Quem tem cães em casa sabe que é praticamente impossível controlar a felicidade destes animais quando se chega a casa. Agora especialistas finalmente explicam porquê.
Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que os cães são descendentes dos lobos. Apesar disso, investigadores acreditam que os cães são bastante diferentes dos seus antepassados relativamente ao facto de procurar, de uma forma mais ativa, a companhia dos seres humanos.
Para o neurocientista Gregory Berns, autor do livro “How Dogs Love Us“, há uma diferença fundamental entre as duas espécies.
Em declarações ao io9, o especialista considera que “os lobos que sociabilizavam com humanos tinham de ser os mais sociais daquela época” porque “a maioria dos lobos era muito antissocial e queria tudo menos relacionar-se com humanos”.
Porém, Berns confirma que existem comportamentos claros nos lobos que são semelhantes aos dos cães. Lamber os focinhos uns dos outros é um exemplo.
Para estes animais, este comportamento é não só importante a nível social mas também uma forma de verificar se os outros lobos trazem comida para casa.
Jessica Hekman, especialista em cães, tem estudado os comportamentos de saudação dos lobos. De acordo com a sua investigação, alguns dos comportamentos dos lobos assemelha-se aos dos cães mas são muito mais ritualizados.
No entanto, de acordo com um estudo comportamental que consistia em separar lobos que se conheciam bem e depois voltarem a reencontrar-se, “os rituais foram fascinantes”.
É certo que os cães têm comportamentos muito diferentes dos lobos e, segundo Hekman, uma das causas é os cães terem a capacidade de aceitar mais facilmente a novidade e terem menos medo de lidar com isso.
“Pode soar um pouco estranho, especialmente porque um lobo parece muito mais fatal mas é aí que reside a diferença: os lobos optam por medidas pro-ativas para se protegerem, usando os dentes. Já os cães são muito menos propensos a fazer isso”, afirma.
Os humanos são especiais (e cheiram bem)
Um aspeto fundamental da pesquisa de Berns é estudar como os cães veem os humanos.
Segundo o neurocientista, o cheiro de um ser humano familiar provoca no cérebro dos cães uma resposta de recompensa.
“Nenhum outro cheiro faz isso, nem mesmo o de um outro cão conhecido. Não significa que eles nos vejam como membros da matilha mas sabem que nós somos diferentes – existe um espaço especial no cérebro deles só para nós”.
Muitos especialistas concordam que a felicidade dos cães é comparável com a que os humanos sentem uns pelos outros.
“Ver um amigo ou uma pessoa de que gostamos, esse sentimento é exatamente igual ao que o cão experiencia quando nos vê”, comenta Berns.
Contudo, o cumprimento do cão muda consoante vários fatores como, por exemplo, o seu temperamento, a personalidade do dono, a natureza da relação entre os dois e até os níveis de stress e ansiedade presentes.
Hekman diz que é necessário imaginar como será para o cão estar sozinho todo o dia. “Para além de estarem contentes por nos ver, provavelmente sentem que vão fazer algo verdadeiramente interessante como, por exemplo, dar um passeio”.
Como afirma Berns, para além da saudação, é uma questão de satisfazer a curiosidade. “Os cães saltam para tentar lamber-nos a cara. Isto acontece não só porque nos querem receber, mas para cheirar e perceber onde estivemos e o que fizemos”.
É obviamente importante responder à felicidade do cão, mas, como afirma Marcello Siniscalchi, veterinário da Universidade de Bari, a maneira como devemos reagir depende do contexto da situação.
“Alguns cães precisam de sentir que percebemos a receção. Noutros casos é melhor evitar grandes níveis de excitação”.
Hekman demonstra que é importante não dizer o que não devem fazer mas sim o que devem fazer.
Por isso, esqueça o “Não me saltes!” e experimente antes o “Vai para o sofá”.
FM, ZAP