À medida que o gelo derrete nas plataformas glaciares, a Antártida está gradualmente a emergir do oceano — uma subida inesperadamente rápida, que se manifesta em décadas em vez de séculos.
A Antártida está a perder peso, permitindo que o continente se erga do oceano — como uma esponja outrora esmagada, agora livre para se expandir novamente.
Esse peso é o seu gelo, conta o Science Alert.
O processo chama-se elevação pós-glacial, e novas investigações sugerem que terá um enorme impacto na futura subida global do nível do mar: poderá reduzir a contribuição da Antártida em até 40% — ou algo muito pior, dependendo da quantidade de combustíveis fósseis que derretem o gelo e que libertam calor.
Um novo estudo, publicado este mês na Science Advances, sugere que as forças naturais da Terra podem reduzir substancialmente o impacto da Antártida na subida do nível do mar, mas apenas se as emissões de carbono forem rapidamente reduzidas nas próximas décadas.
Do mesmo modo, se as emissões continuarem na trajetória atual, a perda de gelo na Antártida poderá conduzir a uma subida do nível do mar mais acentuada do que se pensava, conclui o estudo, conduzido por investigadores da Universidade McGill, no Canada, e das Universidade do Ohio e do Massachusetts, nos EUA.
“Com quase 700 milhões de pessoas a viver em zonas costeiras e o custo potencial da subida do nível do mar a atingir biliões de dólares até ao final do século, é crucial compreender o efeito dominó do degelo antártico”, explica Natalya Gomez, glaciologista da McGill e primeira autora do estudo, numa nota da universidade.
E, nos últimos anos, o gelo antártico tem-se mantido teimosamente baixo.
Gomez e os seus colegas examinaram o manto terrestre por baixo do manto de gelo antártico e descobriram que é particularmente mole nalgumas áreas importantes. Os dados sísmicos revelaram que este elevado nível de viscosidade está a provocar a subida inesperadamente rápida da terra.
“As nossas medições mostram que a terra sólida que forma a base do manto de gelo do Antártico está a mudar de forma surpreendentemente rápida“, explica o geólogo Terry Wilson, investigador da Universidade do Estado do Ohio e co-autor do estudo, num comunicado da universidade.
“A elevação da massa de terra devido à redução do gelo à superfície está a acontecer em décadas, em vez de ao longo de milhares de anos“, acrescenta o investigador.
A equipa usou então modelos 3D para simular a subida do nível do mar devido à alteração da massa terrestre da Antártida em diferentes cenários.
Se os níveis de aquecimento se mantiverem baixos, isso contribui para que o nível do mar aumente até 1,7 metros nos próximos 500 anos, mas este valor pode atingir os 19,5 metros se continuarmos a permitir que o aquecimento global aumente sem interrupção.
Isto deve-se ao facto de, quando o recuo da camada de gelo ultrapassa a elevação, mais água acaba por ser expelida para os oceanos. Mas se conseguirmos abrandar este degelo, a elevação da terra afastará parte do gelo das águas oceânicas mais quentes, permitindo a sua preservação durante mais tempo.
“Este estudo representa um avanço na nossa capacidade de prever melhor os impactos das alterações climáticas na subida dos mares e de informar uma política ambiental eficaz”, explica Robert DeConto, glaciologista da UMass e também co-autor do estudo.
Como a Terra não é uma esfera perfeitamente lisa, diferentes partes do nosso planeta sofrerão impactos únicos no nível do mar, graças a peculiaridades gravitacionais, rotacionais e geológicas.
“Os nossos resultados corroboram conclusões de um estudo recente de que as ilhas de baixa latitude e as zonas costeiras que já estão a ser afetadas pela subida do nível do mar sofrerão uma subida do nível do mar superior à média associada à perda de gelo na Antártida, independentemente do cenário de perda de gelo“, explicam Gomez e a sua equipa.
Há ainda muita incerteza no modelo, advertem os investigadores, particularmente devido à falta de dados sísmicos da Antártida Ocidental. E estas estimativas nem sequer têm em conta o que está a acontecer com o gelo da Gronelândia e das montanhas do mundo.
“Para documentar a rapidez com que o nosso mundo está a mudar, é muito importante continuar a desenvolver a nossa capacidade de fazer previsões mais seguras, que é o único caminho que nos permitirá prever o nosso futuro de uma forma significativa”, explica Wilson.
A subida do nível do mar já está a afetar ilhas de baixa altitude como as de Kiribati. A maior parte de Tarawa do Sul está a menos de 3 metros acima do nível do mar, onde os aldeões de Temaiku têm tentado conter o oceano com sacos de areia, que foram arrastados no início deste ano, inundando casas e contaminando com sal os solos das culturas e os poços de água.
Entretanto, as zonas húmidas estão presas entre a subida das águas e as infra-estruturas humanas, como as estradas. A perda destes ecossistemas, que filtram a água e controlam a erosão, significará que a subida do nível do mar atingirá ainda mais estas áreas.
“A redução das emissões de gases com efeito de estufa permitirá que a recuperação da Terra sólida desempenhe um papel mais importante na preservação de mais camadas de gelo da Antártida e evitará os piores e mais injustos impactos das futuras alterações climáticas nas costas globais”, concluem Gomez e colegas.