Projeto é alimentado por energia eólica e promete utilizar pelo menos 30% menos eletricidade do que os centros de dados que existem atualmente em terra. A Microsoft já tentou fazê-lo e teve problemas.
Muitas empresas — gigantes da tecnologia, como a Amazon, Microsoft e Google —, começaram mos últimos anos a instalar os seus data centers nas regiões mais secas do mundo, acreditando que o ar seco reduz os riscos de danos nos equipamentos, causados pela humidade, apontou uma investigação da organização jornalística sem fins lucrativos SourceMaterial e do The Guardian.
Estes centros contêm milhares de servidores que operam 24 horas por dia, e armazenam gigantescos volumes de informação. O grande problema é o calor que geram, que obriga ao uso intensivo de sistemas de arrefecimento — que são responsáveis por cerca de 40% do consumo elétrico de um centro de dados típico, segundo a Scientific American. O arrefecimento é normalmente feito com água pulverizada ou evaporada, muitas vezes proveniente de fontes subterrâneas, rios ou águas residuais tratadas.
A resposta da China pode vir a ser bem diferente: a superpotência está a investir em data centers subaquáticos para enfrentar os desafios ambientais que o investimento crescente em Inteligência Artificial (IA) traz.
O país terá iniciado em junho a construção de um data center submarino, a cerca de 10 quilómetros da costa de Xangai, um dos principais polos chineses de IA.
O projeto, liderado pela empresa Hailanyun (também conhecida como HiCloud), é alimentado por energia eólica e promete utilizar pelo menos 30% menos eletricidade do que os centros de dados em terra, graças ao arrefecimento natural que a água do mar proporciona.
O novo centro subaquático de Xangai utiliza tubagens que canalizam água do mar através de radiadores instalados na traseira das prateleiras de servidores, dissipando o calor de forma mais eficiente.
O centro será alimentado em 97% por um parque eólico offshore e a primeira fase incluirá 198 prateleiras de servidores, com capacidade para entre 396 e 792 servidores otimizados para IA, diz a empresa. Quando entrar em funcionamento, o que está previsto para setembro, terá potência computacional suficiente para treinar um modelo de linguagem como o GPT-3.5 em apenas um dia.
Em apenas dois anos e meio, o projeto passou de um projeto-piloto na província de Hainan para uma implementação comercial em larga escala. Mas nem tudo são boas notícias.
A Microsoft fê-lo primeiro
O conceito de centros de dados subaquáticos não é novo. A Microsoft foi pioneira neste campo com o “Project Natick”, iniciado há mais de uma década, onde submergiu um contentor com mais de 800 servidores ao largo da Escócia.
O projeto provou que estes centros eram viáveis, sustentáveis e até mais fiáveis, por causa da selagem hermética e da ausência de oxigénio corrosivo.
A Microsoft parece ter abandonado o desenvolvimento do projeto, mas diz continuar a usá-lo como plataforma de investigação para testar novas abordagens à fiabilidade e sustentabilidade da infraestrutura digital.
Até porque apesar de tudo, a Microsoft identificou um ligeiro aquecimento da água junto ao seu protótipo, embora limitado. E durante ondas de calor marinhas, a descarga de água ainda mais quente e com menos oxigénio pode ameaçar a biodiversidade aquática.
Há também riscos de segurança. Um estudo de 2024 revelou que certos sons produzidos por altifalantes subaquáticos podem danificar centros de dados submersos. Estarão estes data centers mais vulneráveis a ataques?
A Hailanyun, no entanto, responde que os seus centros são “amigos do ambiente”, citando avaliações realizadas em 2020 numa cápsula de testes no rio das Pérolas, no sul da China, que indicaram um aumento de temperatura inferior a um grau nas águas circundantes.