Porque as moedas têm ranhuras — e o que Newton tem a ver com isso

1

Essas pequenas ranhuras ao redor das bordas dos quartos e dimes não são apenas decorativas—são o resultado de uma batalha secular contra a fraude monetária — que envolveu um dos cientistas mais famosos da história.

A história das ranhuras das moedas começa no século XVII com uma prática chamada “corte de moedas“.

Os criminosos raspavam cuidadosamente pequenas quantidades de metal precioso das bordas lisas das moedas de ouro e prata, depois gastavam a moeda raspada pelo valor total — e vendiam as raspas de metal para obter lucro.

Sem moedas de referência para comparação, esta fraude era quase impossível de detetar — e dava na altura bastante lucro aos “raspadores de moedas”, diz o Readers Digest.

Eis senão quando entra em ação para resolver o problema um dos maiores génios da história da humanidade: Sir Isaac Newton. Sim, esse mesmo, o físico britânico que descobriu a gravidade — reza a lenda que à custa de uma maçã.

Em 1690, sendo na altura o Mestre da Casa da Moeda Real de Inglaterra, Newton introduziu bordas fresadas para combater este roubo desenfreado. As bordas ranhuradas tornavam a adulteração imediatamente óbvia, pois qualquer moeda cortada teria secções lisas reveladoras a interromper o padrão das suas ranhuras.

A inovação mostrou-se tão eficaz que, quando os Estados Unidos estabeleceram a sua casa da moeda, em 1792, adotaram a tecnologia anti-corte de Newton como prática padrão para moedas contendo metais preciosos.

As moedas antigas não tinham ranhuras

Contrariamente ao que muitos assumem, as ranhuras nem sempre foram uma característica das moedas.

As primeiras moedas conhecidas, cunhadas por volta de 600 a.C. na antiga Lídia (atual Turquia), eram simples massas de bordas lisas feitas de electrum, uma liga natural de ouro com alguma prata.

Mesmo as sofisticadas moedas da Grécia e Roma antigas, apesar dos seus desenhos intrincados e formas padronizadas, careciam das bordas ranhuradas distintivas que conhecemos hoje.

As ranhuras não apareceram até ao final do século XVI, e apenas então como resposta direta à ameaça emergente do corte de moedas.

Por que apenas certas moedas têm ranhuras

Inicialmente, as moedas feitas de metais valiosos como prata e ouro tinham as bordas ranhuradas porque valiam o esforço de as raspar.

No entanto, as moedas menos valiosos, como as de cêntimos, compostas de metais base mais baratos como cobre e níquel, não eram suficientemente valiosas para tentar os ladrões. O custo adicional de fabrico de criar bordas ranhuradas simplesmente não se justificava para moedas de baixo valor.

Atualemnte, mesmo que as moedas já não contenham metais preciosos, mantemos esta tradição em moedas de denominação mais alta — para fins de segurança e reconhecimento.

Na Europa, por exemplo, as moedas de 2 e 1 euros, e 50, 20 e 10 cêntimos, têm ranhuras — enquanto as moedas de 5, 2 e 1 cêntimo têm as bordas lisas.

Esta distinção não é arbitrária — baseia-se no valor histórico das moedas e em questões de ordem prática.

Criar estas ranhuras precisas envolve maquinaria sofisticada. Um disco de metal em branco chamado planchete é colocado entre duas matrizes que estampam o desenho da moeda, enquanto um terceiro componente—o colar—rodeia o branco.

Este colar contém ranhuras, e quando a moeda é cunhada, sob tremenda pressão, o metal é forçado para dentro dessas ranhuras, criando o padrão ranhurado familiar.

E porque hoje ainda as têm?

Embora a raspagem de moedas já não seja uma preocupação, uma vez que o metal usado no seu fabrico já nem corresponde ao valor facial da moeda, as ranhuras continuam a servir múltiplas funções importantes.

A segurança é um dos motivos para que as ranhuras continuem a ser usadas — embora os falsificadores modernos tenham atualmente técnicas que contornam as dificuldades que as ranhuras poderiam colocar-lhes.

A acessibilidade é crucial para indivíduos com deficiência visual que dependem do tato para distinguir entre moedas de tamanho similar. O padrão específico de algumas moedas mais valiosas, como a de 2 euros, ajuda-os a identificá-las mais facilmente.

Os sistemas automatizados das máquinas de venda automática e dispositivos de contagem de moedas usam as ranhuras das moedas, entre outras características físicas, para validar e classificar as moedas.

À medida que os pagamentos digitais dominam cada vez mais as transações e alguns países eliminam gradualmente moedas de baixa denominação, o futuro da moeda física permanece incerto. No entanto, não há atualmente nenhum movimento que sustente a eliminação das ranhuras das moedas correntes.

Embora o seu propósito anti-roubo original tenha largamente desaparecido, as ranhuras tornaram-se parte integrante do design de moedas e da expectativa pública.

Assim, as ranhuras nas moedas vieram para ficar, e de cada vez que pegar numa moeda de 2 euros, lembre-se de que essas ranhuras são mais um singelo contributo que Sir Isaac Newton nos deixou.

ZAP //

1 Comment

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.