Um investigador cabo-verdiano, que desenvolveu simulações de epidemias em computador, defende num novo estudo que Cabo Verde pode reduzir dramaticamente a incidência de VIH/SIDA, em apenas uma década, se concentrar a luta contra a doença nos grupos de risco das prostitutas e drogados.
João Filipe Monteiro, investigador da Universidade de Évora e pós doutorando da Universidade de Brown, considerou que Cabo Verde pode ter menos de dez casos de SIDA em cada 10 mil pessoas até 2021 se der prioridade a determinados grupos de risco e concentrar as suas intervenções no combate à doença.
Através de uma simulação computacional, denominada Modelo de Agentes Individuais, o pesquisador cabo-verdiano desenvolveu simulações de epidemias que podem modelar comportamentos individuais e interacções para prevenir a propagação de doenças e a eficácia das intervenções.
João Filipe Monteiro, que integra uma equipa de investigadores da Universidade de Brown, recolheu todos os dados sobre a epidemia em Cabo Verde, desde 2002, desenvolveu o modelo matemático que foi equilibrado com dados apurados.
Usando o supercomputador daquela instituição de ensino, Monteiro fez simulações das interacções entre os diferentes grupos de risco – prostitutas, consumidores de droga e a população adulta acima de 15 anos de idade, num universo de 305 mil habitantes do país.
“No final, mostramos que não há necessidade de aumentar as intervenções, mas apenas nos grupos de risco, porque o resultado será tão efectivo e é possível chegar a uma fase em que é possível controlar a epidemia”, ou seja, “fase de eliminação do VIH”, conforme denominam os especialistas em saúde pública.
Para fazer essas previsões, o investigador adoptou um modelo computacional de Brandon Marshall, professor assistente de epidemiologia na Escola de Saúde Pública da Universidade de Brown.
Em todos os cenários de população, a combinação das quatro intervenções determinou a redução de novos casos numa década, dos atuais 23,8% em cada 10 mil pessoas entre os profissionais do sexo que usam drogas para 6,7% em cada 10 mil casos novos.
E, entre os membros da população em geral (que não são usuários de drogas, nem prostitutas), houve uma redução de 5,1 para 1,4 novos casos por cada 10 mil pessoas.
Enquanto isso, focando a abordagem apenas em grupos de risco, reduziu-se os novos casos entre profissionais do sexo que usam drogas para 7,3 por 10.000 e, entre a população em geral, para 3,4 em cada 10 mil pessoas.
No artigo científico, publicado no International Journal of Public Health, em que defende a prioridade para grupos específicos no combate à SIDA em Cabo Verde, João Filipe Monteiro considerou que poderiam ser alcançados progressos, se o modelo matemático desenhado pela equipa de investigadores fosse adoptado e houvesse uma concentração de esforços apenas na maioria das populações em situação de risco.
“É necessário testar antes de implementar uma intervenção, ver qual será a mais efectiva e se terá menos custos, ver se é possível caracterizar só alguns grupos”, defende o cientista, assinalando que, mais tarde, se pode aplicar a intervenção para toda a população, caso a resposta seja efectiva.
O autor principal do estudo combinou diferentes intervenções: uma que pretendia ver o que acontece quando as pessoas têm tratamento pelo uso de drogas, enquanto outra visava ver se aumentou o número de pessoas que vão aos hospitais para fazer o teste.
A terceira intervenção pretendia ver se há mais pessoas infectadas a serem tratadas e, por último, analisou o trabalho que está a ser feito no âmbito da distribuição de preservativos.
ZAP / Lusa