Trump e Putin alinhados? A maior vítima pode não ser a Ucrânia

Lusa

À medida em que se delineia uma paz planeada pelos EUA e pela Rússia para a Ucrânia, dúvidas levantam-se sobre um território igualmente ameaçado: o Taiwan.

Donald Trump mudou abruptamente a política dos EUA em relação à Ucrânia: ao lado de Putin, delineia os moldes da paz, que quer para (muito) breve.

O presidente norte-americano já declarou que Kiev “nunca deveria ter começado a guerra”, disse que a Ucrânia “pode vir a ser russa um dia” e chamou “ditador” a Zelenskyy, numa clara aproximação à política externa de Vladimir Putin.

A Rússia era, tal como a China, o “inimigo de estimação” dos EUA. Mas, agora, levantam-se dúvidas sobre a posição em que vai ficar a Ucrânia, que Trump exige que conceda a exploração de terras-raras aos EUA.

Ainda assim, há uma nova e bem possível vítima no horizonte, com a viragem na política externa de Trump: o Taiwan.

EUA podem “puxar o tapete”

Este país asiático enfrenta há décadas a ameaça de invasão da China. Tal com a Rússia faz com a Ucrânia, a China reivindica o território do Taiwan. Os EUA têm, há muito tempo, financiado o país com meios de defesa.

De acordo com a AP, a lei americana obriga os EUA a fornecer a Taiwan hardware e tecnologia suficientes para evitar a invasão, mas mantém uma política de “ambiguidade estratégica” sobre se viria em defesa de Taiwan caso o país fosse invadido.

Peter Hegseth, secretário da Defesa dos EUA, afirmou no início deste mês que, se os norte-americanos retirassem o apoio à Ucrânia, seria para se concentrarem na região Ásia-Pacífico. O Secretário de Estado Marco Rubio também sublinhou a “importância de manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan como um elemento indispensável de segurança e prosperidade para a comunidade internacional”.

Mas, de acordo com os analistas, o jogo pode estar prestes a mudar para a pequena ilha que já pertenceu à China.

O que acontece na Ucrânia, acontece em Taiwan

Ao The New York Times, Russell Hsiao, diretor executivo do Global Taiwan Institute, diz que “Taiwan passou a maior parte dos últimos três anos a defender que o destino das democracias está intimamente ligado e que o que acontece à Ucrânia afeta oTaiwan”.

“Com a mudança aparentemente abrupta na posição dos EUA sobre a guerra na Ucrânia”, disse Hsiao, “isso poderia ter o efeito de fazer com que alguns em Taiwan questionassem se os Estados Unidos poderiam puxar o tapete debaixo deles”.

“A perspetiva de os Estados Unidos tentarem fazer um acordo com a Rússia sobre a Ucrânia, sem realmente dar à Ucrânia um lugar à mesa, reforçará o sentimento de ceticismo americano em Taiwan“, acrescenta Marcin Jerzewski, chefe do escritório de Taiwan do Centro de Valores Europeus para a Política de Segurança.

Uma “abordagem perigosa”

Mas, de acordo com os especialistas, é pouco provável que a China interprete a aparente disponibilidade dos EUA para ceder território ucraniano como uma abertura à invasão de Taiwan.

“É mais provável que a administração dos EUA esteja a tentar, de forma errada, tirar a Ucrânia do caminho, tornando-a um problema europeu, para enfrentar a China a partir de uma posição relativamente mais forte”, explica o analista Euan Graham à AP. “Penso que é uma abordagem perigosa, devido ao terrível precedente que abre. Mas é pouco provável que se repita com a China”.

Carolina Bastos Pereira, ZAP //

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