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David Lornoy e Seppe Lodewijckx
Dois belgas de 19 anos confessaram-se culpados de pirataria de animais selvagens – parte de uma tendência crescente de tráfico de criaturas “menos visíveis” para venda como animais de estimação exóticos.
As operações contra a caça furtiva são um terreno familiar para os agentes do Serviço de Vida Selvagem do Quénia (KWS), uma força armada encarregada de proteger as criaturas icónicas do país.
As operações contra a caça furtiva são território familiar para os agentes do Serviço de Vida Selvagem do Quénia (KWS), uma força policial armada encarregada de proteger as criaturas emblemáticas do país.
Mas o que aguardava os agentes do KWS no início deste mês, durante uma busca a uma casa de hóspedes no oeste do país, era ao mesmo tempo maior e menor na escala do que as operações de contrabando que normalmente encontram, conta o The Guardian.
Havia mais de 5.000 animais contrabandeados, enjaulados nos seus próprios recintos. Cada um destes animais, no entanto, tinha aproximadamente o tamanho de uma unha do dedo mindinho: 18 a 25 mm.
A carga, que dois adolescentes belgas aparentemente pretendiam enviar para mercados de animais exóticos na Europa e na Ásia, era de formigas.
As formigas estavam enjauladas numa mistura de tubos de ensaio e seringas com algodão — ambientes que, segundo as autoridades, manteriam os insetos vivos durante semanas.
“Não viemos aqui para infringir nenhuma lei. Foi por acidente e estupidez que o fizemos”, diz Lornoy David, um dos contrabandistas belgas.
David e Seppe Lodewijckx, ambos com 19 anos, confessaram-se culpados após serem acusados na semana passada de pirataria de vida selvagem, juntamente com outros dois homens, num caso separado, que foram apanhados a contrabandear 400 formigas.
Os casos lançaram uma nova luz sobre o comércio global de formigas — um negócio em expansão, que as autoridades dizem ser uma tendência crescente de tráfico de criaturas “menos visíveis”.
Estes crimes representam “uma mudança nas tendências do tráfico – de grandes mamíferos icónicos para espécies menos conhecidas, mas ecologicamente críticas”, afirma um comunicado da KWS.
Este caso invulgar também chamou a atenção para o mundo nicho da criação e coleção de formigas – um hobby que, segundo um estudo publicado em 2023 na Science Direct, explodiu na última década.
As espécies apreendidas incluem a Messor cephalotes, uma grande formiga vermelha nativa da África Oriental.
As rainhas desta espécie crescem até cerca de 20 a 24 mm, e o site de venda de formigas Ants R Us descreve-as como “a espécie de sonho de muitas pessoas”, vendendo-as a cerca de 120 euro spor colónia.
As formigas são apreciadas pelos colecionadores pelos seus comportamentos únicos e habilidades complexas de construção de colónias, “características que as tornam populares nos círculos de animais de estimação exóticos, onde são mantidas em habitats especializados conhecidos como formicários”, diz o KWS.
Um vendedor online de formigas, que pediu para não ser identificado, diz que o mercado está a prosperar e que tem havido um crescimento nas exposições de formigas, onde os entusiastas se reúnem para comparar detalhes sobre os alojamentos e as espécies.
“O volume de vendas têm crescido quase todos os anos. Há mais vendedores de formigas do que antes e os preços tornaram-se mais competitivos”, diz o vendedor ao The Guardian.
“No mundo de hoje, onde a maioria das pessoas tem uma vida acelerada e impulsionada pela tecnologia, muitas estão desligadas de si mesmas e do seu ambiente”, afirma o vendedor de formigas. “Observar formigas num formicário pode ser surpreendentemente terapêutico“.
Os cientistas têm manifestado preocupação de que o comércio crescente de formigas exóticas possa representar um risco significativo para a biodiversidade.
“As formigas são comercializadas como animais de estimação em todo o mundo, mas se introduzidas fora dos seus habitats nativos, poderiam tornar-se invasoras, com consequências ambientais e económicas terríveis”, concluem os autores do estudo de 2023, que rastreou o comércio de formigas na China
“As formigas mais procuradas têm maior potencial invasivo“, notam os investigadores.
A exportação ilegal “não só prejudica os direitos soberanos do Quénia sobre a sua biodiversidade, mas também priva as comunidades locais e as instituições de pesquisa de potenciais benefícios ecológicos e económicos”, afirma o KWS.
Segundo Dino Martins, entomologista e biólogo evolutivo queniano, as formigas ceifeiras estão entre os insetos mais importantes na savana africana, e qualquer comércio destas espécies está destinado a ter consequências negativas para a ecologia das pastagens.
O entomologista diz que está surpreendido por ver que os contrabandistas que alimentam o comércio global de animais de estimação estão a focar a sua atenção no Quénia, uma vez que “as formigas estão entre os insetos mais comuns e difundidos”.
“O comércio de insetos pode, na verdade, ser feito de forma mais sustentável, através da criação controlada dos insetos. Isto pode apoiar os meios de subsistência em comunidades rurais, como o Projeto Kipepeo, que cria borboletas no Quénia”, diz Martins.
Philip Muruthi, vice-presidente de conservação na Fundação Africana de Vida Selvagem em Nairobi, realça por outro lado que as formigas enriquecem os solos, permitindo a germinação e fornecendo alimento para outras espécies.
“Quando se vê uma floresta saudável… não se pensa sobre o que a está a tornar saudável. São as relações desde as bactérias até às formigas e às coisas maiores”, diz ele.