O potencial da Lua como um futuro centro de habitação e exploração está a ser reconhecido mais do que nunca. Grande parte do trabalho da NASA com empresas do setor privado resume-se à Utilização de Recursos In-Situ.
Não tarda estaremos a habitar a Lua e a “sugar” os seus recursos, graças ao trabalho do Programa Artemis da NASA a par de privadas e académicos. Mas como é que isso vai acontecer?
Tudo se resume à Utilização de Recursos In-Situ (ISRU) — o aproveitamento de recursos encontrados noutros astros (neste caso, na Lua) em prol dos objetivos de uma missão espacial.
O Programa Artemis da NASA, em colaboração com inúmeras pequenas e grandes empresas, instituições académicas e agências espaciais internacionais, é um dos projetos que está gradualmente a estabelecer as bases para a ocupação lunar. O objetivo? Transformar o nosso satélite natural num mundo próspero de serviços comercializáveis.
A pedra angular destes planos parece ser mesmo a ISRU, que ao permitir a extração de recursos lunares como oxigénio, água e metais, cria combustível de foguetes e sistemas de suporte de vida, bem como estruturas lunares como habitações e plataformas de aterragem.
“Durante anos tudo isto pareceu demasiado bom para ser verdade (…) agora está a tornar-se tão real”, diz o diretor do Centro de Recursos Espaciais Escola de Minas de Colorado, Angel Abbud-Madrid, ao Space.
Na vanguarda deste crescimento está a crescente competição internacional entre o setor privado, promovida pela própria NASA através de vários grupos do programa Commercial Lunar Payload Services (CLPS), destinado a entregar cargas científicas e tecnológicas na paisagem lunar.
O ambiente lunar é o primeiro desafio
Um dos primeiros desafios a superar está relacionado com o rególito lunar — a camada superficial de rochas e detritos da lua.
Testar maquinaria na Terra com recurso a simuladores lunares tem as suas limitações, já que o ambiente da lua inclui cargas eletrostáticas, radiação, uma atmosfera fina e 1/6 da gravidade da Terra.
A NASA trabalha em paralelo nos objetivos, metas e lacunas da ISRU, enquanto explora o envolvimento da indústria para aproveitar os talentos que o setor aeroespacial tem para oferecer.
Prioridades delineadas
As prioridades da ISRU já foram delineadas pelo próprio líder da Utilização de Recursos In-Situ da NASA, Gerald Sanders.
“A ISRU começa com os recursos mais fáceis de minar, que exigem infraestruturas mínimas e proporcionam utilização local imediata”, afirmou.
Sanders explicou ainda que a exploração — que para já se prende ao polo sul do satélite natural — vai expandir-se mais tarde a minerais mais específicos e produtos mais refinados.
As tecnologias ISRU não só serão desenvolvidas na Terra, como também serão testadas na própria Lua através de projetos-piloto.
Um “McMurdo na Lua”
Ben Bussey, cientista-chefe da Intuitive Machines — uma empresa de serviços lunares que tem mão na iniciativa CLPS — está a desenvolver o módulo de aterragem Nova-C e o Micro Nova, uma plataforma de exploração regional desenhada para aceder a áreas que um rover simplesmente não é capaz de aceder.
A extração de gelo lunar é também um dos principais objetivos da ISRU, apesar de ainda estar a ser estudada. A viabilidade económica da sua extração depende dos custos de prospeção e refinação.
Estabelecer infraestruturas na Lua acaba por ser um dos passos mais importantes. Uma espécie de “Estação McMurdo na Lua”, como na Antártida é, para Bassey, a solução.
“A Lua ainda é o lugar certo para ir (…) escolhes um lugar e constróis uma infraestrutura, porque é assim que te ancoras”, começou por dizer.
“Por causa dessa infraestrutura eu pude ir à Antartida e fazer ciência e exploração”, disse. “Temos de montar um McMurdo na Lua”, que serviria de ponto de lançamento para a exploração futura do sistema solar.
Todos os dias surgem “lunáticas” visões que simbolizam um passo pequeno para o homem, mas um grande passo para a Humanidade.