No mundo dos anos 950, Medina Azahara, a “Cidade Brilhante”, era uma das mais belas joias em forma de cidade no planeta. Foi deslumbrante, mas efémera.
A mítica cidade califal de Medina Azahara, em árabe Madinat al-Zahra, já trazia no seu nome o significado de “cidade brilhante”. Nasceu por ordem do califa Abderramão III, que decidiu a sua construção no ano de 936.
A cidade, localizada a cerca de oito quilómetros da cidade espanhola de Córdova, seria a capital do Califado de Córdova, num dos períodos mais opulentos dos tempos em que territórios da Espanha e do norte da África, durante a Idade Média, estiveram sob controle árabe (dos século VIII a XIII).
De facto, a corte mudou-se para lá no ano de 945. Mas toda a deslumbrante existência da cidade, nas encostas de uma montanha e na margem direita do rio Guadalquivir, só duraria por cerca de 70 anos.
Nenhuma despesa foi poupada para erguer a nova capital. Algumas fontes dizem que asua construção envolveu cerca de dez mil trabalhadores, seis mil blocos de pedra empilhados diariamente e cargas transportadas por mais de 1,5 mil burros e mulas.
Os melhores artesãos da época foram convidados a decorar as construções. Mármores brancos foram trazidos de Estremoz, em Portugal, a cerca de 350 quilómetros de distância; calcário de cor púrpura foi extraído das serras de Córdova; pedras avermelhadas foram tiradas da vizinha Serra de Cabra. E não faltou ouro.
“A cidade representava o poder do califado, por isso tudo foi projetado para mostrar o máximo esplendor”, explicou em 2019 o arqueólogo Alberto Montejo, diretor do sítio arqueológico de Medina Azahara, à BBC.
“Muitos recursos económicos foram alocados do Estado para a sua construção. Nada menos que um terço do orçamento anual do califado foi usado para criar Medina Azahara”, acrescentou arqueólogo espanhol.
Aproveitando o desnível do terreno, a cidade foi projetada em três níveis. Na parte superior, foi construído o Alcazar Real, a residência íntima de Abderramão III, composta por colunas majestosas, capitéis elaborados e decoração luxuosa. De um grande terraço superior, o califa podia contemplar toda a cidade que tinha criado.
A esplanada intermediária abrigava os prédios administrativos e as residências dos mais importantes oficiais da corte. Na parte baixa da cidade, estavam as casas da população comum e dos soldados, a mesquita, os mercados, os banhos e os jardins públicos.
A cidade era tão rica que, apenas 15 anos depois de sua construção, algumas unidades foram demolidas para dar lugar a casas maiores. “O califado de Córdova foi um dos grandes impérios da época no Mediterrâneo, comparável ao bizantino. Não havia cidades naquela época com o esplendor de Medina Azahara”, refere Alberto Montejo.
No entanto, apesar de sua magnificência, a cidade califal de Medina Azahara só existiu durante cerca de 70 anos.
Foi com a morte, em 976, do califa Aláqueme II (filho e sucessor de Abderramão III) que começou a decadência da cidade. O reino passou a ser comandado pelo seu filho Hixam. O problema é que Hixam tinha apenas 11 anos de idade.
Para lidar com a situação, grande parte do poder coube a Almançor, que já tinha sido conselheiro de Aláqueme III e nomeado grão-vizir de Hixam. Mas Almançor acabou por se tornar poderoso e assumiu o controle sobre o califado. Ele fundou a sua própria cidade, Medina Alzahira, e deixou para trás Medina Azahara.
O califado de Córdova desapareceu definitivamente no ano de 1031, após uma sangrenta guerra civil. O território foi dividido em diferentes reinos – os reinos de taifas. Medina Azahara ficou definitivamente abandonada.
A cidade mais bonita do Ocidente foi saqueada, queimada e despida da sua beleza. As construções e decorações mais caras foram vendidas ou recicladas. “Estes objetos davam prestígio a quem os possuía e acabaram em Sevilha, no norte da África ou no norte da Espanha”, revela Alberto Montejo.
A cidade foi dilacerada, até as pedras de seus muros foram retiradas. “Medina Azahara torna-se a pedreira perfeita, não só tinha muita pedra, mas já estava perfeitamente cortada em blocos”, explica o diretor atual do sítio arqueológico.
A cidade caiu no esquecimento, que durou até 1911, quando as primeiras escavações na região trouxeram à tona os restos da mítica cidade.
Estima-se que apenas 11% do que foi a cidade esteja à vista. Ainda assim, o que restou da “cidade brilhante” foi em 2018 declarado Património da Humanidade pela UNESCO.
Uma parte da cidade califal vai agora atravessar o Atlântico e mostrar os seus segredo em Nova Iorque, onde será protagonista de uma ambiciosa exposição, sob o nome de “Madinat al-Zahra: a deslumbrante capital da Espanha Islâmica”.
Segundo o ABC, a exposição contará com 111 peças enviadas de quatro museus da Andaluzia, e estará patente ao público entre outubro deste ano e março de 2025, no Instituto para o Estudo do Mundo Antigo da Universidade de Nova Iorque.