Era alimentado por uma seringa, fazia espetáculos e até deu nome a um festival em sua honra. Há 80 anos, “Mike Milagre” era uma verdadeira celebridade, e não punha ovos de ouro, mas valeu aos donos bom dinheiro durante quase 2 anos.
Em 1945, Lloyd Olsen e a sua mulher, Clara, estavam a matar galinhas na sua quinta, para depois as vender. Foram umas 40 ou 50, mas, como conta o seu bisneto, Troy Waters, à BBC, “chegaram ao fim e havia um que ainda estava vivo, de pé e a andar”… mesmo depois de lhe terem cortado a cabeça.
Os donos decidiram deixar o animal numa caixa durante a noite, e quando acordaram a galinha ainda lá estava.
A partir desse momento, Lloyd Olsen, narra o bisneto, quando ia vender galinhas para a cidade de Fruita, nos EUA “levava este galo com ele. Atirou-o para a carroça, levou a galinha com ele e começou a apostar cerveja ou algo do género com as pessoas, dizendo que tinha uma galinha sem cabeça viva.” A história do galo sem cabeça popularizou-se, e começaram a chamar-lhe “Miracle Mike”, ou “Mike Milagre”.
Foi então proposto ao dono de Mike que começasse a levar a galinha para fazer espetáculos, uma espécie de tournée. Como passava dificuldades financeiras, Olsen aceitou. As pessoas estavam tão fascinadas com Mike que a tour depressa se estendeu a todo o território dos EUA.
As viagens de MIke foram cuidadosamente documentadas por Clara num livro de recortes que ainda hoje se encontra no cofre de armas da família. A galinha “faz parte da nossa estranha história familiar”, diz o bisneto.
Os donos alimentavam-no com um conta-gotas e limpavam-lhe a garganta com uma seringa, uma vez que a galinha costumava acumular muco. Foi apenas devido ao esquecimento dos donos, que deixaram a seringa num espetáculo, que Mike acabou por morrer sufocado com muco, 18 meses depois de a sua cabeça ter sido cortada.
“Durante anos, ele dizia que tinha vendido a galinha a um tipo do circuito de espetáulos”, conta Waters. “Só alguns anos antes de morrer é que me admitiu, uma noite, que a galinha lhe tinha morrido. Acho que nunca quis admitir que tinha feito asneira e que tinha deixado morrer a proverbial galinha dos ovos de ouro.”
Mas como é que viveu tanto tempo?
A decapitação desliga o cérebro do resto do corpo, mas durante um curto período de tempo os circuitos da espinal medula ainda têm oxigénio residual, explica à BBC Tom Smulders, investigador especialista em galinhas. Mas, por período residual, entendam-se uns 15 minutos — não 18 meses.
Mas, para um ser humano, perder a cabeça implicaria uma perda quase total do cérebro. Para uma galinha, é um pouco diferente. “Ficaria espantado com a pouca quantidade de cérebro que existe na parte da frente da cabeça de uma galinha“, garante Smulders.
na verdade a maior parte do cérebro está concentrada na parte de trás do crânio, atrás dos olhos. “A maior parte do cérebro das aves, tal como o conhecemos atualmente, seria considerado o tronco cerebral na altura”, explica Smulders.
Ainda assim, denota o especialista, não deixa de ser surpreendente o facto de o frango não ter sangrado até à morte. Um coágulo sanguíneo tê-lo-à impedido de morrer dessa forma.
Seja como for, atualmente existe, em maio, o “Headless Chicken Festival”, ou o “Festival da Galinha sem Cabeça”, organizado pelo bisneto dos Olsens em homenagem a Mike, que conta até com uma estátua em sua honra.
Muitos tentaram replicar o feito extraordinário, e houve até um vizinho que apareceu todos os fins de semana em casa de Lloyd, para tentar persuadi-lo a ensinar-lhe o truque em troca de grades de cerveja. Seja como for, por sorte ou acaso, o mundo continua a recordar Mike, a galinha (quase) sem cabeça.