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Em 1975, a tentativa de contra-revolução liderada pelo general Spínola fazia um morto e alguns feridos. Acabou por fracassar, mas o ex-presidente até já tinha discurso pronto. Teve de esperar mais de meio ano, exilado em Espanha, para poder ver desaparecer o PREC.
Foi a 11 de março de 1975 que o primeiro presidente após o 25 de abril, o general António Spínola, tentou repetir a tentativa que fizera em setembro do ano anterior: mitigar o avanço da esquerda depois da revolução dos cravos.
Tudo começou com um aviso vindo de Madrid, comunicado oralmente por oficiais spinolistas: os comunistas portugueses preparavam uma “matança da Páscoa”, e iam matar Spínola e outros contra-revolucionários.
As dissidências que levaram o general à demissão em 1974 do cargo de chefe de Estado passavam, por exemplo, pelas ex-colónias, onde o antigo militar acreditava que devia ser feita uma descolonização lenta, enquanto o Movimento das Forças Armadas (MFA) acreditava numa retirada imediata.
Estes e outros embates ideológicos dividiram o país até ao golpe de 25 de novembro de 1975, que pôr fim ao Processo Revolucionário em Curso (PREC).
Mas foi no dia 11 de março de 1975 que Spínola e os seus acompanhantes foram recebidos na Base Aérea nº3 pelo Coronel Moura dos Santos. É dessa base que partem os aviões que atacam o Regimento de Artilharia de Lisboa, provocando alguns feridos e fazendo um morto. As tropas de Spínola pedem então a rendição do regimento, com um ultimato rejeitado pelo capitão Dinis de Almeida. Assim conta a página AbrilAbril.
É então que os militares da Base Aérea onde Spínola se encontrava decidiram impedir o golpe. Várias dezenas de soldados cercam o edifício de comando, e arrombam os porta-bagagens da comitiva conspiracionista.
Nesses carros, os soldados encontraram elementos que denunciavam o golpe, desde barbas postiças a um discurso já preparado por Spínola, caso a contra-revolução triunfasse.
Depois de um aceso debate entre as duas fações, dois oficiais convencem a multidão a desmobilizar-se. Um deles era nada mais nada menos que o capitão de abril Salgueiro Maia. A intervenção do capitão não caiu bem aos soldados que assistiam ao conflito, e houve quem o acusasse de conluio com Spínola e sugerisse a sua prisão.
Spínola e a sua comitiva acabaram por fugir para Espanha depois do golpe falhado, e foi lá que o primeiro presidente depois dos cravos em Portugal se exilou, e só regressou ao seu país depois do golpe de estado de 25 de novembro desse ano, tendo sido perdoado por Ramalho Eanes e Mário Soares.
Alguns chama-lhe golpe falhado, outros um ensaio para o fim do PREC. Há 50 anos, o 25 de abril ainda estava fresco, mas, na política portuguesa, o clima continuava quente.