HANNIBAL HANSCHKE / EPA
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Um cartaz de campanha eleitoral do chanceler alemão Olaf Scholz, desfigurado, em Berlim, Alemanha
Stefan Abreu de Sousa, lusodescendente e militante ativo do Partido Social Democrata (SPD) admite que as campanhas eleitorais na Alemanha são cada vez mais arriscadas, com insultos, agressões físicas e lâminas colocadas atrás de cartazes.
A Alemanha realiza a 23 de fevereiro eleições legislativas antecipadas, na sequência da queda da coligação governamental liderada por Olaf Scholz e composta por SPD, liberais do FDP e Verdes.
Até ao 23, os dias de Stefan Abreu de Sousa vão ser na rua.
Um panfleto, uma caneta e um pato vermelho de borracha vêm geralmente acompanhados de uma explicação sobre as principais ideias do SPD – partido favorito na cidade de Hamburgo.
“Muitas [pessoas] começam a falar connosco quando nos aproximamos, outros vêm ter connosco diretamente, principalmente quando têm alguma coisa a criticar. É pouco normal virem falar connosco para elogiar o nosso trabalho”, comenta o português do SPD, entre risos.
O dia de campanha começou às dez da manhã no centro da cidade, ao lado de uma tenda de apoio à Palestina e a poucas centenas de metros de um local de voto antecipado.
“Temos um local para votação antecipada, ali ao fundo da rua, basta trazer o cartão de identificação. É possível votar para as eleições autárquicas, a 3 de março, e para as federais, a 23 de fevereiro. É para facilitar o processo”, comenta Stefan, enquanto vai apontando para uma grande fila de pessoas em frente a um prefabricado.
“Tem sido assim todos os dias, filas e filas para votar. Ainda bem”, comenta.
Não muito longe, há cartazes vandalizados, alguns no chão, outros com mensagens escritas ou pinturas. Uma constante nesta campanha, admite o lusodescendente nascido em Hamburgo.
Um novo “desporto de risco”
“Há mais cartazes destruídos, mas já tivemos pessoas a ser agredidas enquanto colavam os cartazes ou distribuíam panfletos. Há cartazes destruídos com lâminas atrás para que as pessoas que os querem pendurar outra vez se cortem. O candidato da CDU de Hamburgo já só faz campanha com polícia”, conta.
O SPD “até tem sorte”, diz Stefan, nos últimos 60 anos esteve à frente da câmara 50.
O ainda chanceler Olaf Scholz foi presidente da autarquia, apesar de não ter deixado as melhores recordações na reta final.
Menos sorte têm os conservadores ou os liberais, que, depois de se terem associado à extrema-direita para fazer passar uma moção, são alvo de várias críticas e manifestações.
“Várias centenas de pessoas protestaram aqui hoje”, relata Stefan, adiantando que um dos pontos de campanha do partido liberal FDP teve mesmo de abandonar o local.
“Foram agredidos quando a manifestação passou, muitos a chorar. Foram insultados, ouviram gritos de pessoas a dizer ‘toda a Hamburgo detesta o FDP’. Há políticos que são pagos, mas muitos dos que estão aqui, como eu, estão a fazê-lo voluntariamente. Estarmos aqui 5 ou 6 horas, ao frio, e sermos agredidos, acaba por deixar as pessoas desmotivadas”, confessa.
Stefan, que é membro da assembleia municipal de Hamburg-Mitte, defende que, apesar dos tempos difíceis, é cada vez mais importante fazer política.
“É cada vez mais difícil formar um Governo na Alemanha. Quanto mais partidos entram no parlamento, mais complicado se torna. Na campanha até podemos dizer que o senhor Merz é um perigo, ou que só tem ideias dos anos 90, mas depois não sabemos se teremos de governar com ele daqui a pouco tempo”, revela.
“As pessoas estão muito divididas e a grande prioridade para o próximo Governo é conseguir unir. O tema das migrações tem sido muito fraturante. As pessoas pensam que têm cada vez menos porque os refugiados recebem apoios. Não queremos fronteiras fechadas na Alemanha, mas é preciso resolver os problemas da imigração ilegal, da sensação de insegurança que muitas pessoas sentem”, conta.
Emigrantes portugueses sentem medo
Stefan, que também vai conversando com os pais e outros portugueses, admite que há um medo crescente por parte dos emigrantes.
“As pessoas receiam deixar de ser aceites. Um passo à direita nas questões da migração é um retrocesso nos direitos das mulheres, das pessoas LGTQB, em muitos aspetos. É um perigo enorme”, sublinha.
A música árabe vai-se misturando com o frenesim do final do dia de compras numa das ruas centrais da cidade. Da tenda com velas, roupas de criança e bandeiras da Palestina também se vão ouvindo críticas.
“Falam connosco e criticam o nosso trabalho em relação a Israel e à Palestina. Dizem-nos que somos a favor de Israel, a favor de matar crianças. Nós explicamos o nosso ponto de vista”, realça.
Os patos de borracha voltam para o saco. “Amanhã mais um dia”, diz Stefan, despedindo-se dos outros cinco colegas do SPD.
// Lusa