À medida que a sonda New Horizons, da NASA, se aproxima do voo histórico desta terça-feira por Plutão, continua a fazer as suas diversas funções, produzindo imagens de um mundo gelado que se tornou mais fascinante e complexo com o passar dos dias.
No dia 12 de julho, a New Horizons capturou a imagem com definida inédita de Plutão, que sugere algumas novas características de interesse para a equipa GGI (Geology, Geophysics and Imaging), agora reunida no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Laurel, no estado americano de Maryland.
Pela primeira vez, a imagem revela características lineares que podem ser penhascos, bem como uma característica circular que pode ser uma cratera de impacto. A surgir do lado esquerdo, está a denominada área em forma de coração que será observada em mais detalhe durante a maior aproximação da New Horizons.
Lançada em 19 de janeiro de 2006, a New Horizons percorreu cinco mil milhões de quilómetros, durante mais de nove anos, para alcançar Plutão.
Às 12h49 desta terça-feira, a sonda passou a aproximadamente 12.500 km do planeta anão e a 49.600 km/h, os seus sete instrumentos científicos a trabalhar a todo o gás para recolher dados. A câmara de longo alcance da sonda conseguirá captar em alta resolução características tão pequenas quanto 70 metros.
Cerca de 14 minutos depois da maior aproximação, passará a cerca de 29 mil quilómetros de Caronte e capturará também imagens das quatro luas mais pequenas de Plutão – Hidra, Nix, Cérbero e Estige.
Depois da passagem, a sonda virar-se-á para fotografar Plutão a eclipsar o Sol, enquanto procura também a existência de anéis ou camadas de poeira iluminadas pela luz.
Os outros seis instrumentos científicos vão construir mapas termais do par Plutão-Caronte, medir a composição da superfície e atmosfera e observar a interação de Plutão com o vento solar. Tudo isto acontecerá em modo automático.
Plutão é maior do que se esperava
A sonda New Horizons já respondeu a uma das questões mais básicas sobre Plutão – o seu tamanho. Os cientistas da missão determinaram que Plutão tem 2370 km em diâmetro, um pouco maior que as estimativas anteriores. Este resultado confirma o que já se esperava: Plutão é maior do que todos os outros objetos conhecidos para lá da órbita de Neptuno.
A nova estimativa do tamanho de Plutão significa que a sua densidade é inferior ao que se pensava, e que a fração de gelo no seu interior é ligeiramente maior. Igualmente, a camada mais baixa da atmosfera de Plutão, chamada troposfera, é também mais fina do que se pensava.
A medição do tamanho de Plutão tem sido um desafio de décadas devido a fatores complexos derivados da sua atmosfera. Caronte, a maior lua, não tem uma atmosfera substancial e o seu diâmetro foi mais fácil de determinar usando telescópios terrestres. As observações da New Horizons confirmam as estimativas anteriores de 1.208 km.
A sonda também começou a estudar as luas mais pequenas, nomeadamente Nix e Hidra. Nix tem um tamanho estimado em aproximadamente 35 km, enquanto Hidra mede mais ou menos 45 km. Estes tamanhos levam os cientistas a concluir que as suas superfícies são muito brilhantes, possivelmente devido à presença de gelo.
No que toca às restantes duas luas, Cérbero e Estige, estas são mais difíceis de estudar. Os cientistas da missão deverão conseguir determinar os tamanhos com as observações da sonda durante a passagem pelo planeta anão.
Última foto das interessantes manchas de Plutão
As manchas aparecem no lado de Plutão orientado sempre para a sua maior lua, Caronte. Esta face será invisível para a New Horizons quando realizar o flyby de hoje. Alan Stern, investigador principal da New Horizons, descreve a imagem como o “último e melhor olhar que teremos do lado oculto de Plutão durante décadas“.
As manchas estão ligadas por uma faixa escura que rodeia a região equatorial de Plutão. O que continua a despertar o interesse dos cientistas é o seu tamanho semelhante e até mesmo o espaçamento.
“É estranho estarem espaçadas tão regularmente,” afirma Curt Niebur, cientista do programa New Horizons na sede da NASA em Washington, EUA. Jeff Moore, do Centro de Pesquisa Ames da NASA, em Mountain View, no estado da Califórnia, está igualmente intrigado: “nós não conseguimos discernir se são planaltos ou planícies, ou se são variações de brilho numa superfície completamente lisa.”
As grandes áreas escuras têm um tamanho atualmente estimado em 480 km. Em comparação com as imagens anteriores, vemos agora que as áreas escuras são mais complexas do que inicialmente pareciam, enquanto as fronteiras entre os terrenos escuros e brilhantes são irregulares e bem definidos.
Abismos e Crateras em Caronte
As imagens mais recentes da maior lua de Plutão, Caronte, revelam que é um mundo de abismos e crateras. De acordo com William McKinnon, da equipa GGI, o mais pronunciado, que se encontra no hemisfério sul, é mais longo e mais profundo que o Grand Canyon da Terra.
“Esta é a primeira evidência de falhas e ruturas à superfície de Caronte,” afirma. “A New Horizons tem transformado a nossa visão desta lua distante, de uma bola de gelo quase sem traços característicos, para um mundo que exibe todos os tipos de atividade geológica.”
A cratera mais proeminente, que se encontra perto do polo sul de Caronte, vista numa imagem obtida dia 11, mede cerca de 96,5 km de diâmetro. O brilho dos raios, material expelido para fora da cratera, sugere que se formou há relativamente pouco tempo (em termos geológicos), durante uma colisão com um pequeno objeto da Cintura de Kuiper, talvez durante os últimos milhares de milhões de anos.
O tom escuro do chão da cratera é especialmente interessante, comenta McKinnon. Uma explicação é que a cratera expôs um tipo de material gelado mais refletivo do que o que se encontra à superfície. Outra possibilidade é que o gelo no interior da cratera é o mesmo material que os seus arredores, mas contém grãos maiores de gelo, o que reflete menos luz solar. Neste cenário, o objeto impactante derreteu o gelo no chão da cratera que, em seguida, congelou novamente em grãos maiores.
A região escura e misteriosa perto do polo norte de Caronte prolonga-se por 320 km. As imagens que a sonda enviar, talvez um pouco antes da passagem mais próxima, podem fornecer mais pistas sobre a origem da região escura.
CCVAlg