/

A Bulgária vai aderir ao euro em janeiro. Nem todos estão satisfeitos

1

O euroceticismo está a crescer na Bulgária à boleia da subida dos partidos nacionalistas e grande parte da população não quer aderir à moeda única.

A União Europeia deu luz verde para que a Bulgária adira ao euro a partir de 1 de janeiro de 2026. Este é um passo significativo rumo à integração europeia, que ocorre apenas seis meses após o país se ter tornado membro de pleno direito do espaço Schengen, onde é possível circular livremente entre fronteiras.

No entanto, apesar do ritmo acelerado da aproximação ao nível institucional, o euroceticismo mantém-se presente entre a população e no panorama político nacional.

Têm surgido protestos contra a adesão ao euro tanto na capital, Sófia, como em várias outras cidades do país. Uma sondagem realizada em maio revelou que 38% dos búlgaros se opõem à moeda única, enquanto apenas 21% defendem que a mudança ocorra já em janeiro.

Outros preferem adiar a transição por mais alguns anos. Numa sondagem semelhante em janeiro, 40% afirmaram que nunca gostariam que a Bulgária aderisse ao euro.

Os protestos contra o euro estão geralmente associados a partidos políticos nacionalistas búlgaros. O mais influente é o Vazrazhdane, que tem vindo a ganhar popularidade: nas eleições parlamentares de outubro de 2024 conquistou 13,63% dos votos, quando em abril de 2021 tinha obtido apenas 2,45%.

A Bulgária aderiu à UE em 2007. Em dezembro de 2021, um antigo porta-voz do partido NDSV (Movimento Nacional Simeão II), que governou entre 2001 e 2009, revelou que os búlgaros tinham grandes expectativas em relação à entrada no bloco europeu.

Pensavam que bastariam alguns anos para que o país alcançasse o nível de desenvolvimento económico da Suíça e que o seu padrão de vida subiria drasticamente. O sonho era que a Bulgária se tornasse a “Suíça dos Balcãs”, dada a semelhança no tamanho da população e no potencial turístico.

Desde então, a UE canalizou 16,3 mil milhões de euros para a Bulgária, principalmente para desenvolvimento de infraestruturas. Contudo, após um ano de trabalho de campo, ficou claro que Sófia foi a principal beneficiária: recebeu 3,1 mil milhões de euros, enquanto Plovdiv recebeu 800 milhões. Pequenos municípios e zonas rurais não sentiram tanto os efeitos positivos. Em algumas zonas, a população continua com dificuldades em aceder a serviços públicos básicos, como o fornecimento de água de qualidade, algo que afeta quase 15% dos búlgaros.

A promessa de um estilo de vida “europeu” ainda não chegou a muitas regiões do país.

A entrada na UE permitiu que muitos cidadãos búlgaros fossem viver e trabalhar no estrangeiro. Em 2022, havia oficialmente 861 054 búlgaros a residir noutros países da UE. Atualmente, cerca de 74% dos jovens búlgaros consideram, de forma mais ou menos séria, a hipótese de emigrar.

Este êxodo tem causado uma fuga de cérebros e contribuiu para a redução populacional: de 7,68 milhões em 2006 para 6,44 milhões em 2024.

Segundo um analista de uma ONG com sede em Sófia, muitos pais esperam que os filhos regressem, já que os empregos no estrangeiro não são, muitas vezes, altamente qualificados.

A adesão ao euro deverá beneficiar mais as pessoas com negócios internacionais, sobretudo residentes em Sófia, do que os mais idosos que vivem em zonas rurais. São os mais jovens e ativos que têm colhido os maiores frutos da integração europeia, como já aconteceu na Roménia.

Apesar disso, o apoio à adesão à UE tem vindo a crescer nos últimos tempos.

Manter a coligação unida

Apesar do euroceticismo, a integração europeia é um dos poucos temas que une o frágil governo de coligação da Bulgária — ainda que nem todos os partidos concordem com a entrada na zona euro.

Entre abril de 2021 e outubro de 2024, o país realizou sete eleições parlamentares. Surpreendentemente, a coligação formada em outubro de 2024 tem-se mantido. Um dos fatores mais importantes tem sido precisamente o consenso em torno do projeto europeu.

Contudo, com resultados mistos até ao momento e uma oposição significativa à adesão ao euro, o governo búlgaro terá de agir com cautela para evitar que movimentos eurocéticos cresçam — como já aconteceu noutros países da União Europeia.

1 Comment

  1. mais uns a ir pelo cano abaixo… quando um café que custava 50 escudos passou a custar 50 cêntimos, ou uma bebida no café passou de 100 escudos para 1 euro (1 euro = 200 escudos) os ordenados não duplicaram… até as casas eram mais baratas… o euro só beneficia economias mais fortes como a Alemanha, países pequenos como Portugal só servem para ajudar os outros a enriquecer…

    Editar – 

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.