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“Três propostas, qual delas a pior. Escravos”: bombeiros e Governo não se entendem

Filipe Amorim / Lusa

Bombeiros sapadores protestam

Sindicato acusa o Governo de falta de transparência e lembra o acordo que foi alcançado com o INEM, e não com os sapadores.

O Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores (SNBS) acusou esta terça-feira o Governo de “falta de transparência” ao ter dividido as estruturas sindicais nas negociações e avançou que esta separação “está criar muita contestação” e “mal-estar”.

Durante uma audição na comissão parlamentar de Poder Local e Coesão Territorial, o presidente do SNBS, Ricardo Cunha, disse que o Governo retomou agora as negociações que tinham sido suspensas no início de dezembro “com a novidade de mesas bipartidárias”, tendo dividido os sindicatos nas reuniões sem explicar esta separação.

“Juntaram quatro sindicatos para negociar com o Governo e os restantes estão a negociar à parte (…) isto está a criar mal-estar entre os bombeiros sapadores porque já tinha acontecido no passado. Agora estamos a caminhar no mesmo sentido, entendemos que a nível democrático não faz muito sentido, pedimos explicações ao Governo mas não foi dada uma explicação plausível”, disse Ricardo Cunha, durante a audição pedida pelo Chega sobre os protestos que os bombeiros sapadores têm realizado, nomeadamente junto à Assembleia da República.

Recordando que o SNBS “é o maior sindicato do setor e que sozinho representa mais bombeiros sapadores do que todos os outros juntos”, o sindicalista considerou que o processo está a ser “pouco democrático, pouco ético e não mostra transparência e não vai fazer bem à negociação, nem à acalmia que se exige que tenha este setor”.

Ricardo Cunha lamentou também que o Governo tenha apresentado propostas diferentes aos sindicatos.

“As negociações não estão a ser transparentes quando se está a negociar com uns sindicatos uma coisa e com outros sindicatos outra coisa. Está a criar muita contestação, porque os bombeiros estão a ver o que aconteceu em outros anos com a divisão dos sindicatos e com este tipo de negociatas porque não há transparência, nem clareza”, precisou.

Ricardo Cunha explicou também que na reunião de segunda-feira o Governo “aproximou-se do mínimo que o sindicato entende ser o aceitável para as tabelas salariais”, existindo neste momento uma diferença de 50 euros.

“O Governo parece que está irredutível em chegar a um entendimento com os bombeiros”, disse.

Em relação ao suplemento de risco, o SNBS exige um subsidio idêntico ao que foi atribuído às forças de segurança.

“O Governo mostra pouca vontade em chegar a esses valores, e se não chegar lá não haverá acordo com o SNBP, mas estou certo que com a divisão que fizeram com os outros sindicatos será mais fácil negociarem um acordo não valorizando os bombeiros sapadores”, frisou.

Ricardo acrescentou: “Fica muito complicado explicar ao país e aos bombeiros por que motivo não se dá um valor idêntico ao que recebem as forças de segurança”.

Leonel Mateus, vice-presidente do mesmo sindicato, lembra o aumento recente de 250 euros aos funcionários do INEM – “e bem, e se calhar até é pouco” – mas apontou: “Não se percebe porque, para os sapadores, não se consegue chegar à valorização”.

O sindicalista contou aos deputados que o Governo apresentou três propostas iniciais: “Qual delas a pior. Sempre que recusávamos uma, apresentavam outra, sempre pior. Sendo que a última propunha 31,5h semanais de trabalho extra sem sermos remunerados. Isso, no nosso entender, é trabalho escravo. Éramos obrigados, não era trabalho voluntário”.

Segundo Ricardo Cunha, o Governo ficou de enviar uma nova proposta aos sindicatos até sexta-feira.

A proposta que está atualmente em cima da mesa de negociações passa por aumentos faseados até 2027. Por exemplo, o Governo propõe que um bombeiro, depois do primeiro ano em período experimental, receba 1.222 euros este ano, 1.175 euros em 2026 e 1.228 euros em 2027. Neste ponto, os sindicatos querem que os aumentos sejam antecipados para 2026.

O Governo aceitou manter as atuais sete categorias na carreira especial – ao contrário das cinco categorias da anterior proposta – e manter as atuais 35 horas semanais de trabalho – ao contrário das 40 horas propostas em dezembro do ano passado.

O Governo propõe também um suplemento único, ao contrário daquilo que tinha proposto na última reunião de 3 de dezembro de 2024. Este suplemento seria de 20% da remuneração base de cada trabalhador com um aumento faseado – 10% em 2025, 5% em 2026 e 5% em 2027.

No início de dezembro, o executivo suspendeu as negociações com os bombeiros sapadores, acusando-os de estarem a fazer pressão ilegítima, com um protesto que incluiu petardos, tochas e fumo junto à sede do Governo.

Os bombeiros sapadores já realizaram três manifestações desde outubro com rebentamento de petardos e lançamento de tochas, além de uma ocupação da escadaria da Assembleia da República.

ZAP // Lusa

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