A pedofilia é um transtorno. A cura não existe porque é uma “inclinação sexual”. O desejo por menores é eterno. Mas pode ser controlado.
Chama-se “transtorno de pedofilia” por algum motivo: a pedofilia é um transtorno psiquiátrico. E que prejudica outras pessoas.
São fantasias, desejos ou comportamentos sexualmente excitantes, recorrentes e intensos – e envolvem sempre crianças, normalmente até aos 13 anos.
Normalmente, quando está perto de uma criança, um pedófilo sente-se logo diferente; o coração bate de outra forma, até a respiração muda. É um desejo incontrolável.
No entanto, como sublinha o Manual MSD, um pedófilo também pode sentir-se atraído por crianças e por adultos, ao mesmo tempo.
O diagnóstico médico – que não é simples – surge quando a pessoa se sente extremamente angustiada. Ou então quando nem consegue “funcionar” como seria normal no dia-a-dia, por estar atraída por crianças ou por já ter posto em prática os seus desejos.
A pergunta que muitos podem fazer: há cura?
Não: “Não há cura para a pedofilia porque é uma inclinação sexual”, começa por responder o médico Christoph Joseph Ahlers.
Sendo uma inclinação sexual, “o desejo por menores vai permanecer toda a vida“, continua o especialista, no Diário de Notícias.
Não se escolhe as preferências sexuais: “É o destino. Toda e qualquer inclinação sexual surge na puberdade e não se altera no futuro conforme a nossa vontade”.
Mas há tratamento. Pode passar por psicoterapia de longo prazo, ou por medicamentos que alteram o desejo sexual e reduzem os níveis de testosterona.
Danilo Baltieri, psiquiatra que estuda o transtorno de pedofilia há mais de 30 anos, avisa que na grande maioria das vezes, a pedofilia “não é algo absolutamente incontrolável“. Um pedófilo é sempre pedófilo, mas “pode ser controlado”.
O que é essencial no tratamento é conter, ou reduzir, a impulsividade sexual anormal: “Usamos medicamentos para conter, mas isso é só uma parte do tratamento. A outra parte é a terapia em grupo, focada nesse tipo de população. Não é qualquer psicoterapia – é terapia comportamental cognitiva de base e terapia de grupo”, ilustra, no R7.
Há três prioridades no tratamento: reduzir ou anular o risco de reincidência; melhorar a qualidade de vida sexual do indivíduo (mais de metade dos pedófilos são casados); e proporcionar uma socialização mais adequada – muitos dos pedófilos passam muito tempo a procurar crianças, através de mensagens ou de imagens de pornografia.
“A terapia apenas ajuda a saber como controlar as suas tendências sexuais e a prevenir o abuso de crianças”, explica Christoph Ahlers.
Mas é difícil um pedófilo avançar para tratamento: “Um pedófilo procura esconder-se do mundo e dele próprio. Quem nunca reconhecer o seu problema, nunca conseguirá tratar-se, porque é preciso admitirem as suas naturezas pedófilas e depois avançar para a terapia de livre vontade”.
Mas o psiquiatra Baltieri reforça que “não há motivos para não procurar tratamento“. Até porque a probabilidade de piorar aumenta, se não procurar ajuda.