ZAP // Rawpixel; Dall-E-2

A promessa de viver para sempre tornou-se, nos últimos anos, a tendência de bem-estar e marketing. Mas enganar a morte (ou, pelo menos, adiá-la) terá um preço…
O que antes era domínio da ciência (e, no limite, dos super-ricos) está a tornar-se, cada vez mais, um produto de consumo.
Os que promovem esta ideia, liderados pelo movimento “Don’t Die” (Não Morras) do bilionário da tecnologia Bryan Johnson, acreditam que a morte não é inevitável, mas sim um problema com solução.
Segundo Amy Errmann, o mercado global da longevidade (que abrange terapias genéticas, medicamentos anti-envelhecimento, diagnósticos e planos de bem-estar) deverá atingir 610 mil milhões de dólares este ano.
Num artigo no The Conversation, a professora de Marketing da Universidade de Auckland (Nova Zelândia) explica que o marketing destes produtos alimenta-se do medo ancestral da mortalidade e do desejo de ficar jovem para sempre.
A especialista vai mais longe e afirma que a promessa de adiar a morte se tornou uma mina de ouro do marketing.
A imortalidade está a ser vendida como algo exclusivo, aspiracional e simbólico. Não se trata apenas de viver mais tempo – trata-se de sinalizar estatuto, controlar a biologia e tornar-se na sua “melhor versão futura”.
A explorar medos antigos
O que é conhecido como “teoria da gestão do terror” defende a ideia de que os humanos e outros animais têm um impulso instintivo de autopreservação. Mas os humanos não são apenas autoconscientes – também conseguem antecipar resultados futuros – incluindo a inevitabilidade da morte.
A mensagem por detrás do impulso para prolongar a vida aproveita esta tensão interna entre o conhecimento da nossa própria mortalidade e o instinto de autopreservação. Mas não é um fenómeno novo.
A criónica – a preservação de corpos e cérebros a temperaturas extremamente baixas com a esperança de que os avanços médicos permitam a sua reanimação em algum momento no futuro – foi popularizada pela primeira vez no livro de Robert Ettinger de 1962, The Prospect of Immortality.
Desde então, os super-ricos têm investido em várias empresas que prometem preservar os seus corpos para uma data futura desconhecida. Atualmente, custa 200.000 dólares congelar o corpo, ou 80.000 apenas o cérebro.
O que é verdadeiramente novo é a forma como agora a morte está a ser comercializada – não como destino, mas como falha. A longevidade não se resume a viver mais tempo; trata-se de transformar a mortalidade num problema de design – algo a adiar, gerir e eventualmente resolver.
Os “CEOS” da própria saúde
O “biohacking” vende a ideia de que, com os dados, ferramentas e disciplina certos, pode-se melhorar a própria biologia – e tornar-se na sua melhor versão, “à prova de futuro”.
As marcas por detrás do movimento de viver para sempre vendem controlo, otimização e uma identidade de elite. O envelhecimento torna-se um fracasso pessoal. “Anti-envelhecimento é autodisciplina”.
Os consumidores são retratados como “CEO da sua própria saúde” – a monitorizar o sono, a corrigir o intestino e a tomar suplementos.
Do biohacking ao branding
Existem atualmente mais de 700 empresas a trabalhar no mercado da longevidade. Startups como a Elysium Health e a Human Longevity Inc. oferecem testes de ADN, suplementos e planos de saúde personalizados.
Estes não são tratamentos médicos – são vendidos como ferramentas para envelhecer de forma “mais inteligente” ou “mais lenta”, e são promovidos com a linguagem do controlo sobre aquilo que outrora poderia parecer incontrolável.
Bryan Johnson, do “Don’t Die”, gasta mais de 2 milhões de dólares por ano na sua experiência pessoal de anti-envelhecimento.
Mas o verdadeiro argumento é dirigido aos consumidores: comprar de volta o tempo, uma subscrição premium de cada vez. A empresa de Johnson, Blueprint, oferece diagnósticos, suplementos e rotinas de exercício agrupadas em planos mensais que começam nos 333 dólares e ultrapassam os 1.600 dólares.
Os produtos de longevidade prometem mais do que saúde. Prometem tempo, controlo e até imortalidade. Mas a busca por viver para sempre – ou pelo menos muito mais tempo – levanta questões morais e éticas sobre quem beneficia, e que tipo de mundo está a ser criado.
Sem supervisão cuidadosa, estas tecnologias correm o risco de se tornarem ferramentas de exclusão, não de progresso. “Porque se o tempo se tornar num produto, nem todos poderão passar pelo mesmo balcão de pagamento”, conclui Amy Errmann.
ZAP // The Conversation