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Se fala com o seu animal como se fosse um amigo… continue

Se alguma vez deu por si a falar com a sua gata ou a dizer ao seu cão que é um animal exemplar, está longe de estar sozinho. Os psicólogos afirmam que tratar os animais como se fossem seres humanos pode ajudar-nos a ser pessoas melhores.

Longe de ser uma excentricidade, o impulso de comunicar com os nossos animais, uma forma de antropomorfismo, revela um conjunto de valiosas competências emocionais.

Vários estudos mostram que o antropomorfismo está associado a laços sociais mais fortes, imaginação mais rica e até alterações bioquímicas mensuráveis, como níveis mais baixos de cortisol, hormona do stress, e níveis mais elevados de ocitocina, hormona afetiva.

Segundo a VegOut, as pessoas que falam com os seus animais de estimação têm habitualmente mais empatia e capacidade de ver outras perspetivas. Imaginar um mundo onde o nosso animal fala, obriga-nos a ter em conta o lugar do outro.

Um artigo publicado no ano passado na revista Frontiers in Psychology mostrou que o apego aos animais de estimação estimula a uma relação positiva de empatia para com os animais e humanos.

O mesmo circuito neuronal que o leva a perguntar se o seu cão está aborrecido, também se ativa quando tenta perceber como se sente um colega, dizem os autores do estudo.

Falar em voz alta com o nosso animal também nos ajuda na regulação emocional em situações de stress. Segundo salienta a Universidade Johns Hopkins, o simples gesto de acariciar um cão também pode reduzir os níveis de cortisol e aumentar a ocitocina.

Quem tem o hábito de desabafar com os seus animais pratica involuntariamente um ciclo neurológico de relaxamento, que se traduz em recuperações mais rápidas de conflitos laborais e menos noites de insónias.

Antropomorfizar exige flexibilidade, o que fortalece o nosso pensamento criativo e imaginativo, na prática, é como se estivesse a escrever pequenas cenas de ficção.

Além disso, as pessoas que mantêm esse espaço mental aberto tendem a ter melhor desempenho em tarefas de pensamento divergente, a encontrar soluções novas com mais facilidade no trabalho, e a apresentar aquilo a que os teóricos chamam um “roteiro de base segura”: assumem que o seu companheiro está disponível, é responsivo e merece ser cuidado.

Importa notar que a força emocional aqui não é apenas a gentileza, mas também a consistência: o ritual diário de cumprimentar o gato ao chegar a casa treina o sistema nervoso para estar menos sujeito a ciclos viciosos e negativos.

Se prestarmos atenção, vai ser possível reparar que as palavras que escolhemos para falar com os animais são gentis, tolerantes e até brincalhonas —  exatamente o tom que muitos temos dificuldade em aplicar a nós próprios.

Uma investigação de 2023 sobre auto-compaixão sugere que imitar a forma como falamos com os nossos animais pode também suavizar a autocrítica e aumentar a aceitação pessoal.

Além disso, também ajuda o dono a ter uma maior resiliência contra a solidão, contudo, ter um animal de estimação não é uma cura mágica para a solidão crónica.

Não é simplesmente a posse do cão que importa, mas sim os comportamentos sociais que essa posse desencadeia, e a forma como agimos — de cumprimentar outros donos e partilhar histórias engraçadas sobre o seu animal de estimação.

José Costa, ZAP //

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