NASA/ESA/Leah Hustak (STScI)/Ralf Crawford (STScI)

Ilustração do exoplaneta GJ 9827d, o exoplaneta mais pequeno onde foi detetado vapor de água na atmosfera. O planeta pode ser um exemplo de potenciais planetas com atmosferas ricas em água noutros locais da nossa Galáxia.
E há um novo modelo para compreender estes mundos. Análises mais detalhadas das suas características podem ser cruciais para a procura de ambientes habitáveis além do Sistema Solar.
O Telescópio Espacial James Webb descobriu no ano passado o exoplaneta GJ 9827 d, que é cerca de duas vezes maior que a Terra e possui uma atmosfera composta quase inteiramente por vapor de água. Este foi o primeiro planeta identificado com tais características, o que abriu uma nova vertente de investigação relacionada à busca por vida extraterrestre.
Conhecidos como “mundos a vapor”, estes planetas são menores que Neptuno — também chamados de subneptunos — e maiores do que a Terra. A proximidade com as suas estrelas, porém, torna-os quentes demais para manter água líquida na superfície, fazendo com que as suas atmosferas sejam dominadas por vapor de água.
Os cientistas apontam que é improvável que estes mundos a vapor abriguem vida. Contudo, análises mais detalhadas das suas características podem ser cruciais para a procura de ambientes habitáveis além do Sistema Solar, especialmente a partir da compreensão de planetas oceânicos.
Novo modelo para os compreender
Diante do crescente interesse por planetas envoltos em vapor, astrónomos da Universidade da Califórnia em Santa Cruz desenvolveram um modelo teórico capaz de analisar com mais precisão estes astros extrassolares.
Segundo os cientistas, o objetivo é determinar tanto a composição como a origem destes mundos, considerando formas de água em estados exóticos difíceis de replicar na Terra.
“Quando entendermos como os planetas mais comummente observados no universo se formam, poderemos mudar o nosso foco para exoplanetas menos comuns que poderiam realmente ser habitáveis”, destacou em comunicado Artem Aguichine, líder da equipa e investigador da Universidade da Califórnia.
O modelo tem como foco principal o estudo das atmosferas espessas de vapor e das camadas de água supercrítica dos planetas subneptunos, segundo o estudo publicado no The Astrophysical Journal. Para tal, considera não apenas o comportamento da água em estado de vapor, mas também em condições extremas, como o supercrítico ou o gelo superiónico — estados exóticos em que a água pode ser encontrada em mundos a vapor.
“Os interiores dos planetas são ‘laboratórios’ naturais para estudar condições difíceis de reproduzir num laboratório na Terra. O que aprendemos pode ter aplicações imprevistas. Os mundos aquáticos são especialmente exóticos nesse sentido. No futuro, podemos descobrir que um subconjunto destes mundos representa novos nichos para a vida na galáxia”, realçou Natalie Batalha, professora da Universidade da Califórnia e coautora da investigação.
Os astrónomos também destacaram que o modelo não se concentra apenas em registos estáticos, mas procura compreender a evolução dos subneptunos ao longo de milhares de milhões de anos. Os investigadores afirmaram que o modelo será testado em breve com observações do James Webb e também com o telescópio PLATO (PLAnetary Transits and Oscillations of stars), da Agência Espacial Europeia (ESA).
O instrumento de observação da ESA, com lançamento previsto para 2026, tem como objetivo principal detetar planetas semelhantes à Terra localizados na zona habitável das suas estrelas — regiões onde a água pode permanecer em estado líquido, sem congelar ou evaporar completamente.
“O PLATO poderá dizer-nos quão precisos são os nossos modelos e em que direção precisamos refiná-los. Os nossos modelos estão, na prática, a fazer previsões para os telescópios e a ajudar a moldar os próximos passos na busca por vida fora da Terra”, acrescentou Aguichine.
// CanalTech