Principal entrada de Maputo bloqueada. Polícia começa a disparar

Luísa Nhantumbo/LUSA

Principal entrada em Maputo cortada por manifestantes

Manifestantes bloquearam a N4 por cauda do regresso das portagens. Hora e meia depois, polícia começou a disparar.

Manhã muito agitada na N4, principal via de acesso de entrada e saída de Maputo.

A TRAC, concessionária da estrada N4 – construiu e opera a via rápida com um contrato de 30 anos com o Governo moçambicano -, anunciou na quarta-feira que reinicia hoje a cobrança de portagens naquela via, suspensa nas últimas semanas na sequência dos protestos pós-eleitorais.

A empresa recorda que opera a N4, considerada a melhor estrada moçambicana, “ao abrigo de um acordo de concessão assinado com as agências rodoviárias da África do Sul e de Moçambique”, sendo esta via “uma parte vital do Plano de Desenvolvimento do Corredor de Maputo, impulsionando o crescimento económico regional e a conectividade”, que desde logo assegura a exportação de minérios sul-africanos pelo litoral moçambicano.

O ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane apela o não pagamento de portagens no país, sendo que após a destruição e vandalização de algumas cabines de cobrança, várias cabines foram fechadas, sem receber pagamentos, incluindo na N4. “Na N4 as portagens, pelo tempo de vida que já têm, cumpriram com tempo de rentabilidade face ao investimento efetuado”, refere Venâncio Mondlane.

Na manhã desta quinta-feira, manifestantes cortaram por completo os acessos à portagem de Maputo, com barricadas e veículos pesados atravessados, contestando a retoma de cobrança.

Desde cerca das 09:00 locais (menos duas horas em Lisboa) que dois camiões ficaram abandonados na via no sentido Maputo – Matola, com dezenas de manifestantes em protesto, enquanto no sentido contrário um autocarro articulado também foi abandonado, bloqueando totalmente a circulação.

Perante um forte reforço policial, incluindo um blindado da Unidade de Intervenção Rápida, os manifestantes queimaram pneus.

Face à dificuldade de circulação, incluindo transportes, centenas de pessoas percorrem a o caminho até ao centro da capital, sem qualquer movimento automóvel nas portagens.

Polícia começou a disparar

Uma hora e meia depois, a polícia moçambicana começou a recorrer a vários disparos para reabrir os acessos à portagem.

Cerca das 10h30, após a retirada, pela polícia, dos pesados que bloqueavam o acesso, grupos de jovens concentraram-se junto à portagem, tentando impedir a normalização da circulação, com a polícia a realizar vários disparos para desmobilizar nos minutos seguintes, que reagiam atirando pedras, inclusive às viaturas que acediam ao local.

Após a intervenção da polícia, grupos de jovens tentaram repetir o bloqueio no acesso da Matola a Maputo, impedindo camiões de passar, ações contrariadas pela polícia.

Na última sexta-feira, Venâncio Mondlane sugeriu matar um polícia, por cada manifestante morto: “Cada elemento da população assassinado por um polícia automaticamente paga-se pela mesma moeda”, disse, invocando a “Lei do Talião [do Antigo Testamento]. Dente por dente, olho por olho. Toma lá, dá cá”.

Desde 21 de outubro, quando começou a contestação ao processo em torno das eleições gerais de 9 de outubro, o registo da plataforma eleitoral Decide contabiliza mais de 6oo pessoas baleadas e mais de 300 mortos.

ZAP // Lusa

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