Os estalidos nos joelhos, conhecidos em termos médicos como crepitação do joelho, são uma experiência comum em todas as idades. Mas, antes de carregar no botão de pânico, vale a pena perceber o que significam ter estes “joelhos barulhentos”.
É uma manhã tranquila. Calça os ténis, sai de casa e começa uma caminhada rápida. Mas logo nos primeiros passos, lá está: um som ligeiro de fricção, quase como o estalar da gravilha sob os pés — só que… vem do joelho.
Recorda-se de ter notado o mesmo ruído ao subir as escadas na semana passada. Faz alguns alongamentos rápidos e continua a andar. Mas o som volta de imediato.
A ansiedade instala-se: haverá algo de errado com o meu joelho? Será o osso a roçar no osso? Estará a desenvolver artrose?
Esta é uma experiência comum em pessoas de todas as idades, explicam Jamon Couch e Adam Culvenor, professores da La Trobe University, na Austrália, num artigo no The Conversation.
Mas, antes de carregar no botão de pânico, vale a pena perceber o que estes “joelhos barulhentos” — conhecidos em termos médicos como crepitação do joelho — podem realmente significar.
O que é a crepitação do joelho? E quão frequente é?
A crepitação do joelho refere-se a estalidos, rangidos ou ruídos de fricção que surgem ao dobrar ou esticar a articulação. Pode ouvi-los ao subir escadas, levantar-se de uma cadeira ou simplesmente ao caminhar.
Curiosamente, ainda não se sabe ao certo o que causa esta crepitação. As teorias apontam para possíveis lesões da cartilagem, tendões a deslizar sobre os ossos ou pequenas bolhas de gás no líquido que envolve o joelho.
Mas a evidência científica atual é insuficiente para determinar de forma clara a origem deste sintoma tão comum.
Uma revisão de 103 estudos sobre crepitação do joelho (envolvendo 36.439 pessoas), conduzida por Couch e Adam Culvenor e recentemente publicada no Bristish Journal of Sports Medicine, revelou que 41% da população geral tinha joelhos barulhentos.
Existe a perceção de que estes ruídos são sinal de lesão ou artrose. Contudo, 36% das pessoas sem dor ou histórico de lesão no joelho também apresentavam crepitação. Ou seja: a crepitação é frequente, mesmo entre pessoas sem qualquer problema articular.
Mas ouvi dizer que é sinal precoce de artrose…
Ter crepitação pode gerar preocupação e até levar algumas pessoas a evitar exercício físico ou esforço com os joelhos. A dúvida é recorrente: estarei a causar mais danos? Isto significa que vou ter artrose?
É verdade que os joelhos barulhentos são mais comuns em adultos mais velhos com artrose: 81% das pessoas com osteoartrose apresentam crepitação.
No entanto, a presença deste sintoma não é, por si só, um aviso de problemas futuros, nem deve ser motivo para deixar de se exercitar.
Num estudo com 3.495 adultos mais velhos (idade média de 61 anos), publicado em 2018 na Arthritis Care & Research, 2/3 dos que relataram ter sempre crepitação não desenvolveram osteoartrose sintomática nos quatro anos seguintes.
Entre os mais jovens com lesões anteriores no joelho, a situação é semelhante: a crepitação é comum, sobretudo após cirurgia, mas não significa obrigatoriamente danos graves.
Num outro estudo conduzido por Couch e Adam Culvenor, com 112 jovens adultos (idade média de 28 anos) que tinham sido operados a lesões no joelho, e publicado no mês passado na Arthritis Care & Research, os que apresentavam crepitação tinham o dobro da probabilidade de ter lesões na cartilagem (especialmente na rótula) no primeiro ano após a cirurgia.
Porém, isso não se traduziu em piores resultados a longo prazo. Ou seja: quem apresenta crepitação pode sentir mais dor ou sintomas nas fases iniciais após uma lesão, mas isso não significa uma recuperação pior ou maior risco de artrose no futuro.
O que fazer em relação aos joelhos barulhentos?
Dado que a crepitação é comum mesmo em pessoas sem dor, lesão ou artrose, geralmente não há motivo de alarme. Sim, pode ser incómodo ouvir os joelhos estalar em silêncio, mas se não há dor associada, não costuma ser preocupante.
Infelizmente, não existem tratamentos eficazes específicos para a crepitação. O melhor é apostar em medidas de saúde articular: exercício físico regular — tanto aeróbico como de reforço muscular — e manter um peso adequado.
É importante também ter cautela com a informação disponível online: mais de metade dos conselhos sobre “joelhos a estalar” não tem base científica sólida.
Num estudo publicado em 2023 na Science Direct, uma equipa de investigadores da La Trobe University analisou 51 sites com informação sobre crepitação do joelho, encontrou uma grande variação na credibilidade geral dos sites, com mais de metade dos sites sem informação fidedigna.
Então, quando é que se deve preocupar?
Apesar de geralmente ser inofensiva, a crepitação pode justificar avaliação médica se vier acompanhada de dor, inchaço, instabilidade ou bloqueio do joelho, ou outros sinais de artrose, como rigidez, vermelhidão ou perda de mobilidade.
Nestes casos, o médico poderá realizar uma avaliação física, analisar as estruturas do joelho e perceber o impacto dos sintomas na qualidade de vida.
O tratamento pode incluir fisioterapia e exercício para reforçar os músculos de suporte, aconselhamento nutricional para controlo do peso, ou medicação anti-inflamatória.
O mais importante: joelhos que rangem ou estalam, mas sem dor ou outros sintomas, não costumam ser motivo de preocupação. Por isso, calce os ténis e continue a mexer-se.