Começámos a soprar as velas para imitar a Lua — antes dos cristãos, anti-aniversários

“Quando e porque é que começámos a soprar velas de aniversário?” são perguntas que certamente muita gente coloca, e a resposta está escrita na história.

A prática é universal em festas de anos e começou há séculos, não por simplesmente ser divertido, mas por motivos religiosos e espirituais.

Embora se acredite que a origem das velas em bolos de aniversário possa remontar à Roma antiga, a verdade é que não há registos que provem a colocação de velas especificamente em bolos nessa época, nota a National Geographic. A ligação mais antiga entre velas, bolos e espiritualidade surge na verdade na Grécia antiga, associada ao culto de Ártemis, deusa da Lua.

Nos templos dedicados à divindade, como o Artemision de Éfeso, os fiéis faziam oferendas com bolos redondos — simbolizando a Lua — que podem ter sido iluminados com velas acesas de forma a imitar a luz do nosso satélite natural ou de invocar a presença divina, utilizando o fogo como meio de comunicação espiritual.

O fogo, enquanto elemento simbólico e ritual, era comum a muitas culturas indo-europeias e usado em altares e cerimónias tanto domésticas como públicas. Com a expansão do Império Romano e a disseminação de práticas culturais gregas e romanas, a simbologia do fogo e a sua associação com o nascimento e a passagem do tempo espalharam-se por toda a Europa.

Kinderfest

O hábito mais próximo da atual tradição moderna surgiu na Alemanha com o Kinderfest, uma celebração infantil que procurava proteger as crianças dos espíritos malignos nos seus aniversários: acendiam-se velas que ficavam a arder durante todo o dia, e o seu fumo teria a função de levar os desejos da criança até ao céu. Era uma forma de invocar proteção divina, mas também de assinalar a importância do crescimento e do amadurecimento pessoal.

Apesar das reticências iniciais do cristianismo — que via os aniversários como festividades pagãs e egoístas — a prática manteve-se em algumas regiões protestantes, especialmente a partir do século XVII, quando se começou a valorizar mais os dias pessoais, como o aniversário de nascimento, batismo ou confirmação.

Do bolo de Goethe para o mundo

Uma das primeiras referências documentadas a bolos de aniversário com velas surge na autobiografia de Johann Wolfgang von Goethe, que descreve o seu 52.º aniversário com um grande bolo decorado com cerca de 50 velas.

Com o tempo, o simbolismo das velas evoluiu: cada vela passou a representar um ano de vida, e acendê-las simbolizava a luz interior do aniversariante. Soprá-las de uma só vez tornou-se, então, um ato carregado de desejo e esperança. Apagar todas as velas com um só sopro passou a ser associado à concretização de um desejo silencioso — uma forma moderna de oração votiva.

A tradição espalhou-se gradualmente por outros países europeus, mas a internacionalização definitiva de apagar as velas deu-se no século XX, particularmente após a Segunda Guerra Mundial. A influência da cultura norte-americana — respirada através de filmes, televisão, postais, canções e marcas como a Disney, Hallmark e Betty Crocker — ajudou a difundir a imagem do bolo de aniversário com velas por todo o mundo.

ZAP //

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