Rei da Dinamarca muda brasão real do país. Será uma resposta a Donald Trump?

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Comparação entre o antigo brasão (esquerda) e o novo (direita)

O novo emblema da família real dinamarquesa dá mais detalhe ao território da Gronelândia, o que está a ser interpretado como uma mensagem para Donald Trump de que a ilha não está à venda.

Numa decisão que apanhou os historiadores de surpresa, o Rei Frederik X da Dinamarca alterou o brasão real dinamarquês de modo a destacar a Gronelândia e as Ilhas Faroé.

A alteração, que substitui o secular símbolo das três coroas por um urso polar e um carneiro, reflete o empenho do rei em realçar todos territórios da Dinamarca, no meio de tensões geopolíticas causadas e da cobiça de Donald Trump à Gronelândia.

Esta é a primeira alteração significativa do emblema real desde a ascensão de Frederik a 14 de janeiro de 2024, após a abdicação da Rainha Margarida. O novo desenho, revelado oficialmente pela família real, sublinha a importância das regiões autónomas da Dinamarca no reino. As três coroas, um legado da União de Kalmar entre a Dinamarca, a Noruega e a Suécia (1397-1523), foram consideradas “não mais relevantes”, sinalizando uma rutura decisiva com o passado.

A atualização surge numa altura de relações tensas entre a Gronelândia e a Dinamarca. O primeiro-ministro da Gronelândia, Múte Egede, acusou recentemente a Dinamarca de genocídio por causa dos programas de contraceção forçada dos anos 60 e 70. No seu discurso de Ano Novo, Egede reiterou o desejo de independência da Gronelândia, referindo-se aos “grilhões da era colonial“.

Para complicar ainda mais a situação, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tem manifestado publicamente o seu interesse na compra da Gronelândia, tendo até já sugerido recorrer à força para garantir a anexação . O filho de Trump, Donald Trump Jr., também visitou recentemente a ilha, apesar de não se ter reunido com nenhum responsável político.

A remoção das três coroas suscitou reacções mistas. Durante mais de 500 anos, as coroas simbolizaram os laços da Dinamarca com a Suécia e a Noruega no âmbito da União de Kalmar. Dick Harrison, professor de história na Universidade de Lund, na Suécia, descreveu a decisão como “uma sensação”, observando que o símbolo suportou grandes mudanças históricas, incluindo perdas territoriais e a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial, refere o The Guardian.

O novo brasão destaca um urso polar para a Gronelândia e um carneiro para as Ilhas Faroé, assinalando a importância do Ártico para o reino. Sebastian Olden-Jørgensen, historiador da Universidade de Copenhaga, considera que se trata de uma declaração estratégica no contexto dos pedidos de independência da Gronelândia. “A casa real mostra que apoia a política do Estado para preservar a unidade do reino“, disse ao Berlingske.

No seu primeiro discurso de Ano Novo, o Rei Frederik também sublinhou a unidade dos territórios dinamarqueses, afirmando: “Estamos todos unidos e cada um de nós empenhado no reino da Dinamarca… Pertencemos uns aos outros”.

O governo da Gronelândia ainda não comentou a reformulação, mas a mudança já suscitou discussões sobre o legado histórico da Dinamarca e o seu futuro com as suas regiões autónomas.

Adriana Peixoto, ZAP //

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