Primo de Plutão? Possível planeta anão descoberto na orla do Sistema Solar

NASA Science

O hipotético Planeta X

O 2017 OF201 está no limite do nosso Sistema Solar. É potencialmente grande o suficiente para ser classificado como um planeta anão.

Uma equipa de investigadores liderada por Sihao Cheng, da Escola de Ciências Naturais do IAS (Institute for Advanced Study), descobriu um extraordinário objeto trans-Neptuniano (OTN) denominado 2017 OF201, no limite do nosso Sistema Solar.

O OTN é potencialmente grande o suficiente para ser classificado como um planeta anão, a mesma categoria que o muito mais conhecido Plutão.

O novo objeto é um dos objetos visíveis mais distantes do nosso Sistema Solar e, significativamente, sugere que a secção vazia do espaço que se pensa existir para lá de Neptuno, na Cintura de Kuiper, não está, de facto, vazia.

Cheng fez a descoberta juntamente com os colegas Jiaxuan Li e Eritas Yang da Universidade de Princeton, utilizando métodos computacionais avançados para identificar a trajetória do objeto no céu.

O novo objeto foi oficialmente anunciado pelo Centro de Planetas Menores da União Astronómica Internacional no passado dia 21 de maio de 2025, e num artigo científico ainda em pré-impressão partilhado dia 22 de maio no site arXiv.

Os objetos trans-Neptunianos são planetas menores que orbitam o Sol a uma distância média superior à da órbita de Neptuno. O novo OTN é especial por duas razões: a sua órbita extrema e o seu grande tamanho.

NASA/JPL-Caltech; Sihao Cheng et al.

Os cinco planetas anões reconhecidos pela União Astronómica Internacional, juntamente com o recém-descoberto objeto trans-Neptuniano 2017 OF201.

“O afélio do objeto – o ponto mais distante da órbita em torno do Sol – é mais de 1600 vezes superior ao da órbita da Terra“, explica Cheng. “Entretanto, o seu periélio – o ponto da sua órbita mais próximo do Sol – é 44,5 vezes superior à órbita da Terra, semelhante à órbita de Plutão”.

Esta órbita extrema, que leva cerca de 25.000 anos a completar, sugere uma história complexa de interações gravitacionais. “Deve ter tido encontros próximos com um planeta gigante, fazendo com que fosse ejetado para uma órbita larga”, diz Yang. “Pode ter havido mais do que um passo na sua migração. É possível que este objeto tenha sido primeiro ejetado para a nuvem de Oort, a região mais distante do nosso Sistema Solar, onde se encontram muitos cometas, e depois enviado de volta”, acrescenta Cheng.

“Muitos OTNs extremos têm órbitas que parecem agrupar-se em orientações específicas, mas 2017 OF201 desvia-se disto”, diz Li. Este agrupamento tem sido interpretado como uma evidência indireta da existência de outro planeta no Sistema Solar, o Planeta X ou o Planeta Nove, que poderia estar a “pastorear” gravitacionalmente estes objetos para os seus padrões observados. A existência de 2017 OF201 como um objeto atípico de tal agrupamento pode, potencialmente, desafiar esta hipótese.

Cheng e os seus colegas estimam o diâmetro de 2017 OF201 em 700 km, o que o tornaria o segundo maior objeto conhecido numa órbita tão larga. O diâmetro de Plutão, por sua vez, é de 2377 km. São necessárias mais observações, potencialmente usando radiotelescópios, para determinar o tamanho exato do objeto.

Cheng descobriu o objeto como parte de um projeto de investigação em curso para identificar OTNs e possíveis novos planetas no Sistema Solar exterior. O objeto foi identificado através da observação de pontos brilhantes numa base de dados de imagens astronómicas do Telescópio Victor M. Blanco e do CFHT (Canada–France–Hawaii Telescope), e tentando ligar todos os grupos possíveis desses pontos que pareciam mover-se no céu da mesma forma que um único OTN. Esta busca foi efetuada utilizando um algoritmo computacionalmente eficiente produzido por Cheng. Em última análise, identificaram 2017 OF201 em 19 exposições diferentes, captadas ao longo de 7 anos.

A descoberta tem implicações significativas para a nossa compreensão do Sistema Solar exterior. A área para além da Cintura de Kuiper, onde se encontra o objeto, foi anteriormente considerada como estando essencialmente vazia, mas a descoberta da equipa sugere que não é bem assim.

“2017 OF201 passa apenas 1% do seu tempo orbital suficientemente perto de nós para ser detetável. A presença deste único objeto sugere que poderá haver mais uma centena de outros objetos com órbita e tamanho semelhantes; estão apenas demasiado longe para serem detetáveis agora”, afirma Cheng. “Embora os avanços nos telescópios nos tenham permitido explorar partes distantes do Universo, ainda há muito a descobrir sobre o nosso próprio Sistema Solar”.

A deteção também demonstra o poder da ciência aberta. “Todos os dados que utilizámos para identificar e caracterizar este objeto são dados de arquivo que estão disponíveis para qualquer pessoa, não apenas para os astrónomos profissionais”, afirma Li. “Isto significa que as descobertas inovadoras não estão limitadas àqueles que têm acesso aos maiores telescópios do mundo. Qualquer investigador, estudante ou mesmo cientista cidadão com as ferramentas e conhecimentos adequados poderia ter feito esta descoberta, realçando o valor da partilha de recursos científicos”.

// CCVAlg

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