O misterioso naufrágio do Zuytdorp, navio da Companhia Holandesa das Índias Orientais, foi provavelmente causado por uma tempestade e não por erros de navegação.
Um novo estudo sugere que o navio da Companhia Holandesa das Índias Orientais Zuytdorp encalhou em 1712 na costa da Austrália Ocidental devido a uma tempestade, em vez de erros de navegação.
No decorrer do estudo, recentemente publicado no Journal of Maritime Archaeology, arqueólogos da Flinders University analisaram dados históricos e ambientais, tendo concluído que a tripulação tinha competências suficientes para navegar, mas foi vencida por condições meteorológicas severas.
Os autores do estudo, os arqueólogos Ruud Stelten e Wendy van Duivenvoorde, examinaram registos de bordo, mapas históricos, práticas de navegação e padrões climáticos da época para descobrir as causas do naufrágio.
O Zuytdorp é um dos quatro naufrágios holandeses descobertos ao largo da costa da Austrália Ocidental no último século, sendo o naufrágio do Batavia e os horrores da sua tripulação amotinada o mais famoso desse grupo, recorda o SciTechDaily.
Descoberto em 1927, cerca de 60 km a norte da cidade costeira de Kalbarri, na Austrália Ocidental, e formalmente identificado em 1958, o Zuytdorp partira do porto holandês de Vlissingen rumo a Batavia, hoje Jacarta, quando se perdeu no mar em 1712.
“Desde que o naufrágio do Zuytdorp foi identificado, surgiram muitas teorias sobre como o navio colidiu, incluindo falhas de navegação ou acidentes, mas, apesar de ter sido alvo de várias investigações arqueológicas, as circunstâncias exatas da destruição do navio mantiveram-se pouco claras”, afirma Ruud Stelten.
Navegação e conhecimento cartográfico
Tal como noutros naufrágios ao largo da costa da Austrália Ocidental, uma das principais teorias para o desastre era a dificuldade em determinar a longitude; ou seja, sem saber exatamente quão a leste se encontrava, a tripulação não teria noção da proximidade da costa australiana, que poderia surgir de forma repentina.
Ao analisar o conhecimento cartográfico e de navegação contemporâneo, os autores avaliaram as cartas disponíveis na altura para os oficiais do navio, a visibilidade da costa e os sinais de proximidade de terra registados em diários de bordo da época.
“A nossa análise sugere que os oficiais do Zuytdorp tinham acesso a informação cartográfica suficiente para navegar tanto no oceano Índico como na costa da Austrália Ocidental de forma eficaz”, afirma van Duivenvoorde, conceituada arqueóloga marítima na College of Humanities, Arts and Social Sciences da Flinders.
“A tripulação notou vários sinais de alerta de que o navio se aproximava da costa e tomou diversas medidas para evitar uma colisão, por isso a teoria de que houve um encontro súbito e inesperado com a terra é pouco provável”, acrescenta.
Contudo, os autores identificaram evidências de padrões climáticos severos na região durante o período em questão.
“Este é um elemento-chave para esclarecer o mistério e mostra que o cenário mais provável é que o navio tenha alcançado intencionalmente a costa australiana e tenha sido empurrado para terra por uma tempestade”, diz van Duivenvoorde.
Segundo os autores, esta investigação apresenta, pela primeira vez, uma análise detalhada do motivo pelo qual um cenário é mais provável do que o outro.
“Ao examinar registos históricos, cartas de navegação e condições meteorológicas, conseguimos construir uma visão mais precisa do que provavelmente aconteceu com o Zuytdorp há todos estes anos”, afirma Stelten.
“Este estudo destaca a resiliência e as competências de navegação dos oficiais da VOC. O naufrágio do Zuytdorp não se deveu a falta de perícia ou de informação, mas antes à natureza imprevisível do mar”, acrescenta o investigador.
Os autores afirmam que as conclusões podem indicar onde se encontram as âncoras perdidas do navio e servir como método útil para desvendar o que aconteceu a outros naufrágios em todo o mundo.