Praga pré-histórica saltou de espécie desconhecida para ovelhas — e depois humanos

Björn Reichhardt

Ossos arqueológicos de ovelhas descobertos em sítio arqueológico da Idade do Bronze na estepe euro-asiática

Um novo estudo descobriu ADN de peste antiga em ossos de ovelhas com 4.000 anos, lançando luz sobre como o patógeno conseguiu infetar milhares de pessoas em todo o mundo.

A bactéria Yersinia pestis era uma forma inicial de peste bubónica que circulou durante os períodos Neolítico Tardio e Idade do Bronze há cerca de 5.000 a 2.000 anos.

Este patógeno é uma forma geneticamente única e pré-histórica da peste que infetou humanos em toda a Eurásia — antes de presumivelmente se extinguir.

Um novo estudo, apresentado num artigo publicado nesta segunda-feira na revista Cell, descobriu agora ADN desta peste antiga em ossos de ovelhas com 4.000 anos.

“Temos mais de 200 genomas de Y. pestis de humanos antigos, mas os humanos não são um hospedeiro natural da peste”, diz Ian Light-Maka, investigador do Instituto Max Planck, na Alemanha, e autor principal do estudo, citado pela Cosmos.

A maioria dos patógenos humanos, como a peste, são de origem zoonótica. Isto significa que a peste passou por um processo conhecido como spillover, a transmissão de um patógeno entre espécies, onde neste caso específico o patógeno saltou dos animais para os humanos.

“Um dos primeiros passos para compreender como uma doença se espalha e evolui é descobrir onde se esconde, mas ainda não fizemos isso no campo do ADN antigo”, diz Light-Maka.

Rocky Mountain Laboratories, NIAID, NIH

Microfotografia eletrónica de varrimento que mostra uma massa de bactérias Yersinia pestis (a causa da peste bubónica) no intestino anterior do vetor da pulga

A equipa de investigadores do Instituto Max Planck, da Universidade de Harvard, Universidade de Arkansas e Universidade de Seul, investigou os ossos e dentes de gado da Idade do Bronze no sítio arqueológico de Arkaim, na Rússia, para rastrear este spillover.

Conduziram então uma análise genética que revelou que humanos e ovelhas foram infetados por estirpes de peste Y. pestis quase idênticas.

Se não soubéssemos que era de uma ovelha, todos teriam assumido que era mais uma infeção humana – é quase indistinguível”, diz Christina Warinner, professora de Arqueologia Científica na Universidade de Harvard nos EUA e coautora do estudo.

Com infeções de animais para humanos a aumentar – devido a mudanças causadas pelo homem no clima, uso da terra, densidade populacional e conectividade – o estudo demonstra o impacto que a domesticação animal tem na propagação e emergência de doenças zoonóticas.

A equipa formula a hipótese de que a peste terá sido neste caso transmitida através de um animal selvagem desconhecido para ovelhas e depois para humanos.

O patógeno em questão tem uma evolução distinta que carecia da maquinaria genética necessária para passar através de pulgas. Isto sugere que o spillover em não aconteceu de pulgas para ovelhas.

Arkaim fazia parte do complexo cultural Sintashta e ofereceu-nos um ótimo local para procurar pistas de peste”, diz Taylor Hermes, investigador da Universidade de Arkansas e também coautor do estudo.

“Eram sociedades pastoris antigas sem o tipo de armazenamento de grãos que atrairia ratos e as suas pulgas, e indivíduos Sintashta anteriores foram encontrados com infeções de Y. pestis. Poderia o seu gado ser um elo em falta?“, questiona Hermes.

Os investigadores sugerem que as descobertas se enquadram no contexto histórico da Idade do Bronze, pois houve um aumento na criação de gado que pode ter levado a maior contacto entre humanos e ovelhas.

“A cultura Sintashta-Petrovka é famosa pelo seu extenso pastoreio sobre vastas pastagens auxiliado por tecnologias inovadoras de cavalos, isto proporcionou muitas oportunidades para o seu gado entrar em contacto com animais selvagens infetados por Y. pestis“, diz Warinner.

Embora permaneçam questões sobre como os patógenos se espalharam tão longe num curto período de tempo, os investigadores esperam que este estudo seja apenas o início. “Haverá cada vez mais interesse em analisar estas coleções”, diz Key, “Elas dão-nos perspetivas que nenhuma amostra humana pode”.

ZAP //

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