Há meteoritos escondidos na Antártida. Uma lâmpada, um congelador e um bloco de gelo provam-no

Katherin Joy / Antarctic Search for Meteorites Program

A Antártida é um dos melhores lugares do mundo para procurar meteoritos

Há uma camada oculta de meteoritos de ferro mesmo por baixo das camadas de gelo da Antártida, mas a sua cor escura absorve mais luz solar que os outros meteoritos, o que faz com que o gelo que está por baixo destes “presentes vindos do céu” derreta mais depressa, escondendo-os.

Facto: há muito menos meteoritos de ferro na superfície da Antártida do que se esperava. Agora, uma equipa de investigadores descobriu porquê com a ajuda de três invulgares objetos: uma lâmpada, um congelador e um bloco de gelo.

Antes de mais, é importante explicar que os meteoritos são classificados em três tipos principais: pedregosos, de ferro e de ferro-pedra. Enquanto os meteoritos pedregosos dominam as coleções globais, os meteoritos de ferro são cientificamente mais valiosos, uma vez que fornecem informações sobre a formação do núcleo planetário. No entanto, enquanto os meteoritos de ferro constituem 5,5% dos meteoritos a nível mundial, representam apenas 0,7% dos meteoritos encontrados na Antártida — uma estranha discrepância que intrigou os cientistas.

A equipa da Universidade de Manchester, liderada por Geoffrey Evatt e Katherine Joy, colocou a hipótese de os meteoritos de ferro de cor escura absorverem mais luz solar do que os seus homólogos de pedra mais clara, fazendo com que derretam o gelo por baixo deles e se afundem fora do alcance.

Para testar esta hipótese, a equipa concebeu uma experiência simples mas eficaz, utilizando apenas uma lâmpada, um congelador e um bloco de gelo.

Com a ajuda do especialista em luz solar da Universidade de Manchester, Andrew Smedley, os investigadores realizaram uma experiência num ambiente de congelação controlado. Incorporaram dois meteoritos — um de ferro e outro de pedra — em blocos de gelo sem bolhas de ar, para simular as condições reais dos glaciares.

Ao fazer incidir uma lâmpada sobre as amostras para imitar a luz solar natural, notaram que ambos os meteoritos se afundavam, mas o meteorito de ferro descia quase duas vezes mais depressa do que o de pedra, a um ritmo de 2,4 milímetros por hora, o que mostrou que estas rochas espaciais estão a afundar-se no gelo devido à sua capacidade de absorver mais luz solar em comparação com outros meteoritos.

Os meteoritos sobem normalmente à superfície em áreas onde o fluxo de gelo é obstruído pelo leito rochoso das montanhas. No entanto, se os meteoritos de ferro estiverem a afundar-se mais rapidamente do que o gelo os consegue empurrar para cima, podem estar a acumular-se logo abaixo da superfície, escondidos da vista.

A investigação, que será publicada a 6 de fevereiro no livro “The Meteorite Hunters” de Joshua Howego, foi explicada pelo Live Science, e vem demonstrar que as futuras missões de caça a meteoritos na Antártida podem carecer de novas estratégias, possivelmente com radares de penetração no solo ou outras tecnologias para detetar meteoritos de ferro enterrados.

A equipa de Manchester já tinha publicado na Nature Communications um estudo a sugerir esta hipótese em 2016. “A ideia é que essas rochas nunca chegam à superfície. Estão presas para sempre a 50 ou 100 centímetros debaixo do gelo”, explicou Joy na altura.

Em 2022, uma equipa de investigadores da Universidade de Tecnologia de Delft, nos Países Baixos, decidiu tentar encontrar estes presentes caídos do céu. Decidiram usar Inteligência Artificial (IA) para criarem uma espécie de “mapa do tesouro” que identifica zonas onde há uma maior probabilidade de serem encontrados meteoritos.

Um estudo publicado na Science Advances detalhou o processo. Nele, os cientistas estimam que mais de 300 mil meteoritos estejam escondidos algures na paisagem gelada da Antártida.

Tomás Guimarães, ZAP //

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