Pequeno mamífero diminui o cérebro para sobreviver ao frio. Pode dar pistas sobre Alzheimer

O musaranho-comum da Eurásia encolhe os seus órgãos “consumidores de combustível” para sobreviver. Perde até 18% do seu peso. O fenómeno pode estar relacionado com o tratamento de doenças… humanas.

Alguns animais, como os ursos, aumentam a massa corporal para sobreviver ao frio, fazendo crescer a sua camada adiposa. Mas o musaranho-comum da Eurásia (Sorex araneus), faz exatamente o contrário — com o mesmo objetivo.

Este pequeno mamífero reduz a dimensão dos seus órgãos que mais consomem “cumbustível”, ou seja, energia, nomeadamente o cérebro, para enfrentar as temperaturas exteriores.

Este astuto truque de sobrevivência chama-se “fenómeno de Dehnel”, em homenagem ao zoólogo polaco August Dehnel, e pode fazer com que o pequeno mamífero de 5 a 12 gramas perca até 18% do seu peso à medida que a temperatura desce — uma redução que inclui mais de um quarto da massa cerebral — apenas para voltar a crescer os tecidos perdidos na primavera seguinte, conta a Science Alert.

Agora, um novo estudo publicado em novembro encontrou uma série de genes responsáveis pelo fenómeno, identificando ligações intrigantes com alterações genéticas em humanos implicadas numa variedade de condições de saúde, incluindo a doença de Alzheimer.

As novas descobertas surgem apenas um ano depois de os mesmos investigadores terem enumerado uma série de alterações metabólicas no fígado, córtex cerebral e hipocampo do musaranho que acompanham o encolhimento sazonal, descobertas que, segundo eles, poderiam ter implicações no tratamento de doenças neurológicas em humanos.

Neste estudo, a equipa procurou compreender melhor a evolução do fenómeno de Dehnel, comparando as expressões dos genes no hipotálamo do musaranho com as de 15 outras espécies de mamíferos de várias ordens diferentes.

“Gerámos um conjunto de dados único, com o qual pudemos comparar o hipotálamo do musaranho entre estações e espécies”, diz biólogo evolucionista americano William Thomas. “Encontrámos um conjunto de genes que mudam ao longo das estações e que estão envolvidos na regulação da homeostase energética, bem como genes que regulam a morte celular, que propomos estarem associados a reduções no tamanho do cérebro”.

Comparando as sequências reguladas com genes semelhantes em diferentes espécies de mamíferos, a equipa identificou cinco genes que considera importantes para a evolução do fenómeno de Dehnel no musaranho.

Estes incluem um gene que recicla as proteínas das membranas, outro que medeia as funções das membranas das sinapses nas células nervosas e um ligado à obesidade e à doença de Alzheimer nos humanos.

A investigação médica em curso está a encontrar cada vez mais sobreposições significativas entre uma quebra no metabolismo e as doenças neurodegenerativas.

Pode, então, este mamífero desconhecido de muitos fornecer mais informações sobre o diagnóstico e tratamento do declínio cognitivo?

ZAP //

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