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Uma investigação revela que o VHS-1 pode ter um papel chave no desenvolvimento da doença de Alzheimer — e por isso a prevenção deve ser uma prioridade.
Segundo o El Confidencial, cerca de 3.800 milhões de pessoas, com menos de 50 anos, em todo o mundo estão infetadas com o vírus do herpes simples tipo 1, também conhecido como VHS-1.
Este é o principal causador do herpes labial, cujos sintomas mais comuns incluem bolhas ou feridas na boca e nos lábios.
Um novo estudo norte-americano, publicado na revista BMJ, revela que o VHS-1 pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento da doença de Alzheimer. No entanto, o tratamento com terapias antivirais parece estar associado a um menor risco deste tipo de demência — ou seja, o medicamento usado para aliviar os sintomas do herpes labial pode ter um efeito protetor.
Para esclarecer o possível papel do vírus na doença de Alzheimer e os efeitos protetores dos medicamentos anti-herpéticos, os investigadores analisaram dados de registos administrativos nos Estados Unidos, entre 2006 e 2021.
“Esta é a primeira publicação a utilizar um grande número de registos para analisar a relação entre o VHS-1 e o Alzheimer”, explica Yunhao Liu, autor principal do estudo, que trabalha para a empresa de biotecnologia Gilead Sciences.
Liu comenta que não é a primeira vez que se interessam por esta relação: “Estudos na Suécia, França e Taiwan já relataram associações semelhantes entre os vírus do herpes e o Alzheimer.”
Para realizar o estudo, os investigadores emparelharam pessoas diagnosticadas com a doença neurológica com outras sem historial de Alzheimer, tendo em conta idade, sexo, região geográfica, ano de entrada na base de dados e número de visitas ao médico.
O resultado foi um total de 344.628 pares. Quase dois terços (65%) dos doentes eram mulheres, com uma idade média de 73 anos, e apresentavam mais condições de saúde associadas, ou seja, fatores de risco.
No total, 1.507 pessoas com Alzheimer (cerca de 0,44%) tinham sido diagnosticadas com o vírus do herpes, comparativamente com 823 (menos de 0,25%) do grupo de controlo. O risco de desenvolver Alzheimer aumentava com a idade. No entanto, de forma geral, a probabilidade de diagnóstico com VHS-1 era 80% superior entre os doentes com a patologia neurodegenerativa.
Das 2.330 pessoas com histórico de infeção por VHS-1, 931 (40%) usaram medicamentos anti-herpéticos após o diagnóstico, e tiveram 17% menos probabilidade de desenvolver Alzheimer do que os que não usaram esses tratamentos.
Os investigadores também analisaram o possível papel de outros vírus do herpes, como o VHS-2, o vírus da varicela-zóster e o citomegalovírus, tendo todos sido associados a um maior risco de desenvolver a doença. “Não está claro exatamente como o VHS-1 e outros vírus neurotrópicos podem aumentar o risco de demência”, indica o estudo.
Contudo, os investigadores explicam que os peptídeos Aβ são depositados em resposta à infeção por VHS, protegendo as células hospedeiras ao bloquear a fusão do vírus com a membrana plasmática — sugerindo que o VHS pode ser um fator de risco para o Alzheimer.
“De forma consistente, o Aβ apresenta propriedades antimicrobianas contra vários patógenos, incluindo o VHS-1. O ADN do vírus também foi encontrado nas placas características do Alzheimer, e as pessoas portadoras do alelo ApoE ε4 — o fator genético de risco mais comum — são mais suscetíveis à infeção por herpes.”
Este é um estudo observacional, pelo que não se podem tirar conclusões definitivas sobre uma relação de causa e efeito. “Definir a ligação entre vírus neurotrópicos e Alzheimer é um processo multifacetado. As nossas descobertas reforçam a importância de considerar a prevenção dos herpesvírus como uma prioridade de saúde pública. A investigação futura para perceber se a supressão desses vírus pode alterar o curso natural da doença é promissora”, conclui o autor principal.