 300 fármacos.

Três quartos dos países consideram que a falta de medicamentos tem sido mais notória este Inverno do que no anterior e até há registos de mortes associadas a esta escassez em quatro nações, relata o Politico.

Os antibióticos são os medicamentos mais em falta, especialmente a amoxicilina, que é usada para tratar infecções respiratórias. Xaropes para a tosse, paracetamol para crianças e fármacos para a pressão arterial também são escassos.

Há várias causas para estes problemas no abastecimento. A inflação e a escalada de preços na energia, que têm aumentado os custos de produção para as farmacêuticas, são grandes culpadas.

Há ainda um aumento na circulação de vírus sazonais, como a gripe ou o vírus sincicial, que afecta principalmente crianças com menos de dois anos.

Os especialistas acreditam que os confinamentos sucessivos que fomos obrigados a fazer nos últimos anos para conter a transmissão da covid-19 também nos isolaram dos germes a que somos expostos no dia-a-dia, fragilizando os nossos sistemas imunitários e deixando-nos mais vulneráveis a estas infecções.

A resposta dos Governos

Vários países estão a bloquear as exportações de medicamentos. A Grécia, por exemplo, alargou a lista de nações para as quais a revenda de fármacos é banida em Novembro. Já a Roménia parou temporariamente de exportar certos antibióticos e analgésicos infantis.

Estes cortes têm um efeito bola de neve. A comissária da Saúde da UE, Stella Kyriakides, escreveu uma carta ao Ministro da Saúde da Grécia onde lembrou os efeitos que estes bloqueios têm nos restantes países.

“Os estados-membros devem evitar avançar com medidas nacionais que afectam o mercado interno da UE e impedem o acesso a medicamentos a quem precisa deles noutros estados-membros”, apelou.

O Governo alemão está ainda a considerar mexer na lei para relaxar os requerimentos de aquisição impostos às seguradoras, que as obrigam a comprar medicamentos às empresas que os vendem mais baratos. A nova lei permitiria a compra de fármacos a vários fornecedores, incluindo os que os vendem mais caros, permitindo assim aliviar a carga colocada sobre os produtores mais competitivos.

A Agência Europeia do Medicamento (EMA) também já recomendou que as regulações sejam relaxadas de forma a que as farmácias vendam comprimidos de forma individual e de acordo com as necessidades dos clientes. O presidente da Associação Médica Alemã sugeriu mesmo a criação de “feiras da ladra” de remédios, em que a população pode oferecer os medicamentos de que não precisa.

A recém-criada Autoridade de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias — que nasceu para ajudar a UE a responder a futuras crises de saúde semelhantes à pandemia e para dar poder colectivo de negociação ao bloco na compra de medicamentos — também pode intervir.

No entanto, as autoridades acreditam que a situação ainda não chegou a este ponto. Na última quinta-feira, a EMA decidiu não pedir à Comissão Europeia que declare a falta de amoxicilina um “grande evento”, o que obrigaria a UE a intervir para aumentar a produção do medicamento.

Um grupo de trabalho da EMA vai reunir novamente esta quinta-feira e decidir se emite ou não esta recomendação à Comissão.

Adriana Peixoto, ZAP //

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