Diplomatas da Índia e do Afeganistão têm reunido e aproximam-se. É um “trunfo diplomático” para os talibãs e uma “grande vitória” da Índia sobre um inimigo de longa data.
Quando o Afeganistão passou a ser governado pelos talibãs em 2021, a Índia sofreu um grande golpe estratégico que a colocou em desvantagem face à China e ao Paquistão, por exemplo, conta a BBC.
Isto porque a China tem ganho influência no Afeganistão (até tem um embaixador no país), que mudou radicalmente desde que o governo talibã foi instituído em Cabul, deixando a Índia de parte.
Mas ultimamente tudo tem mudado. Agora, “no centro da política da Índia está o objetivo de recuperar a sua influência perdida e restabelecer as suas ligações em Cabul”, disse D’Souza, fundador do Instituto Mantraya de Estudos Estratégicos, à DW.
“A Índia tem um legado importante como doador de ajuda humanitária e ao desenvolvimento no Afeganistão, o que se traduziu numa boa vontade do público afegão que Deli não quer perder”,observa, por sua vez, à BBC o especialista Michael Kugelman. E os dois países têm conseguido o que o investigador apelida de um “trunfo diplomático para os talibãs”.
Na semana passada, o principal diplomata indiano, Vikram Misri, encontrou-se com o Ministro dos Negócios Estrangeiros interino dos talibãs, Amir Khan Muttaqi, no Dubai. A reunião parece ter sido frutífera para os dois países.
“Em consonância com a política externa equilibrada e económica do Afeganistão, o Emirado Islâmico pretende reforçar os laços políticos e económicos com a Índia, um importante parceiro regional e económico”, escreve um comunicado dos Negócios Estrangeiros afegãos.
A Índia também deixou um comunicado, onde se escreve que “fornecerá mais apoio material, em primeira instância, ao setor da saúde e à reabilitação dos refugiados. As duas partes também discutiram o reforço da cooperação desportiva no críquete”.
E não é só agora que o “calor natural”, como o descreve o The Indian Express, entre os dois países se faz sentir. A Índia investiu mais de 3 mil milhões de dólares (quase 3 mil milhões de euros) em mais de 500 projetos no Afeganistão, desde estradas, linhas de eletricidade e barragens a hospitais, bolsas de estudo e até um novo edifício para o parlamento.
Ma, afinal, o que ganha a Índia com isto?
Uma grande vantagem é evitar ameaças terroristas, ao ter os talibãs do seu lado, garantindo-lhe proteção. Para além disso, a Índia tem interesse em desenvolver do porto de Chabahar, que melhorará o acesso à Ásia Central através do Afeganistão.
Para além, também, da já referida ameaça chinesa, há ainda outro problema que esta diplomacia pode ajudar a resolver: um inimigo histórico da Índia, o Paquistão.
“O Paquistão vê o Afeganistão como uma geografia para alcançar profundidade estratégica e influência, particularmente após a retirada dos EUA em 2021”, analisa o especialista Ajay Bisaria, que já foi enviado especial indiano no Paquistão.
O Paquistão tem visto, na verdade, as suas relações com o Afeganistão deterioradas, em grande parte devido aos ataques aéreos que os paquistaneses têm empreendido em território afegão contra militantes do Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), um grupo militante que ataca as forças de segurança paquistanesas.
“Embora o Paquistão não seja o único fator que está a impulsionar a intensificação da aproximação da Índia aos talibãs, é verdade que Deli obtém uma grande vitória na sua eterna competição com o Paquistão, ao aproximar-se de um ativo paquistanês crítico de longa data, que agora se virou contra o seu antigo patrono”, diz Kugelman.