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O (raro) Grease está em Portugal. Muitos dos artistas nem sabiam o que é

(dr) Grease no Mayflower Theatre

Grease no Mayflower Theatre

Academia de Música de Vilar do Paraíso apresenta o famoso musical. Há assuntos delicados mas é preciso não esquecer a História.
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“Bom novo ano lectivo para todos!”. Há novidade na escola, há uma Sandra nova para conhecer, convém ter a aprovação do grupo de amigos – sejam antigos ou recentes, atenção ao style, aos casacos de cabedal, aos cabelos “lambidos”.

Há um amor de Verão que afinal não acabou, há uma procura eterna pela relação eterna, com diálogos que têm alguns excertos atrevidos.

E uma jovem que está lá no canto a protagonizar uma emissão radiofónica.

Isto é o Grease.

Mas o que é o Grease para João Guimarães? “É um espectáculo muito especial: primeiro, porque fiz excertos deste espectáculo há mais de 20 anos aqui na Academia, quando era actor; e porque em 2018 fiz a primeira produção oficial profissional do Grease em Portugal, com a Yellow Star Company, com o Diogo Morgado, ao lado de grandes actores e actrizes, uma equipa espectacular. É duplamente especial”.

João Guimarães é o encenador da versão de Grease da Academia de Música de Vilar do Paraíso. A estreia foi nesta sexta-feira, no Auditório Municipal de Vila Nova de Gaia. Ainda antes da estreia oficial, João falou com o ZAP.

Não é um musical que seja adaptado muitas vezes em Portugal. Aliás, até demorou 35 anos para chegar aos palcos portugueses pela primeira vez. É difícil encontrar um motivo: “Pode ter a ver com as temáticas, que são delicadas e datadas – há assuntos um bocadinho misógenos, como a relação do homem com a mulher, que é um assunto muito actual; e as pessoas têm receio de tocar nesses assuntos, porque podem ofender alguém”.

Mas há o outro lado nesses assuntos delicados: “É importante não nos esquecermos da História, da memória, para percebermos até onde chegámos e para onde não queremos retroceder. Até faz bem pegar nisto, desde que seja para demonstrar o certo e o errado”.

Em palco há 57 artistas. 48 actores, 9 músicos. Todos entre os 15 e os 30 anos. Pormenor que não é pormenor: muitos deles não sabiam o que era o Grease. Podiam conhecer uma ou duas músicas, mas não conheciam o conteúdo, o musical. “Nunca tinham ouvido mais de metade das músicas, não faziam ideia da característica tão vincada, a nível histórico, cultural e social na década 1960, nos EUA”.

Essa falta de conhecimento foi um “grande desafio” para o encenador. Foi mesmo o principal desafio: “Eles perceberem como estes jovens se comportavam, o que significava para eles ter um carro, ter um gira-discos, poder usar uma saia mais curta ou umas calças, o que significava juntar rapazes e raparigas numa festa, o peso da religião…”.

João Guimarães admite que o mais difícil foi gerir os horários de todos. É um curso (de teatro musical) pós-laboral, não é profissional. Ter todos os artistas no mesmo ensaio foi raro. “Isto não é uma crítica aos alunos. É uma constatação, é um desafio”, sublinha.

O que é a Academia e este curso?

A Academia de Música de Vilar do Paraíso tem quase 50 anos. Criada em 1979 como uma academia dedicada exclusivamente à música. Apareceram o ballet e a dança, cerca de uma década depois.

Foi em 1995 que, com um coro de música ligeira, começaram a surgir canções soltas de musicais: “Foi aí que começámos a descobrir que havia teatro que também era cantado”, recorda João, que era um dos elementos desse coro.

E foi a partir daí que começou a ser criado um curso de teatro musical estruturado, com as disciplinas nucleares. A certificação de formação veio de Londres e o curso surgiu. É um curso de 3 anos, há provas de ingresso onde é logo estabelecido um “nível mínimo de pré-requisito”.

Hoje em dia dá formação na área de dança, interpretação, canto ensemble, canto individual, voz falada e projecto.

Esta multidisplicinaridade verifica-se, por exemplo, na lista dos tradutores/adaptadores de Grease: foram os próprios alunos da Academia a fazer a tradução inicial, que depois é revista. No meio da participação de vários outros professores, a coreografia é de Daniela Pinto, a direcção musical de André Lacerda.

No ano passado o espectáculo escolhido foi West Side Story. Desta vez foi Grease, que está em cena no Auditório Municipal de Gaia apenas até este domingo, dia 20 de Julho. Há duas sessões por dia, às 16h e às 21h30.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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